15 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Dia dos Pais: entre almoços e abraços

Por José Marta | O autor é engenheiro e matemático; professor doutor aposentado, na Unesp
| Tempo de leitura: 3 min

Todo segundo domingo de agosto, as churrasqueiras acendem, os restaurantes lotam, os presentes mudam de mãos e os abraços apertam mais forte: é Dia dos Pais no Brasil. E, apesar da correria e das mensagens prontas que pipocam nos grupos, essa data tem algo que vai além do comércio ou das homenagens formais. Ela carrega um convite silencioso: o de olhar para o nosso pai — ou para quem fez esse papel na nossa vida — com mais humanidade. A história do Dia dos Pais é longa e cheia de nuances.

Lá na Antiguidade, um jovem na Babilônia escreveu em argila seus votos de saúde e felicidade para o pai. Séculos depois, nos Estados Unidos, uma jovem chamada Sonora Dodd resolveu celebrar o homem que criou sozinho seis filhos após a morte da esposa. Assim nasceu a ideia que, com o tempo, se espalhou pelo mundo.

No Brasil, foi o publicitário Sylvio Bhering quem ajudou a oficializar a data em 1953, mirando no coração… e no comércio também, claro. Mas o que torna um pai inesquecível não está em campanhas de marketing. Está no cotidiano. No jeito de segurar a bicicleta na primeira pedalada, no silêncio durante a bronca justa, no olhar cúmplice de quem sabe que o filho cresceu.

Está também nas falhas, nas tentativas, nas dúvidas. Porque ser pai não vem com manual — e mesmo assim muitos tentam, dia após dia, ser referência, porto seguro e afeto. Ser pai hoje é também reaprender. É entender que educar vai além da rigidez e que sensibilidade não é fraqueza. É sair do papel do provedor distante e mergulhar no convívio verdadeiro. E não importa o formato da família: pai é quem se faz presente, quem ouve, quem pergunta se você chegou bem, quem segura sua mão no hospital ou quem manda imagem brega no WhatsApp só pra arrancar um sorriso. A figura paterna tem raízes profundas também na espiritualidade.

São José, pai terreno de Jesus, é um desses exemplos eternos. Silencioso, justo, protetor, ele acolheu a missão da paternidade com humildade e fé, sendo guia e guardião da Sagrada Família. Uma lembrança de que o verdadeiro pai é aquele que se compromete com o cuidado, mesmo quando o caminho é incerto. E às vezes, ser pai é também ser avô. Eu me lembro como se fosse hoje do nascimento das minhas netas, Helena e Maria. A emoção daquele dia ainda me embarga a voz. Ver a continuidade da vida nos olhos delas foi como renascer — não como quem volta ao início, mas como quem ganha um novo papel, mais doce, mais leve, mais cheio de histórias para contar. Foi ali que entendi, de verdade, que o amor de pai não se esgota: ele se multiplica. Neste 10 de agosto, queremos homenagear todos os tipos de pais: os tradicionais, os improvisados, os de sangue e os de coração.

Os que estão por perto e os que já viraram saudade. Aqueles que ensinaram a amarrar o cadarço, a respeitar os outros, a cuidar de si e a não desistir fácil. Porque, no fim das contas, a maior herança que um pai pode deixar é essa: o exemplo. E isso, ah… não se embrulha pra presente. Feliz Dia dos Pais! Que cada abraço hoje seja também um reencontro.