30 de agosto de 2024
CRIME BRUTAL

Condenado por morte de corretora em SJC está foragido há 10 anos

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 6 min
Repórter Especial
Reprodução
Valéria Fátima de Castro tinha 25 anos quando foi morta

Uma década de angústia e sem paz no coração.

É assim que vive a mãe da corretora de imóveis Valéria Fátima de Castro, brutalmente assassinada aos 25 anos de idade em São José dos Campos. Ela teve o corpo todo queimado. O caso chocou a cidade.

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Valéria foi morta em fevereiro de 2015 pelos colegas de trabalho, após uma discussão sobre comissão da venda de um imóvel. Quatro acusados foram condenados pela Justiça, sendo que um deles está foragido desde o crime. Ele vai completar 10 anos sem responder ao homicídio.

“Acabou com a vida da gente, com a minha, com a dos filhos dela. Ninguém espera isso acontecer. Uma parte minha foi embora. Espero que a justiça dos homens se concretize”, disse a mãe da corretora em um vídeo sobre o caso.

A Polícia Civil procura por Lucas de Limas Pinto, de 34 anos, desde que o caso foi solucionado pela equipe de Homicídios de São José, em uma das investigações mais complicadas na qual o grupo trabalhou.

Há um mandado de prisão expedido contra Lucas que segue válido até 2041. Ele foi condenado a 21 anos e quatro meses de prisão em regime fechado, mas segue desaparecido. Ele é apontado como o mentor do crime brutal que tragou a vida da jovem corretora.

“Que eles paguem pelo crime. Destruíram não só a minha família, mas a família deles também. A perda maior foi a minha, pelos meus netos, que não têm a mãe. É muita crueldade”, disse a mãe de Valéria.

“Nunca esqueci a minha filha e não vou esquecer. É muita dor perder um filho na forma como perdi. Rezo e peço a Deus todos os dias para ele ser encontrado. Quero que ele fale a verdade, para eu ter um pouco de paz e conseguir dormir em paz. Se eu não tenho paz, tenho certeza que eles não têm paz também. Perder um filho é a pior coisa no mundo.”

Corpo carbonizado.

O corpo de Valéria foi encontrado carbonizado numa estrada de terra na região norte de São José, em 13 de fevereiro de 2015. Era sexta-feira, véspera de Carnaval. Terminava de forma lúgubre e misteriosa a vida de Valéria, casada, mãe de dois filhos e corretora de imóveis em São José.

Só que ninguém sabia quem era a mulher queimada. Não havia documentos ou qualquer tipo de identificação. As chamas destruíram todos os traços que pudessem ajudar os policiais a desvendar a identidade da vítima.

Sem identificação, o caso não foi encaminhado diretamente à equipe de Homicídios de São José, mas para o setor de Desaparecidos da DIG (Delegacia de Investigações Gerais) da cidade.

Primeiro, um detalhe colaborou para corroborar a convicção de que o corpo carbonizado era o de uma mulher. Um dos pés não havia sido inteiramente consumido pelo fogo. Era muito semelhante ao pé de uma mulher, mais delicado do que o de homem, e as unhas estavam pintadas de vermelho.

Os policiais analisaram registros de pessoas desaparecidas em data próxima ao encontro do cadáver e descobriram o boletim de ocorrência de Valéria, registrado pela mãe.

Mas a certeza de que o corpo carbonizado era mesmo o de Valéria só viria muito tempo depois. A investigação levou cerca de dois meses. Quando o laudo da perícia ficou pronto, confirmando a identificação do cadáver, que precisou ser exumado, os investigadores já haviam chegado aos autores do crime e pedido a prisão deles, concedida posteriormente pela Justiça.

Investigação.

Os policiais obtiveram da Justiça permissão para interceptar as ligações do telefone celular da corretora. Com isso, estabeleceram o círculo de amizades dela e seus contatos mais frequentes, especialmente os profissionais.

Descobriram que havia um grupo de corretores da imobiliária em que ela trabalhava com o qual Valéria costumava se relacionar com mais frequência. Alguns depuseram à polícia na condição de testemunhas, chamados pelos policiais do setor de Desaparecidos na DIG.

Foi aí que a história começou a tomar um rumo inesperado, com mentiras se sobrepondo a mentiras, falsas acusações, depoimentos forjados e muita ameaça nos bastidores. Tudo isso lançava o caso em trevas ainda mais nebulosas.

Colega de trabalho de Valéria, Lucas era pródigo nas versões sobre o desaparecimento dela. Foi ele quem mais chamou a atenção dos policiais, contando três narrativas acerca do caso.

Os policiais suspeitaram dessas alegações desde o início. Não pareciam verossímeis e tampouco combinavam com a vida de Valéria e as circunstâncias do desaparecimento dela. Seguir o dinheiro foi importante vetor para se descobrir o plano maligno engendrado contra a corretora.

Dinheiro.

Os investigadores descobriram que Valéria havia negociado imóveis de alto padrão cujo comprador pagaria R$ 100 mil em comissões diretamente a corretores da imobiliária, do grupo ligado à vítima.

No entanto, houve uma série de contratempos para o pagamento dessas comissões. Havia uma disputa pelo dinheiro da venda do imóvel. Nesse ínterim, os policiais identificaram os quatro colegas de trabalho da corretora que estavam mais diretamente envolvidos com a divisão da comissão.

Não estava claro como o grupo dividiria as comissões, mas parecia bastante certo que uma desavença se estabelecera entre eles e Valéria quanto ao pagamento. A investigação evoluiu a ponto de evidenciar a participação de cada corretor no emaranhado que se fechou em torno da corretora.

Morte.

Na noite da sua morte, segundo os investigadores, a corretora foi atraída pelos colegas para um encontro numa casa noturna de São José. O convite teria sido apenas um arranjo para fazer a corretora não suspeitar de nada.

O carro usado foi o de Lucas. Ele dirigia e Valéria estava ao seu lado. No banco de trás, os outros três acusados pelo crime, um homem e duas mulheres.

Em dado momento, segundo depoimentos e depois reconstituição do crime feita pela polícia com a participação das duas mulheres, o colega da corretora a teria abraçado por detrás do banco e apertado o pescoço com ambos os braços. Ele era um sujeito de constituição forte que tinha carteirinha de uma academia de MMA de São José, com o apelido de Brucutu.

Segundo a perícia, Valéria foi morta por asfixia depois de um golpe de estrangulamento, do tipo mata-leão.

Com a mulher desfalecida, os ocupantes do carro dirigiram-se a uma estrada rural da zona norte de São José, onde o corpo da corretora foi deixado. O grupo voltou à cidade para comprar gasolina em um posto de combustíveis, para depois retornar ao local onde deixara Valéria. Então, com a gasolina, a corretora foi transformada em uma fogueira.

Acusados.

A Polícia Civil pediu a prisão de todos os quatro suspeitos. O colega que apertou o pescoço de Valéria foi preso em 15 de abril de 2015 e as duas mulheres em junho daquele ano. Lucas está foragido desde que prestou depoimento aos investigadores, ainda em março de 2015.

Em fevereiro de 2020, cinco anos após o crime, os acusados foram condenados pela Justiça, por meio de júri popular em São José.

As duas mulheres, que haviam sido inocentadas em sessão anterior, foram condenadas a dois anos e seis meses de prisão em regime semiaberto pelo crime de ocultação de cadáver.

Réu foragido e que foi representado no julgamento por um defensor indicado pela Justiça, Lucas foi condenado a 21 anos e quatro meses de prisão em regime fechado por homicídio e ocultação de cadáver.

O colega que apertou o pescoço da corretora foi condenado em 2016. Contudo, a pena inicial de 15 anos de prisão foi ampliada para 18 anos e oito meses após recurso do Ministério Público. Ele está preso desde 2015.

Foragido há quase 10 anos, Lucas entrou para a lista de criminosos mais procurados pela Polícia Civil de São José dos Campos.