06 de dezembro de 2025
XADREZ POLÍTICO

Com Tarcísio contra Lula, Felicio ganha força na sucessão em SP

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 5 min
Paulo Guereta/Governo do Estado de SP
Felicio em visita à maquete do novo Centro Administrativo do Governo de São Paulo

O xeque no xadrez ocorre quando o rei está sob ataque direto de uma ou mais peças adversárias. O mesmo acontece no tabuleiro da política.

“Rei da direita”, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), já inelegível, agora foi condenado a 27 anos e três meses de prisão pela Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal), na ação da trama golpista.

Com o “xeque-mate” ao rei, outras peças do xadrez político se movimentam na direita pelo espólio do clã Bolsonaro nas urnas. Ou seja, os votos.

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O nome “presidenciável” com desenvoltura cada vez maior no tabuleiro é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que segue de olho na disputa contra Lula (PT) pela Presidência e tenta ser o herdeiro político de Bolsonaro.

Ecoando o movimento nacional, o nome do vice-governador de São Paulo e ex-prefeito de São José dos Campos, Felicio Ramuth (PSD), avançou algumas casas para se tornar o sucessor de Tarcísio na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes em 2026.

Felicio ganha força.

Antes correndo por fora, Felicio vinha ganhando musculatura política e agora se tornou praticamente o "plano A" de Tarcísio para manter o principal estado da Federação sob comando da direita.

De acordo com o jornal O Globo, Tarcísio passou a compartilhar com aliados um novo plano para a sua sucessão caso seja candidato a presidente: filiar Felicio ao seu partido e lançá-lo ao Palácio Bandeirantes com o próprio estando no cargo. Se for candidato ao Planalto, Tarcísio terá que renunciar até o dia 31 de março.

A ideia ganhou força após outros nomes perderem espaço no xadrez político, como o do presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, André do Prado (PL). Tal projeto enfrenta dificuldades em razão de o Republicanos querer uma compensação no estado diante da exigência do PL em filiar Tarcísio para que o "22" esteja na urna na disputa contra Lula.

Em jantar do Grupo Esfera, no fim de agosto, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, garantiu que a ida de Tarcísio para a sigla já está acertada. Ir para o PL significa ganhar apoio de Bolsonaro, o que é imprescindível para Tarcísio conquistar o voto dos apoiadores do ex-presidente, principalmente a ala mais radical.

Se isso acontecer, o Republicanos seria “recompensado” com a candidatura de Felicio pelo partido, desde que o vice-governador concordasse em deixar o PSD, sigla que o abrigou após quase 30 anos no PSDB em São José.

Tal movimento daria força ao Republicanos para barrar três candidaturas a governador que insistem em permanecer no tabuleiro: a do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB); a do presidente do PSD, Gilberto Kassab; e a do secretário de Segurança, Guilherme Derrite (PP).

Os três nomes não agradam a Tarcísio. O governador considera Nunes de difícil entrada no interior, Kassab como ruim de voto e Derrite como mais adequado ao Senado do que para o Executivo.

Projeto.

O projeto de Felicio candidato ao governo paulista pelo Republicanos esbarra no descontentamento de Kassab, que envolveu-se pessoalmente para trazê-lo ao PSD e tornar-se candidato a vice-governador ao lado de Tarcísio.

Ainda segundo análise de O Globo, Tarcísio teria uma peça surpresa para superar esse movimento: tornar Kassab vice de Felicio em 2026 e depois o candidato a governador em 2030.

Procurado pela reportagem, Felicio não comenta o assunto. Mas ele já afirmou que Tarcísio topa ser candidato a presidente se Bolsonaro convocar, o que abre espaço para ele disputar o Palácio dos Bandeirantes como leal escudeiro do governador.

Durante encontro com prefeitos do Vale do Paraíba em 15 de agosto, em Taubaté, Felicio comentou a movimentação no tabuleiro político para 2026.

“O meu sentimento é que missão dada, missão cumprida. Ele [Tarcísio] aceitaria [ser candidato a presidente] desde que Bolsonaro desse essa missão para ele. A partir daí, ele poderia ser um candidato nesta condição específica”, disse Felicio.

Nesse cenário, Tarcísio renunciaria ao cargo de governador e Felicio assumiria o Palácio dos Bandeirantes a partir de abril, tendo 180 dias no cargo até o primeiro turno da eleição, o que pode lhe dar fôlego extra na corrida eleitoral.

Candidato.

Ele desconversa sobre essa possibilidade, embora não negue que possa ser candidato ao governo paulista apoiado por Tarcísio.

“A partir daí, em abril, eu teria que assumir [o governo]. Caso isso se consolide e isso aconteça, é uma das possibilidades. E a partir daí, tudo que a gente sabe é que a gente não tem nada resolvido”, afirmou.

“E no meu ponto de vista, para aqueles que gostam de mim, o melhor movimento que eu tenho a fazer é ficar aqui quietinho e deixar as coisas acontecerem no momento certo”, completou Felicio.

O vice-governador reforçou que o destino político de Tarcísio, e indiretamente o dele próprio, será decidido por Bolsonaro.

“O ex-presidente Bolsonaro tem que tomar a sua decisão. A gente espera e acredita que deve fazê-lo até o final do ano. E quem seria o seu sucessor apoiado pelo Bolsonaro? A partir daí, uma série de outras ações podem acontecer. Uma delas é ele escolher o governador Tarcísio para seguir como um pré-candidato à Presidência. Mas nada está definido ainda.”

Felicio admitiu que Lula, que deve disputar a reeleição, não será um candidato fácil de ser derrotado. “Todos sabem que Lula sabe disputar uma eleição, seja das eleições que ele perdeu ou das eleições que ele ganhou. E nesse momento, obviamente, ele foca na eleição e não na nação. E isso vai fazer com que a disputa fique cada vez mais difícil”.