Cinco em cada 10 jatos comerciais a serem entregues pela Embraer nos próximos anos foram encomendados por clientes nos Estados Unidos, país que anunciou sobretaxa de 50% aos produtos brasileiros, o que pode afetar as exportações da fabricante nacional.
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Os americanos são responsáveis por 54% da carteira de pedidos firmes da aviação comercial da Embraer, de acordo com balanço da companhia divulgado na noite de segunda-feira (21).
Mesmo em meio às incertezas sobre os impactos do tarifaço anunciado pelo presidente americano Donald Trump, a Embraer atingiu uma carteira de pedidos recorde de US$ 29,7 bilhões (R$ 165,42 bilhões) no segundo trimestre de 2025, o maior nível já registrado pela empresa.
A aviação comercial da Embraer acumula 437 pedidos firmes a entregar de novas aeronaves, sendo 208 do modelo E175 – campeão de vendas nos EUA –, 190 do jato E195-E2 e 39 do E190-E2.
Desse total de aeronaves, os clientes americanos encomendaram 238 unidades, sendo 202 do jato E175, 18 do modelo E195-E2 e nove do E190-E2. Ou seja, os americanos compraram 54% dos jatos a serem entregues pela Embraer.
No final do segundo trimestre de 2025, a carteira de pedidos da aviação comercial da Embraer totalizava US$ 13,1 bilhões – R$ 73 bilhões na atual cotação do dólar e R$ 17,2 bilhões a mais do que a carteira no final do primeiro trimestre.
Os americanos também são grandes compradores dos jatos executivos da Embraer, mas a empresa não revela o número de aeronaves e nem os clientes nesse segmento. Só se sabe que a carteira de pedidos atingiu US$ 7,4 bilhões no segundo trimestre – R$ 41,2 bilhões.
Os números mostram que o mercado americano é fundamental para a companhia, atingindo até 60% da receita da Embraer, segundo analistas de mercado.
O presidente e CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, disse que as tarifas podem reduzir a produção de aeronaves, que ficarão mais caras, e provocar demissões na companhia, especialmente em São José dos Campos.
A situação pode ser semelhante à da pandemia de Covid-19. Durante a crise sanitária, mais de 900 empregos foram perdidos na Embraer por conta da crise sanitária.
“[Podemos] cancelar pedidos, revisar plano de produção, de investimentos e possível ajuste do quadro de funcionários, similar ao da Covid”, afirmou o executivo em entrevista coletiva na semana passada.
Segundo ele, cada avião da Embraer vendido para os Estados Unidos ficará R$ 50 milhões mais caro se o tarifaço de 50% imposto por Trump ao Brasil for implementando no dia 1º de agosto.
Gomes Neto disse que as tarifas vão somar R$ 2 bilhões só em 2025 e R$ 20 bilhões até 2030. Os EUA são o principal mercado para a companhia. "É uma situação para a Embraer muito séria", disse o presidente.
Nenhum outro país seria capaz de absorver os aviões encomendados pelos EUA. "Não há como remanejar encomendas de clientes norte-americanos para outros mercados. Avião não é commodity", disse Gomes Neto.
O executivo disse que, até o momento, nenhum pedido de cancelamento foi feito, mas a empresa se prepara para o pior.
"O que pode acontecer: clientes da aviação comercial não quererem receber os aviões porque o valor é muito elevado e impactaria o negócio deles. Temos de negociar, mas se falarem que não querem mais receber, não poderemos produzir avião sem clientes. Talvez a gente precise desacelerar a produção", afirmou o executivo.
Para Gomes Neto, a tarifa de 50% é praticamente um "embargo" à fabricante. "50% de alíquota é quase um embargo para qualquer empresa. Ele dificulta ou inviabiliza as exportações para qualquer país. E para avião é mais impactante devido ao alto valor agregado", disse o executivo. “O jato E1 fica inviabilizado. Dificilmente uma companhia vai querer pagar uma tarifa desse montante”.
Apesar das tensões, o executivo espera que as negociações avancem. Gomes Neto mencionou o acordo americano com o Reino Unido, que zerou a alíquota que era de 10%. "Esse exemplo fica como uma boa base para o Brasil também", afirmou.