Além da beleza do mar há muito que se ver por lá ou apenas olhar e, quem sabe, enxergar?
Por exemplo: vê-lo passar. Mas ele é quem? Almiro. Um senhor de 82 anos. Mas,que faz ele no mar?
Ele está ali na praia e não tem o mesmo objetivo que nós turistas, mas com certeza, conta com nosso olhar que ora estão distraídos ora estão atentos. Ele, com uma sonda vesical, não se aperreia não! Junta sua humildade, sai a trabalhar à beira mar, todos os dias, arrastando os chinelos, tentando prender bem os pés para na areia andar e seu objetivo alcançar.
Usa um chapéu para proteger a cabeça do sol do Nordeste que está a pino, afinal, a caminhada é de longa distância... E com um saco no ombro, cata latinhas para fazer seu ganha pão, quilos de latinhas... Isso, quando tem latinhas para catar... Pois, ainda, não é alta temporada.
E como ele diz: pega em torno de três quilos que lhe rendem dezoito, vinte e um reais, mas um pouco que pode o ajudar. E no cenário do lindo mar Baiano, para além desse mar, alguns apenas entregam as latinhas e, às vezes, só mandam ele pegar e a impressão que passam é de que querem dele se livrar.
Outros tem um olhar com desdém, mas há sempre aqueles que tem empatia, às vezes tem só uma latinha mas, como enxergam o srº Almiro, oferecem-lhe uma refeição ou um pedaço de peixe ou um aipim compartilham com ele algo do que tem ali na mesa.
E essa, talvez, será sua refeição para ter forças para na praia andar, andar... Sem pressa até alcançar um pouco pelo menos, daquilo o que foi buscar. Todos a beira mar: alguns apenas a olhar, outros a ver, outros a enxergar e, especialmente, a sentir e se sensibilizar... Para alguns ele é invisível, para outros, visível. O mar está ali para todos, mas srº Almiro, com o olhar que carrega esperança, passa sua lição viva e de vida.
Infelizes aqueles que não o enxergaram. Sorte daqueles que o ouviram e lhe deram atenção e aprenderam com ele, grande lição...
Lá na beira mar, além da praia, dá sim para enxergar e amar!