26 de dezembro de 2024
MERCADO FINANCEIRO

Dólar renova recorde histórico e chega a R$ 6,08

Por Vitor Hugo Batista | da Folhapress
| Tempo de leitura: 5 min
Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Na sexta-feira (6), a moeda já havia fechado com alta de 1,11%, cotada a R$ 6,075

O dólar renovou seu recorde histórico nominal nesta segunda-feira (9) e terminou o pregão com oscilação positiva de 0,09%, cotado a R$ 6,081. Na sexta-feira (6), a moeda já havia fechado com alta de 1,11%, cotada a R$ 6,075.

A divisa se manteve estável durante todo o dia, sempre acima de R$ 6. Na reta final do pregão, o movimento se inverteu e a moeda firmou leve alta. Na máxima do dia, chegou a R$ 6,089.

A divulgação do boletim Focus desta segunda, que projeta um aumento da taxa básica de juros (Selic), e as incertezas sobre o pacote de corte de gastos do governo, com notícias de entrave no Congresso, pressionaram a cotação da moeda, segundo analistas.

Já a Bolsa disparou 1,00%, e encerrou aos 127.212 pontos, impulsionada por ações da Vale e da Petrobras, em linha com a valorização do minério de ferro no exterior após a China anunciar que adotará uma política monetária mais flexível em 2024.

Nesta segunda, o Banco Central divulgou o boletim Focus, relatório semanal que traz as projeções econômicas para Selic, inflação e PIB (Produto Interno Bruto).

Os economistas esperam uma elevação da Selic para 12% nesta semana, um aumento de 0,75 ponto percentual em relação à atual, de 11,25%.

Para 2025, a projeção para a taxa básica de juros também aumentou, passando de 12,63% na mediana das projeções para 13,50%.

Operadores projetam 66% de chance de uma alta de um ponto percentual na Selic, com 34% de probabilidade de um aumento de 0,75 ponto.

"O dólar está em alta, acompanhando o movimento de elevação nos juros futuros. Esse aumento reflete tanto a expectativa de uma nova alta da taxa básica, que deve ocorrer em um patamar mais elevado, quanto as incertezas relacionadas ao cenário fiscal do país", afirma Rodrigo Cohen, analista de investimentos e cofundador da Escola de Investimentos.

"Na nossa avaliação, é justificado acelerar o ritmo do aumento dos juros, dado um cenário de uma economia superaquecida, um mercado de trabalho apertado, salários elevados e o crescimento da renda disponível das famílias", disseram analistas do Goldman Sachs em nota.

Caso suba 1 ponto, a Selic encerrará 2024 na altura de 12,25% ao ano -acima dos 12% cravados pelo boletim Focus desta segunda.

Uma taxa de juros mais alta encarece o crédito e desestimula o consumo e os investimentos, reduzindo a pressão sobre os preços. Por outro lado, a elevação da taxa valoriza títulos públicos e pode atrair mais investidores para o país.

As contas para o PIB também foram ajustadas para cima, segundo o boletim, com a estimativa de crescimento em 3,39% e 2% para 2024 e 2025, respectivamente. Na semana passada, as expectativas eram respectivamente de 3,22% e 1,95%, respectivamente.

A última reunião do ano do Copom será realizada nesta terça e quarta, e definirá a nova taxa de juros.

Além da reunião do Copom, a semana ainda terá dados de inflação no Brasil e nos Estados Unidos.

Os agentes financeiros também iniciam a semana na expectativa de algum avanço das medidas fiscais, após a Câmara dos Deputados aprovar, na última quarta-feira, regime de urgência para duas propostas do pacote de gastos, mas entraves no Congresso podem prejudicar o avanço e desidratar o pacote.

Nesta segunda, o ministro Flávio Dino, do STF (Supremo Tribunal Federal), rejeitou um recurso da AGU (Advocacia-Geral da União) do governo do presidente Lula (PT) que pedia mudanças na decisão do tribunal sobre as emendas parlamentares.

O governo Lula buscou soluções para não desagradar o Congresso, mas Dino manteve as regras e restrições impostas na semana passada. Agora, os parlamentares podem retaliar o governo na pauta do corte de gastos.

Como a Folha mostrou, lideranças da Câmara e do Senado têm afirmado nos bastidores que nenhuma pauta de interesse do governo Lula será votada este ano caso as emendas parlamentares não sejam liberadas a contento.

"Esses fatores, combinados, têm gerado incertezas e pressionado a trajetória dos juros, tanto no curto quanto no longo prazo", disse Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos

Segundo Massote, os desdobramentos entre Congresso, Supremo e governo se somam ao fato do presidente da Câmara, Arthur Lira, "não demonstrar grande proatividade em priorizar a aprovação das propostas do governo".

Já a Bolsa avançava nesta segunda-feira, impulsionada pela alta de commodities como minério de ferro e petróleo no mercado internacional.

O movimento ocorre após a China anunciar que adotará uma política monetária mais flexível em 2024, como parte de medidas para estimular o crescimento econômico.

"Uma política fiscal mais proativa e uma política monetária adequadamente frouxa devem ser implementadas, aprimorando e refinando o conjunto de ferramentas, fortalecendo ajustes anticíclicos extraordinários", disse.

Essa é a primeira decisão de afrouxamento monetário de Pequim desde 2010.

As declarações foram feitas em uma leitura oficial de uma reunião das principais autoridades do Partido Comunista, o Politburo, e antes da Conferência Anual de Trabalho Econômico Central nesta semana, para definir as principais metas e intenções para o próximo ano.

As ações da Vale subiam 5,68%, a R$ 60,04, acompanhando o aumento nos preços futuros do minério de ferro, sustentados pela expectativa de estímulos chineses. Esse cenário favorecia os papéis de mineração e siderurgia na Bolsa brasileira.

As ações da Petrobras avançavam 2,25%, acompanhando a alta de 1,70% no preço do barril de Brent, cotado a US$ 72,11, também influenciado pelas notícias da China.

Com a promessa de estímulos à economia chinesa, as ações europeias fecharam em seus níveis mais altos em seis semanas nesta segunda-feira, lideradas por ações de mineração e de luxo.

O índice pan-europeu STOXX 600 fechou em alta de 0,14%, a 521,22 pontos, e registrou sua oitava sessão consecutiva de ganhos.