Cada biqueira é uma trincheira.
Em uma guerra escrita à sangue e pólvora, o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho) travam uma disputa violenta pelo domínio de territórios e do bilionário mercado de drogas na RMVale, a região mais violenta de São Paulo, que concentra 7 das 10 cidades com a maior taxa de homicídios por 100 mil habitantes de todo o estado.
OVALE abre a "caixa-preta" desta guerra entre as duas mais temidas facções criminosas brasileiras.
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As áreas de maior tensão são o Vale Histórico, o metro quadrado com maior índice de assassinatos em solo paulista, e o Litoral Norte. Não à toa, o ranking dos municípios com a maior taxa de homicídios tem na primeira colocação Lorena, seguida por Cruzeiro, na segunda posição. O Vale Histórico tem ainda Guaratinguetá, na 9ª colocação. No Litoral Norte, por sua vez, Ubatuba é a terceira, enquanto Caraguatatuba é a sétima no 'Top 10'.
A disputa envolve o controle dos pontos de venda de entorpecentes, as chamadas biqueiras, e também o domínio de um corredor importante na logística do crime, já que o Vale do Paraíba localiza-se entre as duas maiores cidades do Brasil (São Paulo e Rio de Janeiro), também os mais lucrativos mercados consumidores para a indústria da droga.
A origem do conflito remonta há uma década e a guerra foi noticiada pelo primeira vez, com exclusividade, por OVALE, 2018.
Criminosos ligados ao Comando Vermelho, aproveitando-se de um vácuo deixado pelo PCC, começaram a se infiltrar em território paulista, com destaque para Lorena, Bananal e Cruzeiro, entre outras cidades, como Ubatuba e Caraguá, as duas próximas ao litoral fluminense, onde o CV mantém forte presença.
À época, de acordo com fontes ouvidas por OVALE, que estão no front de batalha contra o crime organizado, o PCC havia voltado a sua atenção para o tráfico internacional de drogas, diminuindo a atenção ao "varejo", às biqueiras. Então, neste momento, o CV e o PCC, antigos aliados e hoje inimigos, começaram a disputar território no Vale e no Litoral Norte, além do Sul de Minas Gerais.
"O CV percebeu o vácuo deixado pelo PCC, que estava focado no tráfico internacional, e começou a se infiltrar em território paulista. Mas o PCC, ao perceber esse movimento, decidiu voltar, retomar o mercado regional, as biqueiras, e o confronto teve início. Vários 'CVs' foram mortos, gente do PCC também. Depois, houve um apaziguamento, mas voltou [a ter confronto], agora estão brigando", disse a OVALE uma fonte ligada ao enfrentamento do crime organizado.
Em entrevista a OVALE, concedida em abril de 2024, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), reconheceu a existência de conflitos entre facções criminosas do Rio e o PCC na RMVale. Além do CV, o governador citou a presença de outras duas organizações criminosas cariocas: TC (Terceiro Comando) e o ADA (Amigos dos Amigos).
"O estado de São Paulo, em termos de homicídios, é o estado mais seguro do Brasil, tem a menor taxa do Brasil, com 5,6 homicídios por 100 mil habitantes, ou seja, uma taxa menor do que a dos EUA e a menor taxa brasileira. O que não dá para a gente comemorar, porque a gente sabe que isso tem muito a ver como o crime está distribuído ao longo do nosso território. O Vale sofre mais porque sofre a tentativa de invasão de facções criminosas que estão no Rio de Janeiro e estão tentando entrar no território de São Paulo, e aí a gente enxerga a contenção do crime organizado de São Paulo. 80% dos homicídios ocorridos no Brasil estão relacionados a disputas por pontos de tráfico de drogas e é por isso que o Vale é mais violento, porque existe de fato uma disputa entre facções que vem do Rio de Janeiro e a facção que é dominante, hegemônica em São Paulo", afirmou Tarcísio.
Em março de 2018, OVALE revelou que o PCC estava recrutando "soldados" na região, por meio de um mutirão de "batismos". Meses depois, em setembro, o jornal noticiou que o CV e o PCC disputavam o comando do tráfico de drogas em cidades localizadas no Vale Histórico e no Litoral Norte.
Forças de segurança de São Paulo, Minas e Rio mantêm contato frequente e troca de informações constantes, como forma de combater e fechar o cerco às organizações criminosas.