Há 135 anos, no dia 15 de novembro de 1889, acontecia a Proclamação da República brasileira. Proclamada em um golpe surpresa, segmentos da sociedade brasileira da época já se mostravam descontentes com o Império, comandado por Dom Pedro II, incluindo uma minoria do Exército e alguns fazendeiros que se sentiram prejudicados pela abolição da escravatura. Minorias que, apesar de não terem expressividade eleitoreira, desencadearam um movimento imprevisível que mudou os rumos do Brasil.
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“Se Dom Pedro II quisesse resistir, o golpe republicano teria com certeza fracassado. Mas Dom Pedro, por princípio avesso ao derramamento de sangue e, ademais, minado pela diabetes, facilmente aceitou a imposição dos revoltosos e embarcou no navio Alagoas com sua família, rumo ao exílio. A República se viu, assim, imposta como um fato consumado, sem nenhuma participação popular”, conta o professor Armando Alexandre dos Santos. “O governo revolucionário declarou desde logo que a república ‘estava provisoriamente instalada’ e prometeu consultar sem demora a população sobre qual forma de governo desejava para o país”, completou. Para manter a República, que ainda engatinhava, 1890 foi promulgada a Lei do Banimento, que baniu, limitou os direitos políticos e exilou a Família Real do Brasil.
O professor explica que o governo instituído começou a ter traços ditatoriais e chegou, inclusive, a decretar a pena de morte para quem contestasse a república. “O auge dessa ditadura se deu no governo do facinoroso Floriano Peixoto, quando o Brasil chegou a uma guerra civil e esteve a um passo de se romper a unidade nacional. Mesmo com a ascensão ao poder do civil Prudente de Moraes, o fanatismo jacobino continuou influente; foi nesse governo, lembre-se, que se deu o genocídio de Canudos”, conta.
O novo modelo de governo reverberou por todo o país. Em Piracicaba, o jornal Gazeta de Piracicaba trazia diariamente matérias e editoriais que se opunham à monarquia e vangloriavam a República. Segundo o livro “Os Passos do Saber - A Escola Agrícola Prática Luiz de Queiroz”, de Marly Therezinha Germano Perecin, o jornal foi criado para promover e homogeneizar os moldes republicanos no 8° Distrito Eleitoral da província de São Paulo, onde estava localizada Piracicaba, cidade onde o primeiro presidente civil eleito por voto, Prudente de Moraes, viveu. Em oposição ao periódico, surge o Jornal de Piracicaba, em 1900. “Cidade culta, politizada, bem ‘antenada’ com os grandes acontecimentos políticos, em nossa imprensa se refletiram todas as tendências, opiniões e preferências do público. É isso que se deve procurar na releitura das preciosas coleções de jornais da época – por exemplo, do Jornal de Piracicaba, que desde sua fundação, em 1900, exprimiu com fidelidade um veio muito marcado do pensar e do querer dos piracicabanos”, diz Armando Alexandre de Souza.
A Lei do Banimento caiu em 1920, quando Epitácio Pessoa foi presidente, permitindo que os membros da Família Imperial retornassem ao Brasil. Em 1922, em comemoração aos 100 anos da Independência do Brasil, integrantes da Família Imperial participaram, lado a lado ao presidente republicano, das comemorações da data. “Num clima de equilíbrio, concórdia e colaboração. Lado a lado estiveram, nas celebrações, o Presidente Epitácio Pessoa e o Príncipe Dom Pedro Henrique, que tinha apenas 13 anos de idade mas já era, depois da morte de sua Avó a Princesa Isabel, o Chefe da Casa Imperial do Brasil. Lado a lado também estiveram, 100 anos depois, nas comemorações do Bicentenário, o Presidente Jair Bolsonaro e o Príncipe Dom Bertrand, filho de Dom Pedro Henrique e Chefe da mesma Casa Imperial”, cita Armando Alexandre.
A probabilidade de uma discussão sobre o retorno da monarquia foi proibida por uma cláusula pétrea na Constituição, que foi derrubada em 1988 após a elaboração da atual Constituição Brasileira. “Entre 1889 e 1922 se havia passado de um confronto persecutório e radical, para uma compreensão e um desejo de colaboração. Na prática, os monarquistas deixaram de ser perseguidos e puderam somar seus esforços em proveito da Pátria”, finaliza o professor Armando Alexandre dos Santos.