Antes da carga deixar o galpão, com destino a uma das centenas de lojas do grupo, o funcionário confere a ficha e a entrega ao 'boy', o responsável pelo transporte da mercadoria. Depois da entrega, o franqueado assina o recibo e retoma a venda no varejo. Ao final da semana, cada gerente precisa apresentar um relatório detalhado do lucro obtido em cada área. Nas teleconferências, os executivos debatem cifras milionárias.
O que parece descrever uma organização empresarial trata-se, na realidade, da estrutura e organização criada pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), originária do Vale do Paraíba, para lucrar alto com o tráfico de drogas -- sua principal fonte de receita. Nesta semana, uma investigação mostrou que o PCC se expandiu e já atua em 28 países, incluindo Portugal (ver aqui).
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Com o uso de uma espécie de rede de 'franquias', chamadas de 'lojas' (pontos de venda dos entorpecentes), a organização lucra milhões de reais, segundo investigações do Ministério Público. Além de atuar no varejo, com a venda direta para o usuário de droga, o PCC também é fornecedor e controla o mercado, buscando monopolizar o tráfico de crack, cocaína e maconha nas ruas.
"É crucial lembrar que todas as lojas (...) recebem o entorpecente única e exclusivamente do PCC. Assim, é importante imaginar, a titulo de exemplo, que as lojas do PCC não passam de franquias que só vendem o produto fornecido pelo PCC", diz trecho investigação do MP. Com atuação internacional, o PCC mantém a mesma estrutura em todas as áreas de atuação, incluindo a '012' -- referente ao Vale do Paraíba.
Apurações recentes revelam que a facção é dividida em 'departamentos', chamados de sintonias -- cabe à chamada sintonia do progresso o controle do tráfico de drogas.
De acordo com o MP, a facção conta até mesmo com um sistema de auditoria para controlar as vendas nas 'lojas'. "O PCC dispõe de um verdadeiro exército de homens e mulheres, em geral jovens, para a produção individualizada das drogas e posterior entrega nos pontos de vendas gerenciados por integrantes da facção.
(...) O sistema é de tal modo profissionalizado que o PCC conta com auditores e auditorias (...). Os cofres de todas as lojas são fotografados", diz relatório da investigação. A facção conta com uma legião de 'soldados' que mantém em operação o nefasto e lucrativo mercado de venda de drogas.
Além do MP, as forças de segurança afirmam manter uma vigilância constante da facção e definem o combate ao tráfico como uma 'prioridade'. O PCC funciona como uma empresa. Ela tem um comando centralizado em líderes que agem com mão de ferro, mas que também têm uma visão comercial, descentralizando a atuação no crime. As filiais, se podemos chamar assim, estão espalhadas. Eles são cobrados por líderes da área que respondem aos líderes regionais que, por sua vez, obedecem o comando central. Essa organização tem que ser combatida.