06 de dezembro de 2025
CRIME ORGANIZADO

'Tropa de elite' do PCC monitora e planeja matar agentes públicos

Por Guilhermo Codazzi | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
Editor-chefe de OVALE
Reprodução
Marcos Willians Herbas Camacho, mais conhecido como Marcola, líder do PCC

A elite do crime.

O PCC (Primeiro Comando da Capital) mantém um "esquadrão de elite" que tem como objetivo espionar, monitorar e matar autoridades e agentes públicos.

É a "Sintonia Restrita", responsável pelo plano para assassinar o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), e também Roberto Medina, responsável por unidades prisionais da região oeste do estado.

Gakiya foi um dos responsáveis por transferir a alta cúpula da maior organização criminosa do Brasil para presídios de segurança máxima, em fevereiro de 2019. Entre os presos estava Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo do PCC, condenado a mais de 300 anos de prisão, e hoje em um presídio federal em Brasília.

O planejamento foi descoberto e, nesta sexta-feira (24), uma operação foi deflagrada para cumprir 25 mandados de busca domiciliar em endereços relacionados aos envolvidos no crime.

Os dois alvos vinham sendo monitorados pelo PCC, inclusive com uso de drones. Segundo o MP, os criminosos já tinham identificado, monitorado e mapeado os hábitos diários de autoridades.

A "Sintonia Restrita", cuja existência foi revelada por OVALE, é uma central de inteligência criada pela facção, como um braço armado estruturado para levantar informações sobre autoridade e agentes públicos (principalmente policiais), com o objetivo de executá-los.

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É o que apontam investigações do MP (Ministério Público) de São Paulo.

Alto escalão do crime.

Criado em Taubaté, em 31 de agosto de 1993, no "Piranhão", o pavilhão anexo da Casa de Custódia, O PCC criou a "Sintonia Restrita" para tratar de assuntos "extremamente sigilosos e relevantes para a cúpula". Essa "tropa de elite" está, hierarquicamente, dentro da estrutura da "Sintonia dos 14", revelada por OVALE em 2018, que é formada por integrantes de extrema confiança por parte do comando, com elevado poder decisório.

Abaixo apenas da cúpula, a "Sintonia dos 14" reúne o alto escalão do PCC e está ligada diretamente à "Sintonia Final".

Os "irmãos" convocados para a "tropa de elite do crime" possuem regalias, recebendo, por exemplo, uma remuneração fixa, moradia e veículo, além de ser poupado de determinadas obrigações inerentes aos membros do "Partido", como o pagamento da mensalidade, o chamado "caixote" ou "cebola", ou as rifas e o "progresso".

Anteriormente, a 'tropa de elite' era chamada de "Quadro dos 36", porém teve o seu tamanho reduzido para 14 durante reestruturação da hierarquia do PCC.

Plano de matar autoridades.

O plano do PCC para assassinar autoridades em São Paulo foi descoberto nesta sexta-feira (24), durante uma operação conjunta do MP e das polícias Civil, Militar e Penal. Entre os alvos do grupo estavam o promotor de Justiça Lincoln Gakiya — conhecido por atuar contra a facção — e o coordenador de presídios Roberto Medina, responsável por unidades prisionais da região oeste paulista.

Batizada de Operação Recon, a ofensiva teve como objetivo frustrar o atentado e reunir provas sobre a estrutura do grupo criminoso. Ao todo, 25 mandados de busca e apreensão foram cumpridos nas cidades de Presidente Prudente (11), Álvares Machado (6), Martinópolis (2), Pirapozinho (2), Presidente Venceslau (2), Presidente Bernardes (1) e Santo Anastácio (1).

De acordo com as investigações conduzidas pela 1ª DIG (Delegacia de Investigações Gerais) da Deic, o PCC havia montado uma célula especializada em monitorar autoridades públicas e seus familiares, com funções bem divididas entre os integrantes e rígido sigilo interno. Os criminosos mapeavam hábitos, rotinas e deslocamentos das vítimas, em um plano descrito pelos investigadores como “meticuloso e audacioso”.

Inteligência.

A ação foi resultado de inteligência integrada entre os setores da Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Penal e o Gaeco do Ministério Público. A articulação permitiu neutralizar o plano antes da fase de execução e identificar suspeitos que já atuavam na coleta de informações sobre as vítimas.

Os materiais apreendidos nas buscas devem ser analisados e poderão revelar outros integrantes da cadeia de comando da facção, ampliando o alcance da investigação nas próximas fases.

Segundo o MP, a operação representa “a união das forças de segurança do Estado de São Paulo contra a ousadia do crime organizado” e reforça o compromisso das instituições com “a defesa da legalidade e da integridade das autoridades públicas”.