26 de dezembro de 2024
POLÍTICA

Flávio Paradella: O soprar dos 'novos' ventos em Campinas

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 5 min
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2026 pode parecer distante, mas em Campinas o jogo já começou.

A esperada reeleição de Dário Saadi (Republicanos) aconteceu, e com números esmagadores. 66,7% dos eleitores que foram às urnas garantiram um novo mandato para o atual prefeito de Campinas. É o terceiro mandatário consecutivo que, ao tentar a reeleição, tem sucesso, e os números percentuais são parecidos. Hélio de Oliveira Santos, em 2008, obteve 67%, e Jonas Donizette, em 2016, 65%.

Os motivos para a vitória abordei na coluna do último sábado, mas o acachapante número de votos concedidos a Dário surpreendeu, inclusive, o próprio candidato. Dizem que a reeleição é como se fosse um plebiscito sobre a gestão, pois o eleitor já conhece o candidato e decide pela continuidade ou não do governo.

Nesse caso, fica claro que a administração de Dário foi aprovada, mas podemos também avaliar que as alternativas – Pedro Tourinho (PT) e Rafa Zimbaldi (Cidadania) – não agradaram o suficiente para que o eleitor optasse por uma mudança de gestão.

Cai por terra o bordão manjado de que "o eleitor está cansado de (coloque aqui o período) deste mesmo grupo político". Ouvi por anos essa mesma frase de políticos que disputavam o governo do estado contra o PSDB. Em todo pleito, só mudava o número. Isso chega a ser arrogante com quem vota, pois quem garante a longevidade “do grupo político” é o próprio eleitor. Foram 28 anos de domínio tucano no estado, que terminaram com a implosão do PSDB e a ascensão de um político de direita ligado a Jair Bolsonaro, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas que agrada boa parte da ala psdebista.

Dito isso, vejo de maneira distinta a situação das candidaturas derrotadas. Pedro Tourinho obteve 123 mil votos, 23% do total. Absorveu todos os votos da esquerda, algo que não ocorreu em 2020, quando a candidatura do PCdoB somou 12,2 mil votos, e mais de 9 mil votos foram para o ex-prefeito Hélio de Oliveira Santos, que poderiam ter ido para o petista naquela eleição, quando ele alcançou quase 97 mil votos e ficou de fora do segundo turno por conta dessa fragmentação.

A meu ver, o petista se manteve estável. Dadas as circunstâncias, isso não é de todo ruim. Ele mostrou o tamanho do eleitorado de esquerda na cidade, com quase 1/4 dos votos. Insisto: em uma próxima oportunidade, será preciso se conectar além do público cativo. No entanto, essa votação já o legitima como um favorito para disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados em 2026. Vale lembrar que Tourinho foi o candidato mais votado em Campinas para o Congresso em 2022, mas não foi eleito devido à enorme concorrência interna no Partido dos Trabalhadores. Atualmente, ele é deputado federal, assumindo o mandato temporariamente após a licença de Ruy Falcão para ajudar na campanha de Guilherme Boulos (PSOL) na capital. Além disso, Tourinho se tornou o principal nome da oposição ao governo Dário Saadi, mas esse ponto tem relação com outro rival.

Agora, vamos falar do desastroso desempenho de Rafa Zimbaldi, que foi, de fato, uma grande surpresa. A derrota em si não espanta, mas o encolhimento do total de votos foi terrível para o deputado estadual, a ponto de levantar dúvidas sobre suas chances nas próximas eleições gerais. Rafa passou de 103 mil votos no primeiro turno e 166 mil no segundo turno, em 2020, para pouco mais de 42 mil neste último domingo. Inimaginável que o candidato, que chegou como favorito ao Palácio dos Jequitibás há quatro anos, tenha tido uma performance tão fraca agora. Isso é resultado de escolhas equivocadas, já discutidas neste espaço, e de um autoisolamento.

Zimbaldi saiu bem mais fraco do que entrou nesta eleição, e o contingente de votos que recebeu, mesmo que todos se convertam em 2026, é insuficiente para garantir um novo mandato na Assembleia. Ele precisará reconstruir seu caminho de articulação e buscar capilaridade em outros municípios.

2026 pode parecer distante, mas em Campinas o jogo já começou.

E Novo, hein?

Desastrosa também foi a trajetória do Partido Novo em Campinas. Começou errado e terminou muito mal. A sigla iniciou o ano com ousadia, divulgando uma candidatura própria. A expectativa era que Alexis Fonteyne, ex-deputado federal que não conseguiu se reeleger em 2022, fosse o candidato, já que ele possuía um recall importante para dar credibilidade à primeira jornada eleitoral do partido ao executivo em Campinas.

Parecia óbvio, mas não aconteceu. Fonteyne estava em "período sabático", e a escolha inicial foi por Zé Afonso Bittencourt. Não vingou. Então, o partido decidiu lançar o vereador e pré-candidato à reeleição, Paulo Gaspar, o único parlamentar do Novo na Câmara Municipal. Era um movimento arriscado, pois, ao ser oficializado como candidato, Gaspar abriria mão de uma possível reeleição à Câmara. Mesmo assim, ele seguiu como prefeiturável até o fim de maio, quando o Novo, mais uma vez, mudou seus planos e trouxe Wilson Matos, que já havia participado do pleito municipal em 2020, como seu "coringa".

Deu tudo errado. Em nenhum momento Matos mostrou ter o perfil adequado à sigla, e, em comparação com a última eleição, quando disputou pelo Patriota, ele obteve ainda menos votos, caindo de 15 mil para 10 mil.

A situação ficou ainda pior. Mesmo com mais de 4 mil votos recebidos por Paulo Gaspar, o Novo não alcançou o quociente eleitoral necessário para garantir uma vaga na próxima legislatura.

O Novo, que já não entusiasmava pelo seu tamanho, ficou ainda menor em Campinas.

Sem mudanças

Com uma das menores taxas de renovação em eleições recentes, o legislativo campineiro viu 23 dos atuais vereadores conseguirem a reeleição. Além disso, dois nomes substituem parlamentares que abriram mão de disputar o pleito justamente para apoiá-los: Roberto Alves entra no lugar de Fernando Mendes (Republicanos), e Nick Schneider assume a cadeira que era de seu pai, Jorge Schneider (PL). Outro "novo" nome é um velho conhecido do parlamento: Luiz Yabiku (Republicanos).

Quanto à composição da casa, as coisas permaneceram praticamente inalteradas. De imediato, o governo Dário mantém uma maioria com 26 vereadores que devem compor sua base. A bancada de esquerda continua com seis membros, com duas alterações de nome. Resta saber como se portará o novo Vini Oliveira (Cidadania), o segundo mais votado nesta eleição.