A onda de incertezas provocada pelo chamado “tarifaço” anunciado pelo governo dos Estados Unidos, período em que as tarifas de importação foram elevadas para diversos setores estratégicos em meio ao reposicionamento comercial da gestão Trump, teve reflexos imediatos no mercado brasileiro. Em Jundiaí, os efeitos foram sentidos sobretudo em agosto, mês do anúncio da medida, quando exportações locais para o país norte-americano tiveram queda de aproximadamente 22% em relação a agosto de 2024.
Apesar da queda, segundo o diretor de Comércio Exterior do Ciesp Jundiaí, Márcio Ribeiro Julio, a projeção do Ciesp é que 2025 feche com crescimento de exportações aos EUA aproximado de 8% em relação ao ano anterior. “Houve uma corrida para antecipar volumes, mas também cancelamentos de pedidos. Empresas que planejavam antecipar pedidos por causa do tarifaço acabaram não antecipando. Por isso, produtos de Jundiaí, como máquinas, itens plásticos e alimentos processados, registraram queda”, explica o diretor.
O recuo pontual afetou a arrecadação municipal, com queda de ICMS e ISS. Ainda assim, o cenário geral permanece favorável. Em 2024, Jundiaí exportou cerca de R$ 1 bilhão, sendo 25% desse total destinado ao mercado americano. O movimento local, segundo Márcio, repete o padrão observado em outras regiões industriais do país.
Para o diretor, porém, o impacto mais sensível não está exatamente na tarifa, mas no ambiente de instabilidade que antecede sua implementação. Ele prevê um cenário mais estável a partir de dezembro. “A expectativa pelo tarifaço tem gerado um efeito mais nocivo do que a própria medida. As negociações do governo americano mexem com a ansiedade do mercado. Indústrias tentam antecipar movimentos, e isso cria distorções”, afirma.
Márcio destaca ainda que não há, por enquanto, dados que indiquem flutuação significativa no emprego industrial decorrente da mudança tarifária. O comportamento do setor, segundo ele, segue o padrão histórico: uma parada após o anúncio, seguida de ajuste e compensação. “O mercado é analógico. Primeiro reage à expectativa, depois se alinha e se ajusta. O impacto existe, mas não deve ser tão relevante quanto se imaginava”, conclui.