Um vídeo produzido pelo Conselho da Comunidade de Taubaté, projeto ligado à Vara de Execuções Criminais, rebate alegações que estão presentes no livro “Tremembé: O Presídio dos Famosos”, do jornalista e escritor Ulisses Campbell.
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A obra trata da Penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, a P2 de Tremembé, conhecida como “presídio dos famosos” por abrigar detentos conhecidos nacionalmente e até internacionalmente, como o ex-jogador Robinho.
O livro foi lançado neste ano e serve de inspiração para a série de televisão “Tremembé”, do Prime Video, que estreia em 31 de outubro e contou com a presença do escritor na roteirização. Campbell também é autor de livros sobre presos famosos, como “Suzane: Assassina e Manipuladora” e “Elize Matsunaga: A Mulher que Esquartejou o Marido”.
O vídeo produzido pelo Conselho da Comunidade de Taubaté traz depoimentos de Robinho e do empresário Thiago Brennand, ambos condenados por crimes sexuais e que cumprem pena na P2 de Tremembé, além da juíza Sueli Zeraik de Oliveira Armani, corregedora da 1ª Vara de Execuções Criminais de Taubaté, e de dirigentes da penitenciária.
Com imagens captadas dentro da penitenciária e depoimentos dos detentos, o vídeo rebate alegações presentes no livro de Campbell e narra a rotina do local, que serve de referência ao sistema penitenciário.
“Tremembé não é referência por acaso”, diz texto na introdução do vídeo.
Logo em seguida, a juíza Sueli Zeraik desmente que o livro seja baseado em fatos reais. “Olha, como juíza corregedora há mais de 20 anos nas unidades prisionais que são citadas nessa obra, envolvendo pessoas que estão no sistema carcerário ou que já passaram por ele em movimento de pena, eu posso seguramente afirmar que os fatos retratados nesse livro não correspondem à verdade”.
Na sequência, os dois detentos famosos falam sobre a penitenciária.
“Se alguém aparecer como líder de alguma coisa, pode ser que essa pessoa vai ser mandada embora. Inclusive, eu acho que é uma das maneiras mais fáceis de uma pessoa ser mandada embora de Tremembé”, disse Thiago Brennand.
“Aqui é uma unidade prisional em que todos querem vir para cá porque tem trabalho, não tem nenhum tipo de facção criminosa, não tem nenhum tipo de opressão, pelo contrário. Aqui o objetivo é reeducar, ressocializar aqueles que cometeram erro. Não teve e nunca tive nenhum tipo de liderança nem aqui nem em nenhum lugar. Aqui quem mandam são os guardas. Nós, reeducandos, a gente só obedece”, afirmou Robinho.
Segundo Rodolfo Duarte Costa, chefe de Divisão P2 de Tremembé, a unidade prisional tem um perfil diferenciado, porque é uma unidade que recebe presos midiáticos, bem como servidores da justiça, da segurança pública.
“Então, assim, a rotina é igual para todos. Todos são tratados da mesma forma, tanto no trabalho, tanto na parte da educação, tudo que é direcionado para a empresa é direcionado para todos, todos iguais”, disse.
Segundo Brennand, o livro “pinta uma imagem de um lugar macabro, de uma coisa que não tem nada a ver”. “Tremembé, para mim, é ruim, porque é longe de São Paulo, mas é o lugar que me foi recomendado pelas atividades de ressocialização, pelo foco na reeducação”.
Robinho completa: “Com os guardas nunca tive nenhum tipo de problema, nem com nenhum detento, só que não pode ter na unidade, você não pode ter nenhum tipo de discussão e muito menos com o guarda. Todos são tratados da mesma forma, não sou tratado diferente porque fui jogador de futebol, pelo contrário, acho que o tratamento aqui é igual para todos”.
“Nunca teve nenhum tipo de briga, eu tô aqui há um ano e meio, nunca vi nenhum tipo de briga nem no futebol, quando a gente tem algum joguinho ali que alguém joga ou não. E aqui todos são bem assim, educados. Eu nunca tive nenhum tipo de problema com ninguém”, contou o ex-jogador da Seleção Brasileira.
A juíza Sueli disse que Campbell “não chegou sequer a ingressar nas unidades prisionais que ele cita como sendo o palco dos acontecimentos que ele relata” no livro. E também “não entrevistou nenhum dos presos que ele menciona como protagonistas ou como personagens das histórias que ele conta”.
“Até porque, para ingressar numa unidade prisional ou para entrevistar algum sentenciado, é preciso de autorização judicial e administrativa que ele não obteve. Portanto, o que ele escreveu foi uma obra de ficção”, afirmou.
Brennand disse que em Tremembé “é absolutamente impossível um preso se safar com o tratamento privilegiado”. “Você tem o policial penal do pavilhão, permanentemente lá. Você tem as conferências de grades, então os guardas entram diariamente nas celas. Você tem as blitz. É impossível. Eu tô a um ano e pouco aqui, eu nunca vi nada assim, eu acho que nem universidade privada, nem colégio tem menos problema do que aqui”.
Sueli acrescentou que o livro sobre Tremembé utilizou “algumas informações que são verídicas e que foram veiculadas” agregadas a “informações desprovidas de veracidade”.
“Ou seja, a partir de um fato real, foram agregados outros que não correspondem à verdade, que não tem lastro de realidade, como se fosse assim, fatos reais utilizados para dar uma sustentação, um embasamento ou assim, uma tentativa de legitimação daqueles que são frutos da criatividade, enfim, daqueles que não tem lastro de realidade”, disse a magistrada.
Ao comentar o livro, Brennand citou “fake news” e disse que “compromete o trabalho de agentes públicos”. “Nunca fiz nenhuma reclamação de nada, nem aqui nem no CDP, mas uma juíza que está sempre visitando a unidade e faz questão de ir aos pavilhões e conhece a unidade. Segundo todos os meus advogados, é uma pessoa extremamente atuante e proba. Então, eu acho que é um desserviço. Ele não consegue ali fazer bem a ninguém, nem a própria classe jornalística”.
Por fim, Sueli reforça que o livro deve ser encarado como uma obra de ficção. “O que eu penso é que para aqueles que gostam desse tipo de conteúdo, a obra deve ter o seu valor, mas acho também que é importante que saibam, ou seja, todos aqueles que acessem esse tipo de conteúdo, é importante que saibam que se trata de um conteúdo fictício. De relatos desprovidos de qualquer embasamento fático de realidade, ou seja, de uma obra de ficção”.
Sueli é uma das principais incentivadoras do trabalho do Conselho da Comunidade, que atua para aumentar a chance
de reinserção social do preso, além de combater a reincidência. É trabalho de formiguinha, mas que vem dando frutos na região desde 2013.
Previsto em lei, o Conselho da Comunidade é formado por voluntários com disponibilidade de visitar unidades prisionais, fazer mutirões em apoio ao Judiciário e fiscalizar as condições do cárcere, além de propor atividades para os agentes penitenciários.