13 de maio de 2025
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FENÔMENO

Capivara se torna febre na cultura pop, mas exige cuidados

Por Camila Bandeira |
| Tempo de leitura: 3 min
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Capivaras viram febre pop e tema de festas, mas contato direto com o animal pode representar riscos à saúde e segurança

A capivara se tornou um fenômeno cultural, estampando camisetas, pelúcias e até mesmo inspirando comidas. Nas redes sociais, vídeos do animal atraem milhões de visualizações, consolidando seu status de queridinha do momento. Mas, apesar de sua aparência simpática e comportamento pacato, especialistas alertam para os riscos do contato próximo com o maior roedor do mundo.

Esse fenômeno está em tudo quanto é canto: das vitrines de lojas ao universo infantil. Nataly Vidotti, proprietária de uma loja de presentes, comenta sobre o aumento da procura. "Eu tenho percebido que a procura por artigos de capivara está muito grande, principalmente para as crianças, assim, a partir de uns cinco anos, até uns 12, 13, e às vezes adulto também, que adora qualquer item de capivara. Chaveiros, bichos de pelúcia, adesivos, bloquinhos de anotação, caneta com algum enfeite, estojo, tudo que é capivara, o pessoal tem gostado bastante", conta.

Tatiana conta que a filha escolheu capivaras como tema para uma festa do pijama. "Ela tinha 11 anos e escolheu por ser a moda, achava o desenho fofinho. Escolheu tudo bem delicado, só porque achava fofinhas essas capivaras".

Não é raro encontrar capivaras passeando livremente em parques urbanos de Jundiaí, como no Parque da Cidade ou mesmo atravessando ruas da região da avenida Osmundo dos Santos Pellegrini. A convivência pacífica com os humanos fez com que o animal ganhasse ainda mais carisma. Mas o encantamento precisa vir acompanhado de conscientização.

O médico veterinário Francisco Vieira ressalta que "apesar de ser um animal visto como fofo, é fundamental lembrar que a capivara é um roedor semi-aquático e herbívoro, com alta taxa de reprodução". Segundo ele, em regiões como o Sudeste do Brasil, esses animais proliferam rapidamente devido à ausência de predadores naturais, como onças e jacarés. "Elas se adaptaram bem ao ambiente urbano e perderam o medo dos humanos, o que aumenta ainda mais o contato e, por consequência, os riscos."

O especialista também destaca que a proximidade entre capivaras e humanos traz riscos, como a transmissão de zoonoses. "Elas são hospedeiras do carrapato-estrela, vetor da febre maculosa, uma doença extremamente perigosa com alta taxa de letalidade”, alerta. “Também podem transmitir raiva, o que torna o contato direto com o animal ainda mais arriscado”, completa.

A médica infectologista Maria José Kassab Carvalho, do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo, explica que a febre maculosa é causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida pela picada do carrapato infectado. "A doença pode ser confundida com dengue ou leptospirose, pois os sintomas iniciais incluem febre alta, dores intensas no corpo, dor de cabeça e manchas na pele”, detalha. O período de incubação varia de dois a 14 dias, e a evolução pode ser rápida. Em casos graves, pode levar à morte em mais de 55% dos pacientes.

Para reduzir o risco de contágio, a especialista recomenda evitar contato com capivaras e utilizar roupas claras e compridas em áreas de mata ou lagos. "O uso de repelentes eficazes contra carrapatos e a inspeção frequente do corpo são fundamentais para prevenir a infecção”, reforça. Não há vacina contra a febre maculosa, por isso a prevenção é essencial.

Além dos riscos sanitários, as capivaras também podem ser agressivas em situações de perigo. "Elas atacam quando ameaçadas, podendo causar ferimentos graves em cães que se aproximam demais", adverte Vieira. "Na clínica, já atendi vários casos de cachorros com lacerações causadas por mordidas de capivara, feridas que demoram a cicatrizar e costumam infeccionar."

Apesar da febre cultural, a posse da capivara como animal de estimação é proibida por lei no Brasil. "São animais silvestres e devem ser apreciados em seu habitat natural, sem interação direta com humanos", enfatiza o veterinário. Ele lembra ainda que permitir que cães corram livres em áreas com capivaras pode gerar acidentes, além de aumentar o risco de contaminação por carrapatos.

Admirar à distância, sem tocar ou interagir, é o caminho mais seguro para manter o equilíbrio entre humanos, animais e o meio ambiente.