O Ministério Público e as forças de segurança mapearam a atuação de integrantes do CV (Comando Vermelho) na RMVale, área mais violenta de São Paulo, palco de uma guerra entre os criminosos cariocas e o PCC (Primeiro Comando da Capital), conforme revelou OVALE.
A informação foi obtida por OVALE, com base no relato de fontes que atuam no combate ao crime.
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A partir desse mapeamento, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) e a Polícia Militar deflagraram uma operação conjunta na manhã desta quinta-feira (11), dando cumprimento a 27 mandados de busca e apreensão contra integrantes das facções no Vale do Paraíba.
Na RMVale, a ação resultou na prisão em flagrante de quatro suspeitos ligados ao crime organizado, além da apreensão de três armas, entre elas um fuzil, e aproximadamente 10 kg de drogas.
A ofensiva foi realizada em parceria com forças de segurança de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, dando continuidade a uma estratégia inédita de integração entre os três estados para fechar o cerco contra facções que disputam território no eixo da tríplice divisa.
Cerca de 150 policiais da Rota e do Baep participaram da operação, que contou ainda com bloqueios em rodovias estaduais e federais que cortam a região. As ordens judiciais foram expedidas pela Vara Regional de Garantias da 9ª RAJ, em São José dos Campos.
No Vale do Paraíba, cada biqueira virou uma trincheira.
Em uma disputa marcada por mortes e vinganças sucessivas, PCC e CV travam uma guerra pelo controle do tráfico de drogas em uma das regiões mais estratégicas do país e a mais violenta de São Paulo, com sete das dez cidades com maior taxa de homicídios no estado.
OVALE teve acesso à “caixa-preta” dessa guerra, que se concentra principalmente em dois pontos: Vale Histórico, que registra o maior índice de assassinatos por 100 mil habitantes em São Paulo; e o Litoral Norte, onde Ubatuba, Caraguatatuba e São Sebastião estão no 'Top 10' do ranking de homicídios
No Vale Histórico, destacam-se Lorena (1º lugar) e Cruzeiro (2º). No Litoral Norte, Ubatuba é a 3ª cidade mais letal do estado, enquanto Caraguá ocupa a 9ª e São Sebastião a 10ª colocações.
Nesta semana, dois homens foram mortos em Ubatuba. Fontes policiais apontam que os crimes têm relação com o embate entre PCC e CV (ler aqui).
A origem da disputa remonta há aproximadamente uma década. OVALE revelou, em 2018, que criminosos do CV aproveitaram um vácuo deixado pelo PCC, que naquele momento concentrava esforços no tráfico internacional, e passaram a ocupar áreas do Vale e do Litoral Norte.
Lorena, Bananal, Cruzeiro, Ubatuba e Caraguatatuba se tornaram pontos de infiltração do Comando Vermelho, que buscava expandir território vindo do Rio de Janeiro.
Com o avanço do CV, o PCC reagiu. A guerra escalou, resultando em execuções, emboscadas e dezenas de mortes, até um período de apaziguamento — que, segundo fontes ouvidas por OVALE, voltou a ruir nos últimos anos.
“O PCC percebeu o avanço do CV e decidiu retomar o mercado local. A partir daí, começou a troca de ataques. Vários integrantes das duas facções foram mortos”, disse uma fonte envolvida no combate ao crime organizado.
Em entrevista exclusiva a OVALE em abril de 2024, o governador Tarcísio de Freitas reconheceu pela primeira vez a presença de facções do Rio de Janeiro na região e a disputa direta com o PCC. O governador mencionou a infiltração não apenas do CV, mas também do TC (Terceiro Comando) e do ADA (Amigos dos Amigos).
“O Vale é mais violento porque há uma tentativa de invasão de facções do Rio e uma reação da facção que domina São Paulo. Cerca de 80% dos homicídios no Brasil estão ligados à disputa por pontos de tráfico”, afirmou Tarcísio.
Desde 2018, forças de segurança dos três estados mantêm comunicação constante para monitorar movimentações das facções, evitar a migração de criminosos pelas divisas e impedir a expansão das organizações.