Libertação, cura e até exorcismo.
Aberto em São José dos Campos, o Santuário Cristo Rei tem práticas semelhantes às da Igreja Católica Apostólica Romana e, por isso, está gerando polêmica com a instituição na cidade.
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O santuário é parte do Movimento Continuante, que é independente da Igreja Católica Romana e derivado de uma dissidência norte-americana da Igreja Anglicana da Inglaterra.
Os paramentos, títulos e rituais são praticamente os mesmos da Igreja Católica Romana, incluindo missas de cura e libertação, além de rituais de exorcismos, todos também realizados pelos católicos romanos. A igreja do movimento também chama a celebração de “Santa Missa”, faz orações e utiliza a hóstia ou o pão ázimo.
Isso provocou o posicionamento da Paróquia Espírito Santo em postagem nas redes sociais, na última quarta-feira (4).
“O intitulado ‘padre/dom Léo Assis’ não pertence ao clero, e o ‘mosteiro/santuário Cristo Rei’ não está em comunhão com a Diocese de São José dos Campos e com a Igreja Católica Apostólica Romana”, disse o padre Rogério Felix, pároco da Paróquia Espírito Santo.
Natural do sul de Minas Gerais, padre Léo Assis, 35 anos, é padre e líder do Movimento Continuante no Vale do Paraíba. Ele se tornará bispo na noite deste sábado (7), quando receberá a ordenação episcopal de três bispos do movimento, incluindo dom Georges Gaidhos, arcebispo da Igreja no Brasil.
“Eu serei tornando bispo e é parecido na Igreja Católica Romana. No nosso caso é a câmara de bispos que decide quem deverá ser ordenado bispo. Eu já era administrador diocesano local, que lidera a expansão da igreja em determinado lugar”, explicou padre Assis.
Embora os rituais e paramentos sejam praticamente os mesmos, as duas igrejas têm diferenças fundamentais. No Movimento Continuante, assim como na Igreja Anglicana, os religiosos podem ser casados e não praticar o celibato.
“Há diferenças pontuais das igrejas separadas de Roma. Não estamos submetidos à autoridade ao santo papa, mas nossa província reconhece que Francisco é sucessor de Pedro. A nossa intenção em São José dos Campos é construir pontes, enquanto movimento eclesiástico. Não queremos dividir e nem tomar fiéis de ninguém”, afirmou padre Assis.
Ele disse ter tido uma trajetória dentro da Igreja Católica Romana como seminarista em Aparecida, no Seminário Santo Afonso, em 2007. Depois disse que passou pela Ordem Franciscana, mas deixou os estudos por ter-se apaixonado por uma mulher.
“Pedi licença da vida religiosa, mas o desejo vocacional do sacerdócio continuou no meu coração e fui resolver a vida secular, e nos casamos. E tive dois filhos. Isso se tornou impeditivo para voltar à formação dentro da Igreja Católica Romana, na qual eu teria que ser um diácono apenas. Continuei meus estudos por conta própria e foi quando, em 2010, conheci dom Georges Gaidhos que é arcebispo da Igreja”, explicou o presbítero do movimento.
Segundo padre Assis, com o Movimento Continuante ele ficou sabendo que “era possível viver o ministério ordenado mesmo sendo casado”. “E comecei a minha caminhada, terminando minha a formação no movimento”.
Há um ano e meio o movimento inaugurou o Mosteiro Cristo Rei na região do bairro Vista Verde, na zona leste de São José dos Campos, para a formação de novos membros. A meta era “ampliar o reino de Deus e trazer essa nova forma de pensamento católico”, disse o padre.
Com a expansão, surgiu a ideia de criar a Diocese Cristo Rei que compreende as 39 cidades do Vale. Padre Assis contou que o mosteiro ficou pequeno e deu lugar ao Santuário Cristo Rei, um espaço de celebração no Jardim Satélite, na zona sul, para até 150 pessoas. E os planos do movimento são ambiciosos.
“Temos área de 60 mil m² no Buquirinha, na zona norte, onde construiremos o Santuário Cristo Rei. No Morumbi, um terreno de 1.000 m² será usado para abrir uma obra social, para atender crianças em situação de abandono ou vítimas do aborto.”
O religioso admitiu que não faz parte do clero romano e nem quer enganar os fiéis. “Estamos atrás do ‘desigrejados’, e não dos que frequentam a Igreja Católica Romana”.
No movimento, padre Assis disse que retoma práticas antigas, como celebrar a missa de costas para os participantes. Ele assume uma postura conservadora e disse que ter sido casado e ter filhos é conservador, e não progressista.
“São Pedro era casado. Ter sacerdotes casados é muito antigo, não é progressista. 98% do clero na Ortodoxia é casado. Na igreja primitiva, a maioria dos sucessores dos apóstolos podia casar. Resgatamos isso. O celibato enquanto imposição foi imposto no ano 1150.”
O presbítero disse ainda que procura ter uma conduta mais carismática, celebrando missas de cura e libertação e até praticando exorcismos.
“Não sou curandeiro, quem cura e liberta é Jesus. Cura, milagre e libertação é bandeira que levantamos, que as pessoas que vierem ao santuário será com essa intenção. Vai vir procurando cura, libertação da alma e do espírito, e é o Espírito Santo quem faz acontecer. Não digo que faço cura e milagre, no santuário a presença de Jesus é que fará acontecer o que ele quiser. É semelhante aos carismáticos.”
Padre Assis contou que o exorcismo dentro do movimento acontece após uma análise prévia da necessidade do fiel e após investigação do fato, quando se “exauriu toda possibilidade de ser malefício físico e mental. Antes da sagração, durante quase sete anos exerci como exorcista oficial do movimento”.
Sobre a nota da Paróquia Espírito Santo, o religioso chamou de “maldade” a colocação de que ele seria “intitulado” padre. “Não acordei e decidi ser padre. Eu passei pela formação e fui legitimamente ordenado na igreja”, afirmou. “Mas não é a Igreja Católica Romana, que não é a única que Jesus criou”.
E completou: “A Igreja Católica Apostólica Romana não é a única fundada por Cristo. É Igreja de Cristo, mas não é a única. Não queremos dividir, mas construir pontes”.