23 de dezembro de 2025
MUDANÇAS DO CLIMA

Ilha de calor chega a 6,7°C em Indaiatuba e acende alerta

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 2 min
Reprodução/Unicamp
Estudo da Unicamp revela diferença de até 6,7°C entre áreas urbanas e rurais da cidade.

Uma distância de apenas 3,7 quilômetros foi suficiente para revelar um abismo térmico em Indaiatuba (SP). Entre dois pontos da cidade, um urbano e outro rural, a diferença de temperatura chegou a 6,7°C no inverno, de acordo com pesquisa de doutorado defendida por Larissa Zezzo no Instituto de Geociências da Unicamp. O estudo mostrou que as chamadas ilhas de calor urbanas (ICUs) foram mais intensas justamente na estação mais seca do ano, entre maio e julho de 2022.

Os dados foram obtidos em dez pontos do município e apontam que o fenômeno é mais recorrente à noite, quando o concreto e o asfalto ainda irradiam o calor acumulado durante o dia. “Por volta das 21h é quando as ilhas de calor mais se destacam”, explica Zezzo. A pesquisa constatou que ao menos 10% dos dias de julho apresentaram magnitudes extremamente altas de ICU.

A pesquisa é pioneira no mapeamento de ICUs em cidades de pequeno e médio porte com clima tropical, uma lacuna até então pouco explorada. “Não é porque a cidade é de médio porte que a magnitude do fenômeno é pequena”, reforça a professora Priscila Coltri, diretora do Cepagri e orientadora da tese.

Alerta para o futuro da cidade

O ponto mais frio da cidade — onde foi registrada a menor temperatura da análise — fica em uma área rural na direção onde Indaiatuba está se expandindo urbanisticamente. “Se a vegetação for removida para dar lugar a moradias, a temperatura certamente vai aumentar. Isso exige atenção do poder público e planejamento adequado”, alerta Larissa Zezzo.

A orientadora reforça que a presença de áreas verdes extensas é determinante para mitigar o efeito das ilhas de calor. Não basta plantar árvores em calçadas: são necessários parques, bosques e grandes áreas vegetadas, inclusive nos arredores urbanos.

Ciência com baixo custo

Indaiatuba foi escolhida para o estudo por ser uma cidade em crescimento acelerado, mas o município possui apenas uma estação meteorológica oficial, o que tornava o mapeamento detalhado inviável. Para superar o desafio, a equipe da Unicamp desenvolveu sensores e abrigos de baixo custo, com a ajuda do doutorando Marcelo Soeira, utilizando materiais simples como madeira e plásticos PVC e PP.

A pesquisa também envolveu alunos da graduação em atividades de campo e análise de dados. A estudante Fernanda Pestana destaca a importância de retornar os resultados à comunidade e estimular a conscientização sobre as diferenças climáticas entre áreas urbanas e rurais. “Esse tipo de estudo mostra de forma muito clara as condições em que vivemos e como elas mudam conforme o espaço”, disse.