A decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), que finalmente derrubou a cassação da candidatura do prefeito reeleito de Campinas, Dário Saadi, escancara um problema recorrente e preocupante: a morosidade do Judiciário, mesmo em questões que envolvem o destino de cidades com papel estratégico na economia e na vida pública do país.
Campinas, com mais de 1 milhão de habitantes e uma economia que supera a de muitas capitais estaduais, foi arrastada por meses em um cenário de incerteza. A cassação em primeira instância aconteceu em setembro, ainda durante o período eleitoral, mas só agora, em 17 de dezembro, o Judiciário concluiu a análise do recurso. Uma decisão que poderia, potencialmente, impactar a escolha democrática do eleitorado e a estabilidade da administração municipal demorou quase três meses para ser apreciada em segunda instância.
Durante esse período, a cidade viveu sob a sombra de um embate jurídico que poderia colocar em xeque a vontade das urnas. Não por acaso, a situação foi decidida no apagar das luzes do ano, às vésperas do recesso do Judiciário, trazendo a sensação de um processo arrastado e pouco alinhado com a urgência que a questão exigia.
O tema em pauta é delicado: o abuso de poder político. O Ministério Público Eleitoral, ao reformular sua avaliação, considerou que, embora existam irregularidades, elas não teriam alterado a vontade do eleitor. O bom senso prevaleceu, mas a pergunta que fica é: por que demorou tanto? Por que, em casos tão sensíveis, o Judiciário não adota prazos mais céleres e resolutivos?
Campinas não é uma cidade qualquer. É o coração do interior paulista, um polo tecnológico e industrial que influencia diretamente a economia nacional. Deixar indefinido o futuro administrativo de uma cidade com essa relevância é, no mínimo, irresponsável. Os impactos vão muito além do campo político. A demora para resolver questões dessa magnitude interfere na governabilidade, na confiança das instituições e na imagem da Justiça Eleitoral.
O Brasil precisa debater a celeridade processual, especialmente em temas eleitorais, onde a rapidez é tão vital quanto a própria lisura do processo. Não se pode permitir que decisões desse tipo cheguem a poucos dias do recesso do Judiciário, empurrando o futuro de uma cidade tão importante para o limite do calendário.
O caso de Campinas é um alerta. É preciso que o Judiciário se organize para responder, com agilidade e responsabilidade, aos desafios impostos pelo processo democrático. A confiança na Justiça e nas eleições passa não só pela transparência, mas também pela eficiência. Quando a lentidão impera, quem perde é a população – neste caso, mais de um milhão de campineiros que aguardavam por uma definição há meses.
Que o episódio sirva de reflexão e, principalmente, de aprendizado. O futuro de cidades estratégicas, como Campinas, não pode ficar à mercê do relógio lento da Justiça.
Campinas, mais uma vez, está sem vacinas contra a Covid-19. O estoque zerou na tarde da última segunda-feira, enquanto a cidade aguarda uma nova remessa do Ministério da Saúde. A informação, por si só, deveria causar alarde, mas o que se vê é um silêncio preocupante. A sensação é de que a pandemia ficou no passado, esquecida nas filas dos postos de saúde.
Os números, no entanto, mostram que a Covid-19 ainda mata – e muito. Somente este ano, a doença já foi responsável por 112 mortes em Campinas. Para colocar em perspectiva, o vírus matou mais do que a dengue, que vitimou 84 pessoas em 2024. Mesmo com a queda drástica de casos e hospitalizações, o coronavírus segue fazendo vítimas. Ignorá-lo é um risco desnecessário.
Ainda assim, quando se fala em vacinação, a resposta é sempre a mesma: os estoques acabaram. A cidade recebeu apenas 600 doses na última semana, um número quase simbólico para uma metrópole com mais de um milhão de habitantes. O desabastecimento frequente e a escassez de campanhas educativas contribuem para a sensação de que a vacinação não é mais prioridade. E, em meio ao descaso, as mortes continuam.
A população, por sua vez, parece menos preocupada. A rotina voltou ao normal, as máscaras desapareceram, e poucos têm buscado se proteger. Mas a verdade é que o vírus segue circulando, atingindo principalmente os mais vulneráveis. Sem vacinas nos postos e com a indiferença coletiva, quem pagará o preço são as mesmas pessoas que sempre pagaram: idosos, imunossuprimidos e famílias que terão uma cadeira a menos nas festas de fim de ano.
A Covid-19 não é um problema resolvido. Enquanto vacinas faltam e o debate desaparece, o vírus segue fazendo vítimas em silêncio. É hora de lembrar que, embora tenhamos superado o pior da pandemia, o combate à Covid não pode ser abandonado. A ausência de preocupação agora pode custar vidas amanhã.