23 de novembro de 2024
ANÁLISE

‘Protecionismo de Trump pode prejudicar o Vale’, diz historiador

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 4 min
Repórter Especial
RS / Fotos Públicas
Donald Trump

A vitória do republicano Donald Trump, eleito o 47º presidente dos Estados Unidos nesta quarta-feira (6), traz preocupações para analistas, especialmente pelas tendências protecionistas de Trump à frente da economia americana, o que pode trazer dificuldades para o Brasil e o Vale do Paraíba.

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Trump foi eleito após conquistar mais de 270 delegados do colégio eleitoral e superar a candidata democrata, Kamala Harris. O republicano venceu em 28 estados, enquanto que a adversária ficou com 19.

Os EUA são o principal parceiro comercial do Vale do Paraíba, além de maiores compradores dos aviões feitos pela Embraer, em São José dos Campos, maior exportadora de aeronaves do país.

De acordo com dados do governo federal, os americanos compraram US$ 2,224 bilhões das empresas do Vale em 2024, no período de janeiro a setembro, o que representa 27% do total exportado pela região no mesmo intervalo – US$ 8,239 bilhões.

A China aparece na segunda colocação, com US$ 1,763 bilhão em produtos comprados das cidades do Vale, 21,40% da totalidade.

Os americanos aumentaram em 23% as importações da região em 2024 comparado ao mesmo período de 2023, durante o governo do democrata Joe Biden, enquanto que a China ampliou o comércio com o Vale em 10,81% no mesmo período.

Quanto ao comércio de aviões, os americanos responderam por 55% das exportações de São José dos Campos neste ano, com Canadá (24%) e Ilhas Cayman (7,89%) na sequência. Ou seja, os EUA são parceiros comerciais indispensáveis ao Vale, por isso a eleição atrai tanto a atenção.

A dúvida é como ficará a relação comercial entre Brasil e EUA se Trump efetivar a promessa de adotar uma postura mais protecionista, dificultando a venda de produtos de fora para os EUA, o que afetaria sobremaneira o Brasil. Trump também tem mais conflitos com a China, parceira comercial indispensável e estratégica do Brasil.

Análise.

Na avaliação de Moacir José dos Santos, professor de História e do curso de Relações Internacionais da Unitau (Universidade de Taubaté), algumas posturas defendidas por Trump causam preocupação no Brasil e na região, como as relacionadas à questão ambiental, política internacional e economia.

“No primeiro mandato e ao longo dessa campanha, Trump ressaltou que não acredita nas mudanças climáticas, o que é preocupante, A ausência dos EUA nos grandes fóruns de discussão das medidas que podem ser tomadas para mitigar as mudanças climáticas tem impacto ambiental, político e econômico importante”, disse o professor.

No caso do Brasil, além do viés negacionista ambiental, também preocupa a promessa de Trump de elevar os impostos para produtos importados, o que vai afetar o agronegócio do Brasil e o setor de mineração e siderúrgico, que têm papel importante nas exportações para os Estados Unidos.

“Há uma preocupação mundial com essa política protecionista mais agressiva de Trump, que pode ter efeitos recessivos e inflacionários na economia internacional”, avaliou Moacir.

“Pode ter consequências negativas para o Vale do Paraíba, que já tem enfrentado dificuldades por conta da redução da atividade industrial e do emprego industrial. As medidas de Trump podem afetar a economia brasileira, especialmente o Vale.”

Internacional.

Segundo o historiador, Trump parte da premissa de que se elevar impostos vai atrair empresas para investir nos EUA, o que não é “algo tão linear”.

“Isso pode gerar pressão inflacionária e dificuldades internas nos EUA, o que afeta a economia mundial e o Brasil, gerando um encadeamento negativo que afeta outras economias, como a brasileira. Temos uma grande integração entre as empresas pelo mundo. Não é mudança simples elevar barreiras tarifárias para as empresas retornarem, além de que o emprego foi drasticamente alterado pela automação”, afirmou Moacir.

Para ele, outro ponto de preocupação é o conflito com a China, com uma questão militar envolvida.

“Países têm falado em sair da dependência do dólar, que se tornou a principal moeda na transação internacional. Se isso acontecer, provocará perda de poder dos EUA. O que Trump fizer pode ser um elemento de impacto negativo para os EUA a médio e longo prazo”, disse.

Quanto à questão política, Moacir acredita que os dois países agirão primeiro com pragmatismo, mas que a baixa estima de Trump por valores democráticos pode afetar a relação com o Brasil.

“Boas relações internacionais são importantes para os países. Brasil teve boas relações entre George W. Bush e Lula, no primeiro mandato, mas Trump não se move de maneira tão pragmática. Num primeiro momento, as relações serão basicamente formais, e o que preocupa é que Trump não tem preocupação com valores da democracia e as boas relações internacionais.”