14 de dezembro de 2025
ENTREVISTA OVALE

Ricardo Salles diz que processo contra Bolsonaro ‘não tem provas’

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 17 min
Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
Deputado federal Ricardo Salles (Novo-SP)

O deputado federal Ricardo Salles (Novo-SP), ex-ministro de Meio Ambiente do governo de Jair Bolsonaro, defendeu o ex-presidente e disse que as acusações que pesam contra ele por tentativa de golpe de estado “não têm provas”.

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O parlamentar ainda acredita que o ex-presidente possa ser absolvido no julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal), que começou nessa semana.

 “Embora sem motivo claro, sem provas e sem algo que justifique, eu acho que ele está numa situação em que o jogo está muito definido contra ele. Claro que se a gente tiver ali uma atenção maior de ministros e tudo sobre o que há nos autos, a possibilidade de absolvição existe”, afirmou Salles, em entrevista exclusiva para OVALE.

Neste sábado (6), ele será a principal liderança do Novo no encontro do Diretório Estadual do partido, que será realizado em Taubaté. Salles é pré-candidato ao Senado por São Paulo, mas a candidatura pode mudar dependendo do resultado do julgamento de Bolsonaro.

Política, eleições 2026, condenação de Bolsonaro, governo Lula, lideranças do Novo no Vale do Paraíba, acusação de crime de contrabando florestal foram alguns dos temas tratados com o deputado federal na entrevista para OVALE. Confira a seguir.

Qual é o objetivo do encontro do Novo em Taubaté?

Nós estamos reposicionando o Partido Novo em todo o estado de São Paulo. O Partido Novo, que nasceu há cerca de 10 anos com um bom ideário liberal na economia, um partido que se posicionou na direita, mas que teve no seu início um traço muito marcante pelo fundador [João Amoedo], que saiu do partido.

Com a saída dele, permitiu que a gente reposicionasse o Novo como partido verdadeiramente de direita, sem o receio de se assumir como um partido de direita, conservador nas questões comportamentais e mantendo, evidentemente, o seu traço liberal na economia.

Com essa redefinição das ideias e do posicionamento, muita gente até então que ficava longe do partido ou que já tinha entrado e tinha saído, voltou e o partido ganhou uma força muito grande.

O partido saiu de 12 diretórios municipais há 2 anos para mais de 200 nesse ano de 2025, e nós pretendemos terminar esse ano com 300 diretórios municipais montados, sempre com gente muito alinhada com os nossos valores. O Vale do Paraíba, em especial, tem um significado muito grande para nós.

O que representa a região para o partido?

Primeiro porque é uma região que nos liga à tradição aqui do estado de São Paulo. Para mim em especial mais ainda, porque a minha família é do Vale do Paraíba. Tanto por parte de pai como de mãe. Nós estivemos agora em Jacareí, onde a minha família foi quem fundou a Santa Casa de Jacareí, que está com 175 anos. Um dos principais prédios da cidade era a casa do meu tetravô, que é o João Gomes Leitão, tem lá o Solar Gomes Leitão. E o outro lado da minha mãe é daquele eixo Lorena, Guaratinguetá, Cruzeiro e Cachoeira Paulista. Então, eu tenho uma especial ligação com a região. O Partido Novo aqui tem muita coisa para expandir.

Ele representa os valores que os brasileiros e os paulistas do interior têm, valores da meritocracia, do respeito à propriedade privada, à família, à legítima defesa, enfim, valores que são conservadores, mas são liberais na economia. E são francamente antiesquerda, portanto, é um grupo de direita.

O Vale do Paraíba tem potencial para novas lideranças do partido, como o prefeito Sérgio Victor, de Taubaté? Vai ter candidato a deputado do partido na região?

Nós estamos trabalhando para ter um candidato a federal e um a estadual, pelo menos um estadual e um federal aqui na região do Vale Paraíba, porque nós entendemos que o Novo precisa ocupar os espaços, para essa direita firme que nós representamos.

O Sérgio foi um uma surpresa muito boa por ter sido eleito como prefeito, porque é uma pessoa que tem experiência como deputado estadual, foi um bom deputado estadual e traz para a prefeitura uma visão moderna de administração, transparente, empreendedora, de eficiência da máquina, que isso tudo é muito relevante. O Vale do Paraíba tem um grande potencial pela sua ligação entre São Paulo e Rio e também das indústrias que estão aqui em volta de São José dos Campos, enfim.

Então, nós precisamos saber explorar esse potencial das melhores formas possíveis. E para isso é preciso ter bons representantes. Então, a ideia nossa é que pelo menos em cinco ou seis cidades do Vale, a gente tenha diretórios muito bem consolidados, como já tem em Cruzeiro, Pinda, São José e Taubaté.

Então, que nós tenhamos, de fato, esse trabalho consolidado, não só para essa eleição de 2026, de deputados, senadores, governador, mas também para as prefeituras em 2028.

Vocês já têm os nomes para se candidatar a deputado estadual e federal aqui no Vale?

Já tem alguns nomes sendo trabalhados, mas como eles ainda não se definiram, se serão federais ou estaduais, eu prefiro não citar os nomes, mas nós vamos ter, com certeza.

E a ambição do Novo no plano nacional? Vai ter candidato a presidente em 2026? O senhor será candidato ao Senado?

Eu fui o quinto deputado mais votado do Brasil, tive 640 mil votos. Já fui ministro, secretário do estado aqui em São Paulo mais de uma vez. Então, eu acho que eu estou pronto, como bom paulista tanto por parte de pai quanto de mãe, eu estou pronto para representar o estado de São Paulo no Senado. Acho que nós estamos mal representados no Senado. Nós só temos um senador que realmente conta, que é o Marcos Pontes, os outros dois não.

Precisamos preencher bem essas três cadeiras. Entretanto, se, por ventura, o governador Tarcísio de Freitas for [candidato] a presidente da República, aí sim eu vou ser candidato a governador. Então, vai depender do Tarcísio.

Se o candidato apoiado por Bolsonaro for o Tarcísio, o Novo vai com ele ou será concorrente?

O Romeu Zema [governador de Minas Gerais] tinha feito um compromisso. Ele foi conversar com o presidente Bolsonaro e teve o apoio do Bolsonaro para se lançar como pré-candidato. Entretanto, o Bolsonaro, ao dar o apoio, recebeu um compromisso do Zema também que se ele Bolsonaro for candidato, o Zema o apoiará, ou seja, na medida em que o Bolsonaro consiga se estabelecer como candidato, o Zema já se comprometeu a apoiá-lo.

Se entretanto isto não acontecer e forem outros os candidatos, dentre eles incluído o próprio Tarcísio, o Zema e o partido vão analisar a hipótese de fazer uma coligação ou de ser vice ou de um apoiar o outro, enfim, ou até eventualmente concorrerem ao mesmo tempo no primeiro turno e se juntarem no segundo turno.

O senhor acha que Bolsonaro será condenado pelo STF por tentativa de golpe de estado?

Embora sem motivo claro, sem provas e sem algo que justifique, eu acho que ele está numa situação em que o jogo está muito definido contra ele. Claro que se a gente tiver ali uma atenção maior de ministros e tudo sobre o que há nos autos, a possibilidade de absolvição existe.

Mas eu acho que o clima político do país e a forma como esse processo andou até agora não indicam que ele teria uma um sucesso positivo.

Bolsonaro fez pelo menos 14 reuniões com comandantes das três Forças Armadas, não todos juntos, mas com os três em ao menos duas oportunidades. Isso tudo após o segundo turno da eleição de 2022, quando ele foi derrotado por Lula. Nessas reuniões, ele tratou da possibilidade de ter alguma mudança no resultado das eleições. O senhor não acha que isso configura uma clara tentativa de mudar o resultado da eleição de forma golpista?

Eu vou dizer que não pelo seguinte. No Brasil, nós ainda temos, estamos caminhando eventualmente para não ter, mas ainda temos a possibilidade de discutir hipóteses. O Brasil inteiro estava discutindo qual é a hipótese de enquadramento do artigo 142 [da Constituição], quando que pode ou não pode convocar estado de sítio ou situação de emergência.

É importante lembrar que a imprensa noticiou que a presidente Dilma na véspera do impeachment também chamou os comandantes das Forças Armadas para aventar possibilidades como, por exemplo, o estado de sítio ou o estado de defesa, e nem por isso se considerou que as reuniões da Dilma eram preparação para um golpe. Bolsonaro, se quisesse dar um golpe, ele tinha todas as condições. Ele era o presidente da República até antes das eleições.

Quando você diz que eles conspiraram para derrubar o governo legitimamente eleito, eles eram o governo legitimamente eleito. Então, ele não estava derrubando o seu próprio governo. Então, eu acho que há uma interpretação muito elástica sobre essa ideia de golpe. Eu acho que sim, discutiram-se remédios institucionais, mas não se implementou nada. E, portanto, discutir não é crime. Você pode discutir 1.000 hipóteses, desde que você não as implemente. E não houve implementação nenhuma.

A lei aprovada durante o governo Bolsonaro prevê punição para a tentativa de golpe. Como disse o procurador-geral da República, Paulo Gonet, o fato de ele ter se reunido com os militares e tratado de possibilidades de alterar o resultado da eleição já é uma tentativa de golpe. Como o senhor vê essa questão?

Eu não acho. Eu acho que é uma interpretação. Eu acho que não há tentativa. A tentativa é se ele, por exemplo, tivesse cercado o Supremo Tribunal Federal com uma tropa e, nesse meio-tempo, a Polícia Federal tivesse defendido o Supremo e abortado o golpe.

Aí sim é uma tentativa, mas você discutiu uma ideia de estado de sítio, de artigo 142 ou quaisquer outras que eles tenham eventualmente discutido, está se discutindo uma ideia. A ideia é essa que não prosperou. Quais medidas preparatórias, quais medidas efetivas foram tomadas? Nenhuma, nenhuma, zero.

Com o Bolsonaro fora da eleição, há quem defenda um dos filhos dele como candidato a presidente, especialmente o deputado federal Eduardo Bolsonaro. O senhor acha que Zema e Tarcísio de Freitas apoiariam um dos filhos do presidente nas eleições majoritárias de 2026, caso algum deles fosse candidato a presidente?

O compromisso do Zema em abrir mão da candidatura é com o presidente Bolsonaro. O compromisso dele não se estende a mais ninguém, nem tampouco o Tarcísio. Entretanto, os outros membros da família do presidente Bolsonaro, eu diria que só tem dois que seriam minimamente viáveis como candidato.

A Michelle, que está praticamente eleita senadora pelo Distrito Federal, então não creio que ela abriria a mão de uma vaga já praticamente garantida de senadora para tentar ser presidente da República, e não vejo um movimento nem sequer do próprio presidente Bolsonaro em colocá-la nessa condição.

E o Eduardo, por outro lado, que é dos filhos do Bolsonaro aquele mais preparado ideologicamente, mais aguerrido politicamente e tudo. O Eduardo, por força da saída dele para os Estados Unidos, talvez tenha inviabilizado completamente qualquer chance dele ser candidato. Então, é preciso aguardar um pouco para ver como os fatos se desenrolam, mas acho que a saída dele para os Estados Unidos realmente torna a candidatura dele, seja presidente ou Senado ou qualquer outra coisa, muito difícil.

Qual a opinião das sanções aplicadas pelo presidente americano Donald Trump ao Brasil, depois da gestão de Eduardo Bolsonaro nos EUA, o que dividiu parte da direita?

Nós não podemos, como brasileiros que somos, defender tarifa contra o mercado brasileiro, que o Eduardo tampouco defendeu. O que ele acabou tendo foi uma atitude política de demonstrar, que ele mostrou ao presidente Trump, as dificuldades que o Brasil enfrenta do ponto de vista de processo democrático e tudo mais. O alinhamento do Lula com os países do eixo do mal, a tentativa do Lula em desqualificar o dólar, usar os Brics para confrontar e para hostilizar os Estados Unidos.

Eu acho que o Eduardo teve um papel importante em mostrar essas fragilidades do Lula e da esquerda aqui no Brasil. Mas acho que ele teve menos relevância, quero crer, nessa questão do tarifaço do que parece que teve. Então, eu acho que ele não deveria ter abraçado uma paternidade de uma ideia que não me parece que tenha sido dele realmente.

Acho que o governo americano ficou muito contrariado com o Lula e com a postura da esquerda brasileira em confrontar os Estados Unidos, em se alinhar com Rússia, com Irã, com China, com Venezuela, com Cuba, quer dizer, com tudo de ruim que tem no planeta, o Lula conseguiu alinhar o Brasil.

 

O senhor é deputado federal por São Paulo. Qual sua avaliação do governo Tarcísio?

Tarcísio é um bom administrador, não é uma pessoa ideologicamente muito alinhada com as questões da direita, obviamente também não é de esquerda. Ele é mais um técnico do que um ideológico. Acho que algumas áreas vão bem, pelo visto administrativo financeiro, algumas áreas não tão bem, sobretudo a segurança pública no estado está muito ruim. Mas, enfim, a gente também dá um desconto, ele não é paulista e veio atender um chamado do presidente Bolsonaro para administrar o estado de São Paulo. Mas, de fato, há coisas que governo vai bem e outras como a segurança pública não vai tão bem.

O Novo é da base de apoio ao Tarcísio na Assembleia Legislativa de São Paulo?

Sim, o Novo apoia as coisas. Como também somos no governo federal, o Novo só apoia as coisas certas e as coisas que concordam. Não existe adesão automática. Então, as coisas boas do governo Tarcísio, todas serão apoiadas. As que eventualmente houver divergência, não há um compromisso obrigatório de apoiar.

O que o senhor pensa sobre o projeto de anistiar os que participaram do 8 de janeiro que está sendo planejado por congressistas da oposição? O sr. defende a anistia a todos, incluindo o ex-presidente Bolsonaro?

Eu acho que a anistia é uma medida de justiça. Primeiro, com relação aos presos do 8 de janeiro. É evidente que eles não estavam lá promovendo um golpe. Não existe golpe no final de semana com um prédio vazio, sem uma arma de fogo, sem apoio de forças armadas nem nada disso.

Aquilo foi uma balbúrdia, depredação de prédio público e como tal tem que ser tratado. Até porque o MST e vários outros grupos cansaram de invadir prédio público e depredar e nenhum deles foi preso como terrorista.

Então, acho que as penas aplicadas aos presos do 8 de janeiro são completamente desproporcionais e com relação a esses processos tinham que ser completamente reenquadrados para ficar circunscritos à depredação e invasão de prédio público, que têm outro tipo de pena, outro tipo de tratamento.

Com relação à história do golpe, eu diria o seguinte: como não há uma comprovação na minha opinião de que houve uma conspiração para golpe e tudo mais, também poderia ser objeto de anistia esses atos com o compromisso, evidentemente, com o compromisso de que houvesse uma clara demonstração de renúncia a qualquer tese conspiratória ou coisa do gênero. Mas até para você pacificar o Brasil. Veja o que aconteceu em 1979.

Quando a esquerda, parte dela, inclusive, que lutou, fez parte da luta armada, matou gente, sequestrou gente, explodiu bomba, roubou banco. Ou seja, fizeram crimes muito mais graves do que conspirar para um golpe. Eles queriam derrubar o regime militar para instaurar aqui um regime comunista e para isso mataram gente, sequestraram gente, crimes de sangue, os mais horrorosos. E mesmo assim foram anistiados.

Então, por que crimes de sangue praticados pela esquerda puderam ser anistiados e uma dita conspiração para golpe não pode ser anistiada?

O senhor crê que haverá consenso no Congresso sobre um projeto de anistia?

Eu acho que tem que avançar. Essas coisas, essas coisas na política, evidentemente, comportam e demandam negociação, mas já está mais do que na hora. Foi um compromisso dos dois presidentes, tanto do Senado quanto da Câmara, de que eles colocariam essas coisas para votar, a anistia. E eles estão até agora descumprindo esse compromisso.

Como o senhor avalia o governo Lula?

O Lula foi tirado da cadeia com o apoio da imprensa, de parte da imprensa, do judiciário, de setores da cultura e vários outros, para ganhar do Bolsonaro. Para isso, o processo eleitoral foi bastante injusto, foi bastante parcial e mesmo assim o Lula ganhou com uma margem bem pequena de votos.

Começa o governo Lula e o que a gente vê, um inchaço da máquina pública, um aumento descomunal das despesas, um desequilíbrio econômico brutal e que está causando no país juros de 15% ao ano, dólar a 6 e pouco, um déficit orçamentário gigantesco e que vai fazer explodir as contas públicas.

Por outro lado, o Lula levou para o governo o que há de mais incompetente do ponto de vista de autoridades públicas, gente sem qualificação para os cargos que ocupam e gente envolvida em corrupção. Nós estamos vendo aí o assalto aos velhinhos no escândalo do INSS, assim como todas as estatais que foram entregues no azul pelo governo Bolsonaro, estão todas no vermelho. Correios está praticamente falido, por exemplo. Isso é uma mistura de incompetência, corrupção, mais má administração e ineficiência.

Então, o PT é isso, o Lula é o padrinho disso tudo. Então, não poderia ser pior para o Brasil esse retrocesso que o governo Lula está trazendo. Nós vamos demorar 20 anos para corrigir tudo isso que eles estão fazendo.

Algumas pessoas dizem que há uma ditadura no judiciário no Brasil. O senhor concorda?

 Acho que é muito forte. Eu acho que é preciso distinguir a palavra Judiciário, que abarca todo o Judiciário brasileiro, desde o Supremo Tribunal ao juiz de primeira instância, e aí nesse aspecto eu acho que não há uma ditadura judiciária.

Nós temos um judiciário brasileiro de maneira geral composto majoritariamente por bons juízes. Ocorre que o Supremo Tribunal Federal em especial, inclusive em razão do modelo de indicação de ministros e tudo, acabou se politizando muito e claramente hoje você tem um Supremo Tribunal Federal que escolheu um lado na política brasileira. Ou seja, escolheu um lado majoritariamente contra a direita e a favor da esquerda.

E isso não é bom para o sistema judicial. O primeiro item relativo ao Judiciário é a imparcialidade do juiz. E o que a gente assiste, infelizmente, é uma perda dessa imparcialidade e isso compromete realmente o resultado.

O senhor defende um novo modelo de indicação para juízes do Supremo? O senhor acha que precisa ter uma reforma do judiciário?

Eu acho que o presidente deveria escolher uma lista tríplice composta por membros indicados do Judiciário, do Ministério Público e da advocacia. Você podia adotar o mesmo sistema do quinto constitucional que existe nos tribunais e entregar para o presidente da República uma lista tríplice, ao invés dele ter liberdade total para escolher, porque no fim acaba escolhendo quem é o seu parceiro político do momento.

Então, acho que isso é um problema endêmico. E o que agrava muito esse problema é que o Senado, ao invés de cumprir o seu papel de sabatinar as autoridades com rigor técnico e tudo, acaba sendo um encontro de compadrio. E com isso ele não exerce, assim como também não exerce nas agências regulatórias e nos embaixadores que são sabatinados, ele não exerce na sua plenitude o papel de fiscalização e controle que é atribuído constitucionalmente.

O senhor tornou-se réu no STF por suposto crime de contrabando de produtos florestais. Como responde a essa acusação?

Na verdade, o STF não me tornou réu. Eu já era réu na primeira instância. Só que com a mudança da jurisprudência do Supremo, dizendo que quem já teve foro tem que continuar no foro, o meu processo saiu da primeira instância e agora vai tramitar no Supremo. Então, eu não me tornei réu. Eu já era desde a saída do governo Bolsonaro, réu nessa armação feita por alguns membros petistas da Polícia Federal.

O senhor nega os crimes?

Absolutamente, é ridícula essa acusação. Eu sou um advogado paulista, não tenho nada a ver com o madeireiro, quanto mais na Amazônia. Isso é uma acusação ridícula. Esse processo é de uma fragilidade absoluta. Só que como o delegado que instruiu esse caso lá atrás, um delegado amplamente ligado ao PT, queria me atingir no governo Bolsonaro, isso acabou avançando. Mas eu tenho certeza que isso vai ser julgado improcedente porque não tem o mínimo fundamento.

O senhor falou se o Tarcísio for candidato a presidente, o senhor será candidato a governador em São Paulo. Ricardo Salles pode ser um dia candidato a presidente da República? Isso está na sua ambição política, no seu sonho?

Não, eu não tenho grandes pretensões em chegar a presidente da República por uma razão muito simples, eu digo isso com muita tranquilidade.

Eu sou um paulista convicto, de família paulista, penso como paulista, me comporto como paulista e acho que a visão paulista não é uma visão fácil de você angariar votos no Norte e no Nordeste, principalmente. Então, eu me contento e fico muito feliz de ter eventualmente a oportunidade de governar o meu estado, o estado da minha família há muitas gerações. Eu não tenho pretensão de ser presidente da República.