A tragédia que não se esquece.
A queda do avião da Voepass Linhas Aéreas (antiga Passaredo) em Vinhedo (SP) vai completar um ano marcada pela morte de 61 pessoas, cinco delas ligadas ao Vale do Paraíba.
Clique aqui para fazer parte da comunidade de OVALE no WhatsApp e receber notícias em primeira mão. E clique aqui para participar também do canal de OVALE no WhatsApp
O acidente com o avião ATR 72-500 da Voepass, em 9 de agosto de 2024, foi o maior da aviação brasileira nos últimos 17 anos. A companhia aérea teve as operações suspensas pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) por falta de segurança.
Segundo a FAB (Força Aérea Brasileira), o voo 2283 decolou de Cascavel (PR) às 11h58 do dia 9 de agosto do ano passado com destino a Guarulhos (SP) e ocorreu dentro da normalidade até as 13h20.
A partir das 13h21, a aeronave não respondeu às chamadas da torre de São Paulo, bem como não declarou emergência ou reportou estar sob condições meteorológicas adversas. A perda do contato radar ocorreu às 13h22.
Na queda, o avião atingiu a área externa de uma casa em um condomínio no bairro Capela – a família que estava no imóvel saiu ilesa. O avião caiu de aproximadamente 4 mil metros, a uma velocidade de 440 km/h. Não houve sobreviventes na aeronave.
No avião estava o casal Maria Auxiliadora Vaz de Arruda, 74 anos, a Dora, e José Cloves Arruda, 76 anos, de Guaratinguetá. Ambos estavam aposentados. Dora foi professora de educação física e era voluntária na Igreja Católica. José Cloves fotografava casamentos.
Queridos e amados em Guará, o casal era considerado “amoroso e solidário” e com participação na vida de centenas de pessoas.
Em nota divulgada na época do acidente, a Arquidiocese de Aparecida lamentou “profundamente” o falecimento do casal no acidente aéreo.
“Dora era coordenadora do MESC da Paróquia São Pedro Apóstolo, de Guaratinguetá. Unidos em preces, rogamos a Deus pelo descanso eterno desses nossos irmãos e pelo conforto dos familiares e amigos. Estendemos nossas preces por todas as outras vítimas dessa tragédia. Que Deus os receba na alegria do Seu Reino”, disse o comunicado.
Outra vítima da queda do avião foi o médico José Roberto Leonel Ferreira, que se formou na antiga FMT (Faculdade de Medicina de Taubaté), fundada em 1967 e que, desde 1979, é vinculada à Unitau (Universidade de Taubaté).
Os alunos de Medicina da Unitau divulgaram uma nota de pesar pela morte do médico: Eles prestaram homenagens e condolências a todos os familiares das vítimas do acidente em Vinhedo.
“Dentre as vítimas estava o Dr. José Roberto Leonel Ferreira, médico formado pela FMT em 1985, além de outros colegas de profissão”, disse a nota. “Expressamos nossas sinceras condolências e desejamos que familiares e amigos possam encontrar conforto nesse momento tão difícil”.
José Roberto tinha se aposentado como professor universitário há três meses e iria conhecer o neto, de apenas dois meses.
Morador de Jacareí, José Carlos Copetti, de 44 anos, foi outra vítima do acidente em Vinhedo (SP). A informação da morte de Copetti foi dada pela esposa dele em uma rede social.
Após ter o corpo resgatado dos destroços do avião, João Carlos foi velado e sepultado em São José dos Campos. Ele morava no bairro Villa Branca, em Jacareí, e era gerente da empresa Mantiqueira, que produz ovos. João Carlos viaja a trabalho.
Em postagem nas redes sociais, a irmã despediu-se de Ronaldo Cavaliere, 43 anos, de Ubatuba, mais uma das vítimas do acidente com o avião da Voepass.
Descrito como um "superpai", Ronaldo havia se mudado para Maceió (AL) para acompanhar o crescimento do filho. Ele era representante comercial. A morte comoveu a família, amigos e a região. Ele deixa o filho Enzo Cavaliere, hoje adolescente.
Embora não fosse da região, o piloto Danilo Santo Romano, de 35 anos, que comandava o avião da Voepass que caiu em Vinhedo, tinha uma forte ligação com o Vale. Ele era devoto de Nossa Senhora Aparecida. Ele visitou a Basílica antes do voo e deixou aos pés da Santa uma réplica da aeronave.
Apaixonado pela aviação, pelo Palmeiras, por séries, pela namorada e pela família, Danilo também demonstrava a sua fé por meio das redes sociais.
Ele havia postado fotos e vídeos em Aparecida, mostrando a imagem da Padroeira do Brasil, uma missa no Santuário Nacional, os bastidores de um programa da TV Aparecida e uma fotografia com a réplica do avião da Voepass aos pés da Santa.
Antes conhecida como "Passaredo", a empresa Voepass, operadora do avião ATR-72 que caiu em Vinhedo, começou a sua história em São José dos Campos.
Já chamada de "a companhia aérea mais antiga em operação no Brasil", a empresa foi fundada na década de 1990 em Ribeirão Preto, mas a história da Passaredo começa antes, em 1978, na cidade de São José.
A empresa de linhas aéreas teve como origem uma empresa de ônibus no Vale do Paraíba. A Viação Passaredo foi fundada por José Luiz Felício, morador de Mococa e neto de libaneses. Inicialmente, seu foco era o fretamento, principalmente o de turismo e de funcionários de empresas e indústrias dos setores público e privado.
A expansão da empresa começou em 1986, quando abriu uma filial na capital paulista. Em 1991, foi para Ribeirão Preto com a mesma atividade: fretamento turístico e para empresas.
Em 1995, a Passaredo Transportes Aéreos foi inaugurada em Ribeirão Preto, com duas aeronaves Embraer 120. Inicialmente, a operação era para as principais capitais do país e São José dos Campos.
A Passaredo foi a primeira empresa aérea brasileira a ter um Airbus A310. Em 2014, ela foi considerada, junto com a Avianca, a empresa mais segura para se viajar no Brasil.
Em 2012, a empresa entrou em recuperação judicial. A dívida estimada era de R$ 150 milhões. Nesse período, houve troca na frota de aviões, principalmente pelos jatos turboélice ATR 72, mesmo modelo da aeronave que caiu em Vinhedo.
O processo de recuperação judicial terminou em 2017, quando a Justiça determinou o fim da recuperação. A frota da empresa chegou a 15 aeronaves da fabricante ATR que operava em 37 destinos em todas as regiões do país.
Em junho deste ano, por decisão unânime, a diretoria colegiada da Anac decidiu manter a cassação do Certificado de Operador Aéreo da Voepass, medida que impede a empresa de operar voos regulares por dois anos.
Não cabem mais recursos à decisão, que incluiu aplicação de sanções pecuniárias no valor total de R$ 570,4 mil.