14 de agosto de 2024
ACIDENTE DA VOEPASS

Jovem remarcou a passagem e entrou no avião que caiu

Por Mariana Zylberkan | da Folhapress
| Tempo de leitura: 3 min
Arquivo Pessoal
Miguel era gestor de um parque

Com voo marcado para a última quarta-feira (7), Miguel Arcanjo Rodrigues Júnior, 29, teve que adiar a viagem de Cascavel (PR) para o aeroporto de Guarulhos após ser informado de mudanças na conexão que faria para  Angola, onde morava havia cinco anos. Ele embarcou dois dias depois no avião da Voepass que caiu em Vinhedo (SP), pouco antes de chegar ao destino.

Gestor de operações do parque Nacional do Iona, o maior do país africano, ele voltava ao trabalho após passar uma temporada com a família em Cascavel. "Atrasou o voo para Angola. Eu nunca imaginei que isso poderia acontecer com meu filho. É uma paulada", diz o pai, Miguel Arcanjo Rodrigues.

No dia da viagem, Rodrigues Júnior se atrasou para o embarque e insistiu com os funcionários da companhia aérea para entrar no avião senão perderia a conexão em São Paulo. "Mais dois ou três minutos de atraso e ele teria escapado. Eu acho que era a hora dele", diz o pai.

A direção do Parque Nacional de Iona emitiu uma nota em sua homenagem. "Miguel estava a preparar-se para regressar temporariamente ao Parque Nacional do Iona, com o desejo de voltar a trabalhar conosco, algo que o enchia de alegria", diz trecho.

A família de Realeza, cidade com cerca de 17 mil habitantes no oeste paranaense, se mudou para Cascavel quando ele tinha 6 anos. Ao atingir a maioridade, ele serviu o Exército na base militar da cidade foi indicado para o trabalho no exterior por um conhecido da família. "Onde ele foi deixou alegria", diz o pai que soube do acidente por um colega no trabalho.

"Ele perguntou se eu tinha visto o desastre e achei que era brincadeira. Até quando minha filha que mora em Santa Catarina me ligou para dizer que o Miguel estava naquele avião. Aí acabou o mundo."

O plano do filho era voltar para Angola e trabalhar mais cinco anos para juntar dinheiro e comprar mais uma casa na cidade e um barco para pescar com o pai. "Ele estava fardado com o uniforme do parque e um boné do Congo Safari", lembra o pai.

Mais de 72 horas após o acidente a família ainda aguarda informações sobre a liberação do corpo. Como decidiram não ir a São Paulo, os familiares disponibilizaram material genético em uma força-tarefa montada pela Polícia Científica em um hotel em Cascavel. "Ir para lá para ficar preso em um quarto de hotel, eu prefiro esperar na minha casa", diz o pai.

Assim como quase todas as famílias de vítimas da tragédia, os parentes de Rodrigues Júnior recusaram a proposta da prefeitura para participar de um velório coletivo no centro de eventos municipal.

A definição do local, porém, só irá ocorrer quando o corpo chegar a Cascavel, o que não tem prazo definido. "A gente fica angustiado porque ele precisa descansar."

Os primeiros voos com os corpos de vítimas chegaram em cascavel nesta terça-feira (13). Um avião comercial e outro da FAB (Força Aérea Brasileira) foram destacados para os translados.

O casal Antonio Deoclides Zini Júnior e Kharine Gavlik Pessoa Zini foi as primeiras vítimas veladas em Cascavel, nesta terça. Os caixões foram transportados de carro a partir de São Paulo durante a madrugada. O Clube Comercial de Cascavel foi preparado para receber o velório com uma fileira de coroa de flores e uma bola e uma chuteira porque Zini Júnior foi goleiro do time da cidade.