O prefeito de São José dos Campos, Anderson Farias (PSD), disse não estar arrependido de ter vetado a participação da jornalista e escritora e jornalista Milly Lacombe na mesa de abertura da Flim (Festa Litero Musical) deste ano, que começa na sexta-feira (19), no Parque Vicentina Aranha.
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Após o veto, noticiado em primeira mão por OVALE, diversos escritores convidados para o evento desistiram de participar da feira, entre eles Xico Sá, Micheliny Verunschk e Helena Silvestre. Toda a curadoria da Flim também se retirou do trabalho, alegando ter sido “desrespeitada”.
Anderson justificou a decisão de cortar Milly por declarações que ela deu durante o podcast “Louva a Deusa”, no fim de julho deste ano. No episódio, ela faz críticas ao conceito de família tradicional: “Essa família tradicional, branca, conservadora, brasileira é um horror. É a base do fascismo, falemos a verdade, né?”.
“A gente respeita a posição dela, mas é uma posição, vamos falar a verdade, preconceituosa e infeliz quando ela ataca a família tradicional brasileira. Isso é um fato. Dentro de um parque público, espaço público e com dinheiro público, isso eu não vou permitir”, afirmou Anderson a OVALE.
Anderson disse que o veto foi uma “reação de uma ação dela própria”. “Qual foi a ação dela? Publicamente atacar a família brasileira tradicional. Então, eu respeito, mas não posso admitir no espaço público para que tenha esse tipo de situação. Falar que a família tradicional branca conservadora é um núcleo produtor de neurose. Que é fascista. Então, não dá para permitir”.
Questionado se o veto não foi uma censura prévia, em razão de a família não ser o tema da mesa em que participaria Milly – ela falaria sobre “Os outros no Brasil ontem e hoje” --, o prefeito de São José explicou que vetou pelas declarações anteriores da jornalista.
“[Veto] não foi pelo que ela ia falar na mesa A preocupação foi pelo que ela já tinha falado, é só isso. Não é pelo que ela ia falar lá na mesa, porque ela não foi chamada para falar sobre família, O problema é que a fala dela foi infeliz e preconceituosa, e isso gerou uma reação. Essa foi a única questão. Houve uma manifestação”, afirmou Anderson.
“Eu não sofro pressão [de vereador], ninguém me pressiona para fazer nada. Aliás, quem me procurou para falar sobre o assunto, ninguém pediu para substituí-la, apenas me chamou atenção por aquela situação”, completou.
Anderson disse que o veto foi por “uma questão pontual” para evitar protestos durante o evento pela participação da Milly Lacombe. Ele defendeu uma “cultura sem viés”.
“É um evento da cultura, um evento tão tradicional em São José dos Campos voltado para cultura. Posso dizer que o meu governo é o governo que mais investiu na cultura. Agora, eu acredito na cultura e nas pessoas que fazem a cultura sem viés.”
“Eu fui eleito com uma base eleitoral de propostas e com uma base de valores de família, da questão de ser contra droga, contra o aborto, isso é um princípio, mas eu governo para todos. Até para aqueles que são a favor do aborto. Eu governo para todos”, afirmou Anderson.
“Mas do ponto de vista como gestor público, volto a dizer, um espaço público, parque público, com dinheiro público, aí eu não vou permitir esse tipo de situação. Ela atacou a família brasileira. É muito, é um país católico.”
Perguntado sobre a acusação de que censurou a participação da jornalista e da repercussão do caso em veículos de imprensa no país, Anderson disse que faria tudo de novo se tivesse a oportunidade.
“A Folha [de S.Paulo] é a esquerda. Para mim tá tudo certo com a Folha de S.Paulo [que noticiou o caso]. Não tem problema [a reação], se eles querem fazer protesto. Esse é o problema do país. Estamos vivendo um país extremista. Eles podem fazer protesto, né? Se rebelar. O outro lado nunca pode, não é isso? O outro lado não pode pedir para que a pessoa [não venha], até pela sua fala, que foi muito preconceituosa. Isso não pode. Isso é censura. Eles desistirem, saírem e fazer protesto, isso pode. Então assim, a gente tá vivendo um momento muito delicado”, argumentou Anderson.
Que completou: “Eu não vou entrar nessa questão do extremismo, não sou nem de direita, nem de esquerda. Sou prefeito de São José, vou cuidar da cidade e tem minhas questões de valores na qual eu defendo”.
O prefeito de São José disse que o trabalho agora é para que a Flim aconteça na data planejada, de 19 a 21 de setembro, com as substituições dos escritores que estão desistindo. Ele adiantou que pretende conversar com a AFAC (Associação para o Fomento da Arte e da Cultura), que administra o Parque Vicentina Aranha. Ele reforçou que não se arrepende de ter vetado a jornalista.
“Não me arrependo, de forma alguma. Aliás, se for fazer uma consulta, tem muito mais pessoas que estão a favor de que ela não participe, até pela fala dela, do que participe. Não me arrependo de forma alguma. Aliás, já fiz uma vez para alguém que já manifestou, entendeu? Se tiver qualquer outro caso, vou fazer”, afirmou.
“O que tem que ter é o seguinte, primeiro as curadoras deviam ter muito mais cuidado para chamar essas pessoas, para não entrar sempre nesses embates. Eu não quero que faça uma feira para se trazer debate, para se trazer temas que sejam para embates políticos. Não é essa questão”, disse o prefeito.
“É olhar só para a cultura. Quantos artistas nós temos aqui em São José dos Campos? Que poderia falar desse assunto? Quantos escritores nós temos aqui em São José? Que talvez nem sejam convidados, talvez nem vão participar da Flim. Aí é outra questão que isso eu vou tratar com a gestão do parque”, completou, afirmando que “isso não é censura”.