O Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp dará início em agosto a um novo ciclo de capacitação para servidores da recepção, como parte da política de atenção integral a pacientes trans, travestis, intersexo e não binários. A ação será acompanhada de mudanças no sistema de prontuário, que passará a reconhecer identidade de gênero além do binário masculino-feminino.
A iniciativa é coordenada pelo Grupo de Trabalho em Diversidade e Humanização, criado após um caso emblemático: uma mulher trans foi internada em um quarto masculino, fato classificado como “evento-sentinela”. A partir disso, o hospital deu início a um processo institucional para garantir dignidade, respeito e acolhimento em todas as etapas do atendimento, da entrada até a alta hospitalar.
Entre os avanços previstos, estão o uso do nome social e do pronome de escolha do paciente, a alocação em quartos de acordo com o gênero identificado, além da formação continuada dos profissionais da rede. A enfermeira Isabela Nogueira, integrante do GT, ressalta que o objetivo é “transformar a forma de cuidado” no hospital. “A violência contra pessoas trans vai além do gênero: envolve raça, classe, falta de oportunidade. Nosso olhar precisa ir além”, afirma.
O psiquiatra Amilton dos Santos Junior, coordenador do Ambulatório de Gênero (Ambgen), lembra que “muitas pessoas trans constroem sua identidade ao longo da vida, e por isso é essencial ouvir, acolher e respeitar seus processos”.
A nova política do HC tem respaldo legal em legislações nacionais e em diretrizes do SUS, além de contar com o apoio da Diretoria Executiva de Direitos Humanos da Unicamp. Para a superintendência do hospital, representada por Elaine Ataíde, trata-se de um passo importante na humanização do atendimento, alinhado à missão da Universidade como centro de excelência científica e de formação.
A medida também envolve o envolvimento de diferentes setores da Unicamp, como a Coordenadoria de Assistência, a DEDH e o Serviço de Atendimento a Denúncias de Racismo (Saer), reforçando o compromisso institucional com a inclusão e o combate a todas as formas de preconceito.