"Se for, vá na paz" diz a placa de entrada da cidade de Bacurau. Fictícia, mas longe de estar fora da realidade brasileira, a cidade é palco para uma série de ações que se afastam totalmente do apelo de paz impresso em suas boas-vindas.
O longa dirigido por Kleber Mendonça e Juliano Dornelles conquistou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes, chamando atenção do mundo apesar de ter perdido a disputa por uma vaga no Oscar para o filme "A Vida Invisível", de Karim Aïnouz.
Na trama, pouco após da morte de dona Carmelita, uma figura conhecida na cidade, os moradores de um pequeno povoado localizado no sertão brasileiro, chamado Bacurau, descobrem que a comunidade não consta mais em qualquer mapa.
Aos poucos, percebem algo estranho na região: enquanto drones passeiam pelos céus, estrangeiros chegam à cidade pela primeira vez.
Domingas, interpretada por Sônia Braga, se torna uma das líderes de um movimento que quer proteger a cidade a todo custo. Ela convoca Lunga (Silvero Pereira), líder os bandidos da cidade para tentar responder aos ataques.
Lutando conta um mal desconhecido e sem rosto, o retrato de Bacurau se assemelha ao das lendas pernambucanas. O terror popular, legitimamente brasileiro, pontua uma trama cheia de suspense e de sustos.
"Isso é fruto da relação que eu e Kleber. Sempre quisemos fazer um filme assim. Eu me sinto muito confortável com o cinema fantástico, usando elementos fora da realidade material", contou Dornelles.
Ao tratar de temas como o colonialismo e o apagamento do país, "Bacurau" consegue fazer estabelecer o vínculo de coletividade dos personagens ligados a sua terra. Na mistura entre a história do Brasil e do próprio nordeste, rodeado de violência, o filme é um retrato de todo o país, mostrando a resistência do povo.
"Bacurau não é apenas um segmento da nossa imaginação, é resultado de algumas observações que fizemos sobre o Brasil e nossa região", afirma o diretor Kleber Mendonça..