25 de dezembro de 2024
IDEIAS

Um Raio - X das apostas esportivas

Por Filipe Rosa | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 2 min

Essa semana peguei para ler o Raio-X do Investidor, pesquisa realizada pela ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais). Essa pesquisa é interessante e muito abrangente, considera várias classes sociais, gêneros, renda etc. Se tiver curiosidade, pode acessar a pesquisa neste link: https://www.anbima.com.br/pt_br/especial/raio-x-do-investidor-brasileiro.htm

 

Fui surpreendido pelos resultados do relatório quando vi a conclusão de que 14% da população brasileira participa ativamente de apostas esportivas (as famosas “bets”) e quase a metade desse pessoal considera isso uma forma de investimento. É nítido que este mercado está crescendo, cada vez mais clubes de futebol são patrocinados por essas empresas, cada vez mais personalidades públicas se juntam ao time de divulgação. A curva de adoção de apostas esportivas é muito mais acelerada do que a de investimentos de verdade, como renda fixa e bolsa de valores. Sendo os investidores em bolsa de valores responsáveis por 2% apenas da população. A poupança é o único item pesquisado que supera a popularidade dos “bets”.

 

Outro ponto preocupante foram os comentários de Belmiro Gomes, CEO do Assaí (rede varejista), que disse estarem notando uma diminuição na renda disponível para compra de produtos vendidos pelo Assaí em decorrência de perdas nas apostas esportivas. É isso mesmo, o “chefão” de uma grande rede de varejo está preocupado, pois as pessoas estão perdendo dinheiro em apostas esportivas e, com isso, comprando menos alimentos.

 

Há alguns meses li um livro famoso chamado O Poder do Hábito (autor Charles Duhigg), onde são apresentados vários casos de bons e maus hábitos. Acredito que podemos fazer um paralelo sobre essa situação das “bets” com o caso de Angie Buchmann, mulher que desenvolveu o vício (mau hábito) de apostas em cassinos, levando-a a perder seu patrimônio, a herança que recebeu de seus pais, sua casa e seu casamento. O livro explica que todo comportamento é desencadeado por uma Deixa, seguida por uma Rotina e uma Recompensa.

 

Os “jogos de azar”, assim chamados não por acaso, podem apresentar 3 resultados possíveis: uma vitória, uma derrota e uma “quase vitória”. A “quase vitória”, racionalmente, é uma derrota. No entanto, a sensação de quase ganhar alguma coisa desencadeia em nosso cérebro uma poderosa reação de Recompensa, muito semelhante a uma vitória real. Essa reação pode potencializar comportamentos repetitivos, mesmo que prejudiciais. Fez a conexão?

 

Uma das maiores varejistas do Brasil reportou que pessoas estão comprando menos mantimentos, pois estão perdendo dinheiro nas “bets”. A ANBIMA reportou que existem muitas pessoas participando de “bets” e, inclusive, esse número só aumenta. Isso me parece um problema muito grave. Esse vício está se disseminando, é apoiado pela mídia e divulgado por muitos rostos simpáticos e queridos. Não percebo nenhuma ação das autoridades no sentido de regular essa atividade, tampouco conscientizar a população sobre os riscos que correm.

 

A melhor maneira de ficar rico é ir devagar. Promessas de ganhos rápidos e fáceis funcionam para quem está vendendo esse sonho, somente. Não esqueça: a banca sempre vence.