17 de dezembro de 2025
MÁFIA DO APITO

Máfia do Apito: 'Pus a arma na cabeça 3 vezes' diz Edílson

Por Da redação | Taubaté
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução
Edílson Pereira de Carvalho durante partida de futebol

Ex-árbitro e pivô do maior escândalo da história da arbitragem brasileira, conhecido como ‘Máfia do Apito’, Edílson Pereira de Carvalho admitiu em entrevista exclusiva a OVALE que chegou a pensar em suicídio no auge da crise, quando morava num condomínio em Jacareí.

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O escândalo de manipulação de resultados de partidas levou à anulação de 11 jogos do Campeonato Brasileiro de 2005, apitadas por ele numa era pré-VAR. Edílson e o ex-árbitro Paulo José Danelon foram banidos do futebol e denunciados pelo Ministério Público por estelionato, formação de quadrilha e falsidade ideológica.

“Eu sofri muito, financeiramente, minha esposa, minha filha. Mas, hoje, em 2025, estou psicologicamente ruim, pela burrada que eu fiz. Se arrependimento matasse, eu já estava morto há tempos. Já coloquei a arma umas três vezes na minha cabeça. Bate essa tristeza até agora”, disse ele.

Edílson disse que o escândalo ainda o faz sofrer nos dias de hoje. “Sim, eu sofro psicologicamente, sonho. Não na rua, pois, poucos homens me conhecem, a molecada então... para me conhecer, tem que ter 45 anos ou mais e poucos me olham. Nunca sofri nenhum abuso de apontar o dedo, de xingamento, muito menos agora, depois de tantos anos”.

“Mas sofri mesmo naquele tempo, em 2006, na verdade, quando comecei a sair na rua e arrumar emprego. As moças que faziam entrevista, não me conheciam, me aprovavam na carteira, para começar a trabalhar, eu ia na fábrica, passava um ou dois dias e já me mandavam embora”, completou.

Ele contou que, quando chegava na fábrica, no emprego, em poucos dias começava a ser discriminado. “Quando chegavam na fábrica, eram dois, três, quatro dias, me discriminavam 100% e me mandavam embora por ser aquele árbitro de 2005”.

Bebida e arma.

Em agosto de 2024, durante participação no podcast do apresentador Benjamin Back, Edílson deu mais detalhes da profunda crise pessoal que passou e que quase o levou a se matar.

“Eu comecei a beber em casa, sozinho, num bar em casa, e chorava ainda mais. Tinha um revólver. Por duas ou três vezes eu apontava para minha cabeça, mas não sabia manusear direito. Cheguei a apontar e disparar e pegou na telha”, afirmou o ex-árbitro.

“Hoje eu agradeço por não ter feito, mas naquele tempo me arrependo de não ter feito. Foi o começo do meu sofrimento. Minha filha só me via deprimido, dentro de casa. Escondia muita coisa dela, mas ela via na televisão sobre o pai. Sofri para todo lado. Fiquei um ano quase inteiro em casa”, completou.

O ex-árbitro contou que não saía de casa e só frequentava uma sauna de um clube, no período noturno, levado de carro por um amigo de Jacareí escondido no bagageiro. “Tinha vergonha. Cheguei a fazer muita besteira. Ficava em casa e só chorava”.

Novo amor.

Aos 62 anos, Edílson vive em Taubaté, cidade em que encontrou um novo amor após os anos de tormenta – ele se separou da primeira mulher em 2013, com quem tem uma filha. Ele é companheiro de uma professora da Unitau (Universidade de Taubaté), que está aposentada. Ao lado dela, ele cultiva a espiritualidade e a religião, e vive longe do futebol.

“Em 2013, me separei da Márcia, minha antiga esposa. Financeiramente, degringolou a minha vida. Antes, era muito dinheiro que entrava, apitava jogo todo final de semana, R$ 10 mil em uma semana, trabalhando em um jogo. Além de fazer o que amava, ganhava todo esse dinheiro, merecidamente. E minha esposa não soube, nos momentos ruins, no ápice, em 2013, ela resolveu se separar. Deixei minha casa com elas e fui morar com minha mãe, de mais de 90 anos. E fui trabalhar com empilhadeira, logística”, contou ele.

“Depois, comecei a namorar, em Caçapava, São José, não dava certo e arrumei essa namorada em Taubaté. Se passaram uns dois anos, minha mãe faleceu, já estava há três anos namorando, ela também viúva, sozinha. Então, porque não juntarmos e ela não aceitava se não fosse casar. E casamos na Igreja, ela fez questão disso.”

“Agora, ela está aposentada e eu fazendo meus bicos no Mercado Livre e produtos que pessoal compra na internet. E três, quatro vezes por semana, faço minhas vendas. Estamos muito bem casados, ela me acolheu na casa dela, com a cachorrinha e dá para comer nosso arroz com feijão”, disse.

Leia a entrevista completa com Edílson Pereira de Carvalho