24 de novembro de 2024
AFIRMAÇÃO INVERÍDICA

Ortiz não zerou fila de espera de creches, como afirmou em debate

Por Julio Codazzi | Taubaté
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução
Afirmação foi feita por Ortiz durante debate na TV Band Vale

O ex-prefeito de Taubaté Ortiz Junior (Republicanos), que disputa o segundo turno da eleição municipal, divulgou uma informação inverídica essa semana durante debate contra o candidato Sérgio Victor (Novo).

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Ao comentar sobre o déficit de vagas nas creches, o ex-prefeito, que comandou o município de 2013 a 2020, afirmou ter zerado a fila de espera duas vezes nesse período. "Eu já zerei duas vezes e vou zerar de novo", disse durante o debate.

No entanto, dados que foram divulgados pela própria Prefeitura ao longo do governo Ortiz mostram que a fila de espera não foi zerada nenhuma vez.

Fila.

A divulgação mensal da fila de espera no site da Prefeitura começou a ser feita apenas em julho de 2017, já no segundo mandato de Ortiz. Antes disso, porém, em diversas ocasiões a administração municipal reconheceu a existência de déficit.

Em março de 2014, por exemplo, quando anunciou a intenção de construir 16 creches até o ano seguinte, Ortiz afirmou que o déficit era de 3.000 vagas. Em março de 2016, a Prefeitura alegou que o déficit era de 600 vagas. Em entrevista em novembro de 2016, o então prefeito falou que era de 1.700 vagas. E, em janeiro de 2017, a Prefeitura afirmou que era de 1.500 vagas.

Entre julho de 2017 e fevereiro de 2020 (quando a pandemia suspendeu as aulas presenciais), a Prefeitura divulgou 31 listas mensais com a relação de crianças que esperavam por uma vaga nas creches municipais. Em 20 desses meses, a fila de espera tinha mais de 1.000 crianças. Em dois deles, passava de 2.000 - em setembro de 2017 (2.080) e em outubro de 2018 (2.120). Já as menores filas foram registradas em outubro de 2019 (196), novembro de 2019 (548), janeiro de 2019 (585) e janeiro de 2020 (656). A lista nunca apareceu zerada.

No primeiro mandato, Ortiz prometeu construir 16 creches, que somariam 3.000 novas vagas, mas apenas quatro foram entregues (Vila São José e Jaboticabeira, em 2014; Vila Aparecida, em 2015; e Estoril, em 2016), somando 581 novas vagas. No segundo mandato, foram inauguradas sete creches, somando 877 vagas: uma unidade em 2017 (Barranco, com 130 vagas), quatro em 2018 (Marlene Miranda, Monjolinho, Oásis e Portal da Mantiqueira, somando 503 vagas) e duas em 2019 (Fazendinha e Hípica Pinheiro, com 244 vagas).

Crianças na fila de espera, mês a mês.

Ex-prefeito.

Questionada pela reportagem, a campanha de Ortiz alegou que a fila de espera teria sido zerada em outubro de 2016 e em outubro de 2019. "Em outubro de 2016, havia cerca de 120 crianças à espera de vagas, o menor número da série histórica até então. Com a chegada do período de rematrículas, essas crianças foram absorvidas pela administração e, com isso, a fila foi zerada. No mês seguinte, em novembro, com a aproximação do ano letivo seguinte, o período de matrícula foi reaberto e novos alunos - sobretudo entrantes - se inscreveram para uma vaga, formando nova fila. O mesmo aconteceu em outubro de 2019, quando 196 alunos foram absorvidos pela rede municipal e, no mês seguinte, houve nova abertura do processo de inscrição, com a chegada de novos alunos".

Essa versão, no entanto, é desmentida pelos próprios números divulgados pela Prefeitura à época. Embora a campanha de Ortiz alegue agora que a fila foi zerada em outubro de 2016, a administração municipal divulgou que ela tinha 1.700 crianças em novembro de 2016 e 1.500 em janeiro de 2017. E, embora diga agora que foi zerada em outubro de 2019, os números oficiais mostram que a fila tinha 196 crianças naquele mês, 548 em novembro e 916 em dezembro daquele ano.

Além disso, a conta feita pela campanha faz uma distorção dos dados. Em setembro de 2019, por exemplo, a fila tinha 1.450 crianças. Em outubro caiu para 196, pois foram retiradas da lista as crianças que seriam contempladas por vagas em janeiro de 2020. No entanto, quando chegou o mês de janeiro e elas foram contempladas, a lista já tinha outros 656 nomes. Ou seja, efetivamente, não houve nenhum mês em que não houvesse nenhuma criança fora das creches. O mesmo ocorreu no fim de 2016.