O tempo! Como está o tempo? Como está seu tempo? Você tem um tempo?
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Ele, o tempo, é o tema da FLIM (Festa Literomusical de São José dos Campos-SP) em 2024; a décima edição será realizada em 20, 21 e 22 de setembro no Parque Vicentina Aranha.
O tempo, ah, o tempo! Sobre ele se debruçam poetas, compositores, cantadores, profetas, cientistas, lunáticos, historiadores, publicitários, enfim, todos que ousam adentrar os portais de seus mistérios.
As sábias palavras indicam que a existência humana é efêmera, semelhante à relva; floresce como a flor do campo, que se desmorona quando o vento sopra e depois não é lembrada sequer onde estivera plantada. A vida é um sopro, o tempo é como a sombra que passa e breve é a vida, um vapor que se dissipa, secando a erva, cai a sua flor num instante.
Para o músico, o tempo é rei e pai, compositor de destinos. Sim, o tempo, o tempo não para, ele passa e juntos vamos deixando nossas pegadas pelo caminho. Com todo o tempo do mundo, não há tempo a perder com nosso próprio tempo.
Para a divina criação, um dia é como mil anos, e mil anos como um dia. Seu tempo é perfeito e não há atrasos, nem antes nem depois, vai além de chronos, não se prende ao cronológico; é kairós, espiritual, sem limites e imutável em sua eternidade, o princípio, o meio e o fim; passado, presente e futuro ao mesmo tempo. O que é, já foi; e o que há de ser, também já foi. Um tambor de todas as mãos, peles, raças, cores, línguas e de todos os gêneros, credos e ritmos.
Muitos consideram que para tudo há um tempo determinado. Há tempo de nascimento e de morte, de semeadura e de colheita, de doença e de cura, de derrubar muros e de construir pontes, de choro e de sorriso, dançar e dormir. Tempo de espalhar e ajuntar, de chegada e partida, de procura, encontro e despedida, de abraçar e dizer adeus, de acúmulo e desapego. Tempo de silêncio e grito, de luta e resiliência, conflitos e paz. Apenas não deveria haver tempo para o ódio e que o amor sempre florescesse pelos caminhos, afinal, o que veio do pó, ao pó voltará. Portanto, não se deveria perder tempo com mesquinharias e mediocridades.
Não tem como ignorar, o tempo passa mais depressa do que se imagina, é muito curto e não espera por ninguém, pois possui a essência da eternidade, extrapola além da vida, que passaria a ser perene em outras dimensões. A alma tem pressa e sede de outros mundos, onde ainda não se distingue semblantes nem se entende o que há nas páginas brancas do grande livro do poeta maior.
O tempo segue adiante em seu próprio rumo e ritmo, vai fluindo como as águas do rio, uma embarcação de lembranças, sonhos e aprendizado. Não tem volta, ele vai sempre em frente. O tempo é o agora no pulsar da vida, o presente a vencer obstáculos e conquistar fronteiras. O tempo é crescimento, é veloz e não há quem possa detê-lo. Ele ensina, mas não nos livra da ventania dos temporais. Por vezes, sem rumo, não adianta nem morrer. Nada é por acaso, os sinais estão por toda parte, é urgente que se plante jardins para que se chegue com flores no cabelo na outra margem do rio. Que girassóis iluminem a alma imersa na escuridão de profundezas abissais!
Entre árvores e casarões históricos, crianças brincam com o tempo, sem pressa nem preocupações. O tempo perguntou ao tempo qual é o tempo que o tempo tem. O tempo respondeu ao tempo que não tem tempo para dizer ao tempo que o tempo do tempo é o tempo que o tempo tem. Às vezes, em espiral o tempo cruza linhas da ancestralidade e de antepassados, entre vida e morte, envolvendo passado, presente e futuro. Nesse turbilhão a urgência de enfrentar os obstáculos que nos cercam e ameaçam a existência humana no Planeta.
Vida a correr na encantada odisseia com a misteriosa luz a acenar no fim do tunel do tempo numa viagem de volta para o futuro . É inevitavel romper fronteiras de horizontes por conquistar.
Da capela do parque centenário o sino dobra por todos que ousam atravessar seus divinos umbrais.
Afinal, qual é o tempo que o tempo tem? Qual o tempo que ainda resta antes do encontro com o barqueiro da morte, Caronte, a transportar almas através das águas na descida ao Hades para o julgamento que irá determinar o local de descanso, ou não. O inferno trágico na divina comédia de Dante, o tempo se arrastando em trevas.
Tempo de agonia sobre a vida que se fere entre cacos de um mundo caótico e imbecilizado, tomado por criaturas abjetas de idiotice consumada, oriundas do lixo da história desumana. Retornaremos à luz? O corvo de Poe está a repetir incansavelmente: “nunca mais”. Uma maldição de que o tempo “é só isto, e nada mais”. Será?
O poeta segue pelas águas escuras e apressadas, está cansado e sem forças, mas continua remando sua canoa até a outra margem do rio. Caronte espreita no nevoeiro, em seu ombro a ave agourenta. Mas, o tempo é a poesia que teima em sobreviver, ainda que em versos quebrados pela intempérie e pelas pancadas da própria existência.
Tempo que o tempo tem...