A pé, percorro as ruas da cidade que foi minha, mas que hoje, de concreto, não é mais.
Pé ante pé, por seus gastos ladrilhos quadriculados, redescubro a minha Taubaté natal, caminho pela face oculta da rua.
No compasso, cada passo rascunha uma esquina do tempo. Tenho um pé no pretérito e outro no presente.
A caminho do Jarbas, em busca de uma xícara de café, meus olhos surpreendem-se diante das profundas transformações no cenário da terra onde nasci.
Eu a procuro na Santa Terezinha, na rua da minha escola ou na pracinha lá de casa, mas o parquinho já não está lá. Nem a roda-gigante ou o carrossel. Ou o campinho de futebol.
A vida é uma montanha-russa, por certo, bate-bate uma saudade no peito. Restam apenas a igreja e a pipoca, com queijinho, claro.
Bom, falando em pipoca, o Cine Palas, cinema onde quase nasci, saiu de cartaz, virou templo, faz tempo.
Perto de casa, naquele tempo, havia uma casinha com estilo alemão, que parecia ter saído de um conto de fadas. Meus irmãos e eu acreditávamos que era a casa da Branca de Neve. Hoje, era uma vez... foi demolida, dando lugar a uma farmácia, entre outras tantas. É o progresso, diria o outro, para o qual não há remédio, nem mesmo com uma farmácia em cada esquina.
Então, a pé, percorro as ruas da cidade que foi minha, mas que hoje, de concreto, não é mais.
No entanto, depois de tantos anos, eu a reconheço onde ninguém mais a vê, memória por memória, no contrapé de uma obviedade erguida à vista de todos, tijolo por tijolo. Será que ela me reconhece também?
Nesta esquina do tempo, na cidade que foi minha e hoje, de concreto, não é mais, a saudade descansa à sombra da jabuticabeira do meu jardim de infância.
É fruta doce. Uma doce saudade docê. Essa saudade, da cidade que foi minha, mas que hoje, de concreto, não é mais, eu colho na pontinha do pé. O tempo todo, Taubaté.