"Planejar a longo prazo não é pensar nas decisões futuras, mas no futuro das decisões presentes"
Peter Drucker, escritor americano
O fim de um ciclo eleitoral, inevitavelmente, sempre lança luzes sobre o seguinte. Em regiões sub representadas nos parlamentos estadual e federal, como acontece com Franca, a proximidade de eleições para deputados sempre renova a expectativa de um desempenho melhor de seus candidatos.
A disputa é apenas em outubro do ano que vem, mas se a distância parece longa para o cidadão comum, é amanhã mesmo para pré-candidatos e suas equipes, no mais das vezes amadoras e despreparadas. A julgar pelos números apontados pela pesquisa contratada pelo portal GCN/Sampi junto ao instituto Ágili, não há nenhuma razão para otimismo. Basta ver os resultados, com alguma boa vontade de compreender o que sinalizam, rever a história e fazer contas básicas.
A pesquisa, cujos resultados foram publicados na quinta-feira, 10, pelo Portal GCN, mostram que se a disputa para deputado estadual fosse hoje, considerados os nomes que têm sido cogitados como virtuais candidatos nos bastidores políticos, a Delegada Graciela (PL) teria 23,6% dos votos. João Rocha ficaria com 18,2%, Flávia Lancha alcançaria 9,5% e o vereador Kaká somaria 5,8%. Outros nomes, como Gilson de Souza (Avante), teriam 5,1% ou menos. Não sabem ou preferiram não responder em quem votariam 7,8%. Não votariam em nenhum dos possíveis candidatos apresentados 20% dos eleitores.
Para deputado federal, o médico Doutor Ubiali (PSB) aparece com 13,6%, seguido pelo Delegado Davi (PL), com 11,2%, e Guilherme Cortez (Psol), que soma 10%. O vereador Daniel Bassi (PSD) teria 7,8%, o médico Marcelo Morickochi (PP), 6,1%. Rafael Bruxellas (PT) chegaria a 5,1% e os demais nomes simulados, índices inferiores. Não sabem ou preferiram não dizer em quem votariam 9% dos entrevistados. Disseram não votar em nenhum dos nomes 22,6%.
“Noves fora”, algumas conclusões, baseadas na razão, são óbvias:
Duvida? Vamos, então, revisitar a história. Na mais recente disputa para prefeito, que terminou com Alexandre Ferreira (MDB) vitorioso, no último mês de outubro, havia exatamente 248.525 eleitores aptos a votar na cidade. Deste total, 74.489 pessoas simplesmente não apareceram nas urnas. Houve ainda 8.913 pessoas que anularam o voto e outros 9.319 que votaram em branco. No final, foram 155.804 pessoas que votaram em algum dos candidatos. Quase 100 mil eleitores simplesmente não foram até as urnas ou não votaram em ninguém.
Foi uma eleição atípica? Não. É mais ou menos o mesmo cenário que acontece em toda eleição, seja para prefeito e vereadores, seja para presidente, governador, senadores e deputados estaduais e federais.
Assim, o cruzamento desta realidade com as intenções de voto apontado pela pesquisa permite projetar que, se a disputa fosse hoje, no caso de deputados estaduais, a Delegada Graciela (PL) sairia de Franca com 36.769 votos. João Rocha (PL) conseguiria 28.356. Flávia Lancha (PSD) teria 14.801. Kaká (Republicanos) somaria 9.036 votos, um pouco acima dos 7.946 votos que Gilson de Souza (Avante) alcançaria.
No caso dos nomes que sonham com uma cadeira em Brasília, o Doutor Ubiali (PSB) teria hoje em Franca 21.189 votos, seguido por Delegado Davi (PL), com 17.450, Guilherme Cortez (Psol), que somaria 15.580 e Daniel Bassi, que alcançaria 12.152 votos. O restante dos possíveis candidatos é menos relevante neste momento.
O que isso significa, exatamente? Para começar, o mesmo que já disse no início do texto. Não há a menor chance de alguém, com base eleitoral em Franca, ter chances de ser eleito deputado federal, considerados os atuais possíveis candidatos, suas plataformas, estratégias e, mais o importante, o que despertam nos eleitores.
Sou pessimista? Não, apenas uso a lógica, vejo os cenários, conheço um pouquinho de história e analiso a realidade. Na última disputa para deputado federal, o candidato eleito com menos votos pelo PSB, partido do Doutor Ubiali, foi o ex-prefeito de Campinas, Jonas Donizete, que quase fica de fora com 84.044 votos. Sejamos realistas. Se Ubiali teria hoje pouco mais de 21 mil votos na cidade, onde encontraria os outros 70 mil que faltam para pelo menos sonhar com uma vaga?
Acha que é azar do Doutor Ubiali por estar no PSB? Não, pelo contrário, ele tem até sorte, por assim dizer. No Psol, de Guilherme Cortez, o corte foi acima de 100 mil votos, com os 113.893 obtidos pela última eleita pelo partido, a ex-prefeita da Capital Luiza Erundina. E no PT, de Rafael Bruxellas, o lanterna, Paulo Teixeira, chegou a Brasília com 122.800 votos. Simplesmente não há um candidato a federal hoje capaz de reunir em torno de si um forte apoio em Franca, capaz de levá-lo a sair daqui com pelo menos 70 mil votos, e muito menos condições de que este mesmo candidato tenha mínimas condições de conseguir outros 40 mil votos fora daqui e, assim, ser eleito, ainda que na rabeira. Não dá, simplesmente.
Para estadual, a dor é menor, mas ainda há sofrimento. A Delegada Graciela, atual deputada, conseguiu vencer com 68.955 votos. Teria hoje 36.769 votos em Franca e precisaria buscar outro tanto desses fora. Como exerce o mandato, atende lideranças e destina verbas, terá apoio na região. E já que o segundo colocado na pesquisa, João Rocha, é do seu partido e não poderá disputar a vaga pela mesma legenda com ela, é natural que ela fique com parte dos votos que seriam destinados a ele. Portanto, é um caminho plausível e provável acreditar num novo mandato para a Deputada Graciela.
Com João Rocha fora da disputa (ele disse em entrevista ao portal GCN que não está pensando em eleições e que se concentra em cuidar de problemas de saúde), há Flávia Lancha (PSD). Só que o resultado da pesquisa é mais do que um balde de água fria para ela – ou, para ficar na lógica “tiktoker” que tem marcado sua estratégia eleitoral, um verdadeiro “café gelado”. Os 14.801 votos que teria hoje em Franca não são suficientes para nada. O último candidato eleito estadual pelo PSD, partido da empresária, foi Paulo Corrêa Jr, que alcançou 62.239 votos. Ainda que Flávia também herdasse um pouco dos votos de João Rocha, o que acho improvável que se dê de maneira significativa, ela teria que alcançar mais 45 mil votos fora daqui para ter alguma chance. Convenhamos, se ir a eventos, visitar o Palácio dos Bandeirantes, tirar fotos e postar em redes sociais bastasse, Flávia estaria muito melhor nas pesquisas. Como não está, é evidente que a possibilidade é remota. E isso, para ser quase Poliana nas expectativas.
São tantos os erros cometidos pelos candidatos que um texto só não seria suficiente para listar. Falta uma visão clara do que pretendem, um projeto, postura, equipes profissionais. Sobram erros básicos, como imaginar que postar em rede social traz votos automaticamente – a começar pelo fato de que postar não quer dizer que a rede vai entregar aquilo para alguém, porque os algorítimos hoje restringem a distribuição do conteúdo para no máximo 2% da sua base de seguidores. Gasta-se tempo, dinheiro, energia e abusa-se da “vergonha alheia” para postar coisas que ninguém vai ver, a não ser para rir, e muito menos levar a sério.
Hoje, Franca teria chances reais de reeleger a deputada Graciela. Se Cortez desistir da disputa a federal e concentrar seus esforços na luta por mais um mandato na Alesp, também tem boas possibilidades, até porque é o caso único de candidato que tem mais votos fora daqui do que na própria cidade, resultado direto das causas que defende com coragem.
Sun Tzu, em “A Arte da Guerra”, ensina que “tática sem estratégia é o ruído antes da derrota”. Se os que sonham com uma cadeira em São Paulo e Brasília querem ter alguma chance, precisam rever suas estratégias, posturas e discursos. O resto é conversa para boi dormir.
E se as lideranças políticas, empresariais e populares da cidade acreditam que é importante aumentar nossa representação parlamentar, é bom analisar os dados com atenção, sem paixões, sem infantilidades, e com foco. Quinze meses passam rápido. Se não conseguirmos avançar no próximo ciclo, a chance seguinte será só em 2030.
Corrêa Neves Jr é jornalista, diretor do portal GCN, da rádio Difusora de Franca e CEO da rede Sampi de Portais de Notícias.