26 de dezembro de 2024
POLÍTICA

Flávio Paradella: O fim da corrida e o destino de Campinas

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 6 min
Divulgação
Cinco candidatos disputam a principal cadeira do executivo neste domingo.

A eleição em Campinas está em sua fase final. Neste domingo, mais de 880 mil eleitores estão aptos a escolher quem será o próximo a comandar a metrópole a partir de 1º de janeiro de 2025. Na coluna de hoje, ouso responder a uma pergunta que me foi feita ao longo desta corrida eleitoral: quem vai ganhar?

Digo com sinceridade que seria uma enorme surpresa, dadas as circunstâncias desta eleição, se a fatura não for liquidada já no primeiro turno, com a recondução de Dário Saadi (Republicanos) para mais quatro anos de mandato.

Uma curiosidade: desde o advento da reeleição, todos os prefeitos que tentaram não só venceram o pleito como também conseguiram votações expressivas no primeiro turno. Temos os casos de Dr. Hélio, em 2008, que obteve 67% dos votos, e Jonas Donizette, em 2016, com 65%.

Mas o resultado não se justifica por um padrão histórico. O que realmente importa é o que o candidato tem a mostrar e como os adversários se portaram na disputa, explorando os pontos críticos da administração. É exatamente nesses quesitos que vejo uma fragilidade nos rivais.

Em nenhum momento os candidatos adversários conseguiram estabelecer uma conexão com o público. O eleitorado demonstra uma preocupação mínima com os rumos eleitoral cidade, focado mais em questões ideológicas ou curioso sobre o destino da capital. Esse já era um enorme desafio para as candidaturas.

Tirando isso, vamos a uma análise mais específica de cada postulante. Quem acompanha a coluna sabe que, há tempos, vejo a formação da campanha de Pedro Tourinho (PT) com um problema que considerava grave e, hoje, acredito ser um dos motivos para o provável insucesso: não saiu da bolha. Tourinho se fechou em um grupo exclusivamente de esquerda, agradando ao militante mais extremista, mas sem dialogar com o eleitor médio, que, em Campinas, ainda tem dificuldade em aceitar o PT. Apesar de falar em diálogo, o candidato não demonstrou essa capacidade, já na montagem do time para o pleito.

A campanha, embora tecnicamente bem feita, também insistiu em outro ponto que pouco agrega para o campineiro: o uso da imagem do presidente Lula, e somente isso, a imagem, teve Tourinho. Os marketeiros petistas, com todos os seus trackings e pesquisas, sabem que o presidente não é visto de maneira positiva pela maioria conservadora da metrópole hoje. Vale lembrar que Jair Bolsonaro venceu Lula na eleição em Campinas, em 2022. Sendo assim, utilizar a cada frase não foi uma boa escolha, parecendo até uma obrigação — talvez até uma ordem do Planalto para reverter essa impopularidade. De qualquer forma, Tourinho exauriu a parceria com o presidente, e o fato é que Lula não veio, como já fez em outras eleições municipais para prestigiar o amigo Dr. Hélio, então do PDT, e Márcio Pochmann, do PT.

No caso de Rafa Zimbaldi, o candidato enfrenta problemas crônicos que o acompanham desde a última eleição, em 2020. Naquele pleito, Rafa estava no PL e era considerado o favorito antes do início da campanha, tanto que, naquele momento, conseguiu angariar o apoio de uma legenda ainda com certa força: o PSDB. Aqui já houve um problema, pois os tucanos vieram obrigados por uma decisão de Carlos Sampaio. Rafa ganhou a sigla, mas viu o partido rachar, com os candidatos a vereador debandando para o adversário, Dário Saadi. Zimbaldi derreteu naquela eleição, a ponto de quase não ir para o segundo turno. Foi, e perdeu. Faz parte do jogo.

Entretanto, essas “arrumações” políticas equivocadas se repetiram de maneira similar. A chegada forçada do União Brasil é um exemplo e lembra a do PSDB na eleição passada. Rafa ganhou o casco (com tempo de TV e fundo eleitoral), mas não tem os soldados para ir a campo, que são os candidatos a vereador. São eles que “pisam no barro” para defender não só suas próprias candidaturas, mas também o candidato ao executivo. Aliás, as outras siglas que compõem a coligação têm, em sua maioria, uma “executiva provisória”. Falta gente para defender as ideias de Rafa Zimbaldi, para lutar pelo candidato. O deputado peca por não conseguir aglutinar apoiadores.

Já quanto a Dário Saadi, desde que iniciei meus passos neste espaço no Portal Sampi Campinas, exponho minha opinião de que a gestão do atual prefeito é “sem sal”. Não há marcas tão visíveis da administração, que, claro, entregou o Hospital Pediátrico Mário Gattinho e conseguiu agora finalizar a inauguração das 16 supercreches (Espaço do Amanhã). Só que o governo ainda padece de atrasos em obras da era Jonas Donizette, como a totalidade do BRT e o Centro de Convivência. Reformas, como a do Hospital Mário Gatti, levaram muito mais tempo que o previsto e, na primeira chuva forte, já apresentaram problemas (algo semelhante ao que ocorreu no Mário Gattinho). Dário também não consegue tirar do papel a licitação do transporte público, julgada irregular desde 2015, que passou por Jonas e, agora, quatro anos com Saadi estagnada, enquanto o usuário sofre com ônibus sucateados e caros.

No entanto, o eleitor reconhece a condução do prefeito e de toda a equipe da saúde durante a segunda onda da pandemia de Covid-19. Foi um período terrível para nossas vidas, e o prefeito, entre decisões acertadas e equivocadas, teve um saldo positivo. Além disso, Dário passou a se comunicar com mais frequência e a usar as redes sociais, ganhando a alcunha de “prefeito-influencer”, mas pavimentou um caminho para garantir engajamento nesta etapa. No âmbito político, sem uma figura clara para vestir a camisa bolsonarista, o prefeito soube se equilibrar para garantir a simpatia dessa camada de eleitores, ao não investir na figura do ex-presidente e sim na do governador Tarcísio de Freitas. Na campanha, com quase 60% do tempo de TV e rádio, aproveitou para mostrar as obras e prometer, mais do que novos projetos, finalizar o que está pendente. A estratégia parece ter dado certo, e o que parecia uma “muleta” se tornou uma peça narrativa importante para a campanha.

É claro que o prefeito não esperava o impacto de uma cassação de registro pela acusação de abuso de poder político, o que mudou os rumos da campanha nas últimas duas semanas, deixando Dário na defensiva. Saadi recorreu e diz ter certeza de uma decisão favorável, mas vai para a disputa do primeiro turno com a mácula de “cassado em prazo recursal”. Embora com efeito suspensivo, a situação causa confusão e apreensão para o futuro. De qualquer modo, as pesquisas indicam que o eleitor “comprou” a argumentação, e o atual prefeito segue como franco favorito para vencer a eleição neste domingo.

É óbvio que a análise parte dos materiais e conteúdos apresentados até aqui. Como disse, seria uma enorme surpresa outro resultado. É possível descartá-lo? Claro que não, pois quem decide é o eleitor, em mais uma demonstração de como é bom vivermos em uma democracia.

Vote com suas convicções, e, seja quem for o prefeito em 2025, a cobrança por qualidade na gestão da coisa pública deve ser mantida. Às urnas, Campinas!