29 de novembro de 2024
ELEIÇÕES 2024

O que diz a pesquisa? Cury lidera, Elton sobe e Anderson acuado

Por Guilhermo Codazzi | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 7 min
Editor-chefe de OVALE
Reprodução
Campanha em São José é a mais disputada das últimas décadas

Extra! Extra! Extra!
Caiu como uma bomba a nova pesquisa sobre a corrida eleitoral em São José dos Campos, realizada pelo Ipec e divulgada pela TV Vanguarda, na noite desta terça-feira (17).

O levantamento traz boas notícias para Eduardo Cury (PL), que lidera a disputa com 33% das intenções de voto, na pesquisa estimulada, e para Dr. Elton (União), que aparece com 22% e pela primeira vez aparece numericamente à frente de Anderson Farias (PSD), que tenta a reeleição, e tem 20%. Pela margem de erro, de 3 pontos para mais ou para menos, Elton e Anderson estão tecnicamente empatados. A nova pesquisa é péssima para o atual prefeito.

Depois, aparecem Wagner Balieiro (PT) com 11%, Toninho Ferreira (PSTU) com 2% e Prof. Wilson Cabral (PDT) com 1% - os dois últimos também estão em cenário de empate técnico.

E o que mudou? Em agosto, nos dias 22 e 27, pesquisas publicadas por OVALE e Ipec, respectivamente, apontaram empate técnico entre Cury e Anderson -- o candidato do PL, em maio e junho, em levantamentos da TV Band Vale e OVALE, tinha liderança folgada, com mais de 18 pontos percentuais de vantagem. Resumindo: as pesquisas de agosto mostraram a redução da vantagem de Cury.

Por quê? Com liderança folgada, Cury submergiu após as pesquisas do primeiro semestre, desapareceu dos olhos do eleitor -- não foi a debate, não concedeu entrevistas, não apareceu. Com isso, os adversários aproveitaram esse hiato, no mesmo espectro político de Cury, e avançaram. Traduzindo: naquele período o candidato do PL não entrou em campo, Anderson e Elton avançaram.

Cury viu a distância cair, mas não teve aumento na rejeição, por exemplo. Perdeu terreno por desaparecer. No entanto, após a pesquisa de OVALE de 22 de agosto, bombástica, recalculando a rota, Cury tornou-se candidato.

Cury entra na briga.

O que mudou das pesquisas de agosto para cá? Por que Cury descolou de Anderson? O que explica a oscilação negativa do atual prefeito? Como Elton ganhou terreno e cacifou-se como uma terceira via?

A nova pesquisa do Ipec é a primeira a mostrar o impacto da campanha em rádio e televisão, que começou no dia 30 de agosto. Era esperado que Cury estivesse melhor agora do que em agosto, já que até agosto ele não tinha feito campanha (estava submerso) e aparecia com 29% no Ipec. Seria natural que, com a campanha na rua (e nos meios de comunicação) ele conquistasse mais eleitores.

Nesta primeira quinzena de horário eleitoral, alguns fatores foram determinantes para a oscilação positiva de Cury. Quando entrou na campanha, Cury adotou um tom acima, dizendo que o grupo de Anderson traiu o eleitor de São José, que coloca em risco o futuro da cidade por "calotes milionários" nas finanças, que foi incompetente para realizar uma nova licitação do transporte público, etc.

Em uma propaganda melhor calibrada, já de cara, Cury cacifou nos apoios nacionais (mostrou Tarcísio de Freitas, clã Bolsonaro, Nikolas Ferreira, entre outros) e explorou a proximidade com o ex-prefeito Emanuel Fernandes (PSDB), entre outras estratégias, mostrando as realizações do tempo em que foi prefeito (2005 a 2012). A rejeição de Cury, do Ipec de agosto para setembro, caiu praticamente pela metade, de 25% para 13%.

Anderson nas cordas.

Do ponto de vista estratégico, o maior acerto de Cury nesta primeira quinzena, foi a aposta no tema contas públicas.
Como munição, no objetivo de apontar falhas na gestão fiscal, Cury foca principalmente na dívida do Paço com o IPSM (Instituto de Previdência do Servidor Municipal) -- a administração atual assinou, em janeiro deste ano, um acordo para parcelar em cinco anos a dívida de R$ 320,368 milhões referente a repasses não efetuados de novembro de 2021 a dezembro de 2023. Há uma nova dívida, de R$ 31,321 milhões, referente a junho e julho.

O tema "sequestrou" a campanha de Anderson nas últimas duas semanas, deixando nas cordas o candidato à reeleição, que ficou acuado, defendendo-se ao invés de pautar o debate. Na gíria dos tempos atuais, Cury alugou um tríplex na cabeça
(e na campanha) do adversário. O atual prefeito, inclusive, se esforçou para tentar reverter o quadro, celebrando um prêmio do TCE (Tribunal de Contas do Estado) por boa gestão fiscal.

Em contato com OVALE, o TCE informou que não é responsável pelo prêmio, tendo sido convidado para a cerimônia de premiação. A gestão fiscal do município é avaliada com a nota 'C+' pelo IEG-M (Índice de Efetividade da Gestão Municipal), criado pelo Tribunal. Apesar de hermético, de ainda não atingir o andar de baixo, a estratégia fustigou a campanha de Anderson e foi endossada por Dr. Elton, que bateu na mesma tecla e centrou fogo no candidato do PSD, aproveitando uma queda na avaliação do governo (em agosto, segundo o Ipec, 56% aprovavam e 31% desaprovavam o governo; agora são 50% e 41%, respectivamente) e aumento na rejeição do prefeito (de 13% para 19%).

Sinais de alerta.

Nos últimos dias, nos corredores (e conversas de WhatsApp) da política, sinais claros apontavam para uma desvantagem de Anderson, para a possibilidade de Cury ter reaberto distância.

Nas cordas, Anderson tem buscado novos motes de campanha, principalmente após ver ruir os apoios com que sonhava, como Jair Bolsonaro (PL) e Tarcísio. Ele se aproximou do controverso Pablo Marçal (PRTB), candidato a prefeito de São Paulo, no pior momento do ex-coach, lançou um podcast com o vice-governador Felicio Ramuth (PSD) e intensificou a participação da família na TV e nas redes sociais.

Além disso, Anderson tem buscado blindar os ataques de Cury, tentando rotular o oponente, amigo de outrora, como mentiroso, celebrando os dois direitos de resposta conquistados na Justiça Eleitoral.

Nos bastidores, dias antes da pesquisa, assessores fizeram circular a tese de que Cury tinha intensificado os ataques para aparecer bem na pesquisa. Nesta terça, minutos antes da divulgação do Ipec, foi a vez de dispararem números próprios, de um levantamento interno, que daria vantagem a Anderson (?). Era uma forma de preparar o terreno, para criticar a nova pesquisa, o que veio minutos depois.

Esclarecimento na Justiça

Com os números do Ipec no ar, foi a vez de criticar a pesquisa: "A Coligação São José do Jeito Certo, formada pelos partidos MDB, Podemos, PP, PRD, PSD, Republicanos e Solidariedade manifesta a sua dúvida em relação ao resultado divulgado pelo IPEC/TV Vanguarda, porque as pesquisas internas da coligação são completamente diferentes deste dado apresentado. Cumpre destacar que a grupo Globo não contrata mais o IPEC em suas emissoras próprias, apenas os institutos Quaest e DataFolha, procedimento diferente do adotado pela Rede Vanguarda. A coligação já está pedindo na Justiça todo o detalhamento da pesquisa,  para esclarecimento dos fatos", diz a nota da coligação de Anderson.

Vale lembrar que, no fim de agosto, os números do mesmo Ipec, então positivos, foram celebrados pela campanha do candidato à reeleição. Nesta campanha, Anderson já se insurgiu contra um levantamento da TV Band Vale, do Instituto Paraná Pesquisas. Para esta semana, a TV Record divulga na próxima sexta-feira (20) um novo levantamento, do instituto Real Time Big Data.

Em geral, políticos amam pesquisas que trazem boas notícias, odeiam pesquisas que trazem más notícias.

E agora, (São) José?

O novo levantamento do Ipec mexe nas estratégias, chacoalha o tabuleiro político de São José.
Com vantagem de 11 pontos percentuais, Cury manterá a mira em Anderson, em estratégia que deu resultado? Cacifará ainda mais na sua rede de apoios? Apostará mais em propostas? Passará a golpear mais o Dr. Elton, com quem estaria empatado em um eventual segundo turno (44% contra 41%)?

No segundo pelotão, na briga por uma vaga no segundo turno, estão Dr. Elton e Anderson. O médico cresceu (foi de 11% para 22%) centrando fogo na atual gestão e apostando em uma linguagem eficaz nas redes sociais. Vai seguir? Guardará munição para Cury? Ou o candidato do PL ficará mais livre da artilharia rival nas próximas semanas? Anderson vai mirar em Cury ou Elton? Vai corrigir o rumo da campanha?

Em relação a Elton e Anderson, lembro-me de uma anedota. Dois homens estão em uma clareira na selva e, de repente, aparece um leão. Um deles, assustado, prepara-se para correr. O outro, por outro lado, senta-se e retira da mochila um tênis de corrida, pondo-se a calçá-lo. Incrédulo, o amigo questiona: "Você acha que vai correr mais do que o leão?" Então, já com os tênis de corrida, o outro responde: "Mais do que o leão não, mais do que você".

Elton e Anderson, roda a roda, agora brigam pela segunda posição. Quem vai calçar o tênis de corrida?