As polêmicas em torno da criação de uma nova CPMF ou sobre a revisão do teto de gastos estabelecidos por emenda constitucional encerram uma realidade que não está clara no noticiário da TV e muito menos nas redes sociais de Bolsonaro.
O governo vai parar em 2020, em consequência de uma crise muito mais aguda do que aquela que já enfrentam hoje os ministérios.
Hoje não há dinheiro para investimentos, amanhã não haverá recursos para o simples funcionamento da máquina. Shutdown.
E quais as razões do Shutdown? Recessão, teto de gastos e um orçamento engessado pela visão neoliberal de Paulo Guedes e Cia., que não admitem tocar num ponto crucial da crise fiscal: o aumento exponencial da dívida pública e a reserva de recursos estratosféricos para o pagamento de juros.
No Orçamento de 2020, os serviços e principal da dívida, que já corresponde a quase 80% do PIB, comprometem quase 40% de tudo o que o governo arrecada. Na prática, isso significa que 4 de 10 reais que pagamos de impostos vão para financistas e bancos.
Quando a economia estava em franco crescimento, a dívida não preocupava porque era possível equilibrar seu pagamento com o custeio da máquina e investimentos. Hoje, a dívida compromete as perspectivas de retomada do crescimento do país, associada, de forma cruel, à emenda do teto de gastos.
Com sua retórica ultraneoliberal, Bolsonaro talvez tenha subestimado o drama da economia brasileira e superestimado a capacidade do Posto Ipiranga de superar a crise. Agora, às voltas com a possibilidade de ter um antigoverno em escala múltipla em 2020, atira em todas as direções. Seu filho já cogitou, inclusive, abolir a democracia.
É óbvio que esta agenda não passa pelo desgoverno Bolsonaro, mas Brasil precisa discutir, seriamente, mecanismos para reequilibrar a dívida pública, inclusive renegociação de prazos e serviços.
O que passa, necessariamente, por uma reforma do sistema financeiro. Quem se habilita no deserto de ideias que virou a política brasileira?.