31 de julho de 2024
ENTREVISTA OVALE

‘Se houver confronto, o PM deve reagir’, diz comandante do CPI-1

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 27 min
Repórter Especial
Xandu Alves / OVALE
Coronel Luiz Fernando Alves, comandante do CPI-1

Não tem corpo mole contra bandido.

Assim é o mantra do comandante do CPI-1 (Comando de Policiamento do Interior), coronel Luiz Fernando Alves, responsável pela Polícia Militar em todo o Vale do Paraíba.

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Em entrevista exclusiva a OVALE, ele disse que a Polícia Militar vai “combater o marginal que afronta a polícia, que afronta a sociedade”, que muitas vezes “leva pânico para aquela localidade”. E completou: “De forma muito forte, nós vamos estar presentes e combatendo”.

Questionado sobre o aumento de mortes em confronto com a polícia, indicador que subiu no Vale e em todo o estado, o comandante da PM disse que a polícia vai nas ocorrências para prender e cumprir a lei, e que o confronto sempre é uma opção do criminoso. Neste caso, a orientação é de o policial revidar ao ataque, sempre agindo dentro da legalidade.

“Se houver o confronto o policial deve sim reagir. Não há explicação para que um policial meu sangre para que ele precise legitimar uma ocorrência. Então, se a ocorrência for legítima, legal, dentro dos parâmetros legais, é uma opção do marginal [reagir]. Se ele se render, ele será preso. Se ele reagir, ele vai ter a pronta resposta do policial treinando e equipado para que ele mantenha não só a segurança do policial militar, a segurança da equipe, como da sociedade”, disse Alves.

Leia na íntegra a entrevista com o comandante do CPI-1, coronel Luiz Fernando Alves.

 

O sr. assumiu em fevereiro deste ano. Que avaliação faz do trabalho? O que já deu para implantar?

Assumimos no dia 21 de fevereiro deste ano e a avaliação é extremamente positiva. Temos um efetivo operacional muito forte de policiais comprometidos. Aqui a gente tem uma peculiaridade, dos policiais que moram, convivem e têm família na região. Isso facilita o nosso trabalho, porque é o interesse de todos que se melhora. Melhora na segurança pública.

E quando você melhora a segurança pública automaticamente você melhora diversos outros setores da sociedade, e todos ganham. É um círculo virtuoso. Eu ganho qualidade de vida, em aumento de preço de imóveis, em atração de investimentos para a região, eu ganho em educação. A segurança pública é um grande carro-chefe de uma localidade, e para nós é importantíssima.

Vindo para a região eu trouxe um movimento de muitas operações, totalmente voltado para a área operacional, para que a gente consiga mitigar os principais indicadores nossos. São indicadores que mostram o nosso trabalho, a percepção de segurança para a sociedade. Estamos fazendo operações de grande impacto nos principais centros da região e com uma diferença: chamando para essas operações diversos outros setores, e não só da segurança pública, mas também da sociedade.

Foram convidados para essas operações os prefeitos, a guarda civil, a promotoria, a Polícia Civil, a Polícia Rodoviária Federal e outros setores da Polícia Militar, como a Polícia Ambiental, Comando de Policiamento de Trânsito, Comando de Policiamento Rodoviário, Comando de Policiamento de Choque e o nosso Comando de Aviação da PM. Aqui na nossa região nós temos uma base de aviação. Colocando tudo isso daí para que dê aquele impacto realmente na localidade.

E com isso a gente vem conseguindo não só mitigar os indicadores, mas também aumentar a nossa produtividade. Como que a gente mede isso? Diversos indivíduos que estavam procurados pela justiça, marginais que estavam soltos, nós conseguimos prender e também retirar das ruas uma grande quantidade de armas e de drogas, e isso acaba impactando nos nossos indicadores.

 

Qual é seu estilo de comando? O sr. é de conversar, de planejamento ou de ação? Gosta de visitar as unidades, de ter contato com os comandados?

Acho que é um misto de tudo isso. O planejamento é importante. Nós não podemos fazer nenhum tipo de operação que não tem um planejamento prévio. O que eu falo para os meus comandantes de batalhão é que nós precisamos planejar e ter um resultado. Eu preciso apresentar o resultado daquela operação que foi planejada, e isso vem sendo feito, calcado principalmente na área de inteligência policial, para que a gente tenha alvos definidos, um objetivo definido para que, ao final da operação, eu consiga mensurar se ela foi bem planejada ou não.

Eu tenho um cunho extremamente operacional, venho da minha formação com 18 anos de Tropa de Choque, a vida inteira trabalhando no operacional. Então, estou presente e acompanho pari passu o que está acontecendo com o nosso efetivo operacional, principalmente naquelas ocorrências de gravidade, e tivemos diversas ocorrências aqui com muita gravidade. Tivemos ocorrência em que o marginal acabou se confrontando com o a Polícia Militar, com o policial militar.

Tivemos uma ocorrência na cidade de Aparecida, que o marginal reagiu e acabou efetuando disparos e acertando um sargento nosso. Então é importante a nossa presença junto com esse efetivo operacional, mostrando que também nós estamos junto com eles, dando total apoio à ação do policial militar.

 

O sr. assumiu um cargo que teve seis comandantes diferentes nos últimos seis anos, sendo que a última a ficar mais tempo foi a coronel Eliane Nikoluk, que ficou quatro anos e saiu em 2018. Esse rodízio no comando não é prejudicial para a região? O sr. pretende ficar mais tempo no cargo?

Quero parabenizar todos os que estiveram aqui, a começar pela coronel Eliane Nikoluk. Tivemos diversos outros comandantes. É importante falar que, independente do tempo que ficaram, eles sedimentaram essa estrada para que a gente chegasse no nível que está hoje. É um comando importante para a instituição, é um CPI que abrange cidades economicamente e politicamente de grande porte no nosso estado, um carro-chefe do nosso estado. Todos que passaram deixaram legados. Não dá para falar que o que está hoje não foi feito com a construção deles.

Eu sou da região, sou de Lorena, nascido e criado lá, tenho vínculo familiar, pessoal e outros na região. Pretendo, sim, ficar, construir aqui um legado e deixar mais um tijolo nessa construção tão importante da segurança pública. Tudo que estamos fazendo vem com base também nesses comandantes que por aqui passaram. Independente do tempo que ficaram, eles trouxeram coisas boas.

A nossa vinda para cá é por uma necessidade de comando, das alterações que foram feitas. O comandante anterior, coronel Hugo [Araújo dos Santos], é um grande amigo pessoal e foi para o Comando de Policiamento Rodoviário. Uma necessidade de trazer alguém que fosse da região, que foi o meu caso. E pretendo ficar muito tempo, pretendo implementar outras ações aqui e posso te garantir: independente do comando que esteja, nós temos aqui oficiais e praças extremamente comprometidos, voltados para a região e isso acaba alicerçando o comando que aqui está.

 

A Polícia Civil tem um problema de efetivo aqui no Vale, com cidades sem delegado e outras com poucos policiais para a investigação. Como o sr. avalia a estrutura da Polícia Militar no Vale? O efetivo é suficiente? Quais áreas precisam melhorar?

A Polícia Militar vem desenvolvendo diversas ações para que consiga mitigar esse problema com relação ao efetivo. O efetivo da Polícia Militar ou de qualquer outra instituição não vai acompanhar o crescimento populacional de forma alguma, e nós temos que pensar fora da caixa em soluções para diminuir o tempo de resposta para uma ocorrência, diminuir o tempo de empenho do policial militar na rua e fazer com que ele retorne o mais rápido possível para a atividade operacional ostensiva e preventiva.

Quais são essas ações? Hoje, baseado em ações de tecnologia, implementação de tecnologia embarcada ou com o policial militar, eu consigo resolver de forma mais rápida a ocorrência e colocar o policial mais rápido para o atendimento à população. Exemplo: temos hoje condições de pesquisar muito rapidamente se o indivíduo é procurado ou não. Se vou fazer uma autuação de trânsito, antes eu fazia em papel e hoje eu faço através do tablet ou do smartphone. Isso daí caiu de uma autuação que levava 10 minutos para fazer, agora a primeira autuação eu faço em 1 minuto e 40 segundos. Se eu precisar fazer uma segunda autuação no indivíduo, ela cai para 45 segundos.

Ou seja, eu tiro o policial daquela condição de empenho para uma atuação de forma mais rápida e o recoloco na rua. Situações inteligentes para registros de ocorrência que eu possa facilitar o registro da ocorrência mais rápido pelo policial militar, e assim colocá-lo de volta à rua. Tudo isso vai refletir na qualidade da prestação de serviço da Polícia Militar para a população.

Quanto mais tempo o policial militar, a viatura estiverem disponíveis para a atividade fim, disponíveis para a população, eu gero percepção de segurança, gero uma melhor qualidade de serviço, gero a possibilidade de prender um novo marginal que está nas ruas.

 

Falando em operações, a Polícia Militar do Vale está conversando com as polícias de Minas Gerais e do Rio de Janeiro para combater as facções criminosas?

A reunião [entre as polícias] aconteceu em Campos do Jordão, no dia 23 de junho. Nós convidamos os comandantes de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, com a presença de vários oficiais que têm poder de decisão e mando nessas instituições. E de forma inédita, trouxemos o Deinter, os promotores do Gaeco e a parte operacional de cada estado.

Nós trabalhamos em três eixos também de forma inédita. A parte de inteligência policial, de comunicação via rede rádio e a parte operacional. O que foi isso? Pensando nas operações que tenham alvos definidos. A inteligência policial lotando em cada um desses estados, nas divisas, quais são os nossos problemas, não só de organização criminosa, mas aquele marginal que muitas vezes sai de um estado e vai para o outro, pratica o crime e retorna. Ou de forma deliberada, quando ele está procurado no estado, ele migra para outro. Então nós passamos a entender como esse movimento é feito, para que a gente possa combater.

Segundo, a interligação dessa comunicação via rede rádio. Hoje nós já estamos implementando a comunicação entre São Paulo e Minas Gerais, o sistema é compatível, então nós já conseguimos implementar essa comunicação entre São Paulo e Minas. Rio precisa fazer uma adaptação, que será feita. E finalmente a parte de operação propriamente dita. Não mais fazendo as operações somente na divisa geográfica de cada estado.

Muitas vezes essas organizações criminosas elas migram para além da divisa. A gente entender isso e essas operações sendo feitas de forma coordenada, planejada, com base na inteligência, para que a gente atinja esse alvo criminal, essas organizações criminosas. Então a gente consegue ganhar em produtividade, consegue ter um trabalho organizado, uma agilidade e facilidade muito rápida de conversar entre os comandantes, que é extremamente importante.

Semana passada tivemos uma operação envolvendo o estado do Rio e São Paulo, e isso acaba gerando efeito benéfico para a Polícia Militar, para a segurança pública, que acaba refletindo nos números.

 

Essa integração da comunicação permite a conversa entre os policiais dos estados via rádio, a partir das viaturas?

Isso mesmo. Em uma necessidade emergencial, eu tenho a facilidade do Centro de Operação, o Copom, eles se conversarem muito rápido e essa velocidade da informação, da comunicação, gera para o policial não só o efeito de segurança, mas também a possibilidade de combater algum tipo de delito que tenha acontecido nas divisas.

Muitas vezes um estouro de caixa eletrônico, que é chamado hoje como crime ultraviolento, tem uma quadrilha instalada para cometer aquele crime fortemente armada. Essa rapidez na informação leva ao policial militar, primeiro, a condição de ele estar seguro para atuar. Segundo, a gente, de forma muito rápida, conseguir se organizar para combater esse marginal que muitas vezes vai sair de um estado e entrar num outro. Hoje aqui felizmente na nossa região, nós temos o 3º Baep como uma força de resposta 24 horas em condição de combater esse tipo de crime. Então, tanto no estado de São Paulo, aqui na nossa região do Vale do Paraíba, no Litoral Norte e na Serra da Mantiqueira, como na divisa com o Rio ou com Minas, o nosso Baep tem um grupo de pronta resposta pronto pra atuar 24 horas.

 

Hoje as facções criminosas são uma realidade que preocupa aqui no Vale? Há uma tentativa das facções do Rio de entrar aqui? Há uma disputa por território?

A organização criminosa existe, é fato. O que precisa ter é uma organização das polícias para combater, independente de ser no estado de São Paulo, do Rio ou de Minas. Combater esse criminoso que está organizado ou criminoso que não tem divisa geográfica. Cabe a nós o preparo e planejamento para que, se houver tanto aquele criminoso que está instalado em São Paulo ou aqueles que desejam entrar, a gente combater. Independente se é uma facção de São Paulo, do Rio ou de Minas, a gente precisa estar preparado, treinando e equipado para combater.

 

Há um aumento em homicídios nas cidades do Vale Histórico e do Litoral Norte. Isso se deve à penetração das facções criminosas na região? Como a PM está trabalhando nessas áreas?

Importante falar em homicídios e antecipando que no mês de junho nós tivemos uma queda em torno de 19,2%. Em junho de 2023 tivemos 26 homicídios e em 2024, 21 homicídios, caímos 19,2%. Isso com muita força de trabalho, de presença dos policiais militares da nossa região, principalmente combatendo aquele marginal que está foragido da Justiça, que está com mandado de prisão aberto e que a gente vem combatendo.

E principalmente combatendo um câncer que existe hoje, que é a chamada saída temporária. A gente mostra estatisticamente que esse marginal que sai na saída temporária por vezes ele se envolve em homicídio, ou como autor ou como vítima. E não só por brigas de facções, não só por marginais locais que têm as suas desavenças, mas muitos desses que saem na saída temporária acabam se envolvendo não só nesse crime grave que é o homicídio, mas em outros.

Então a presença do policial militar, o combate dele constante, vem fazendo com que a gente tenha a redução deste indicador. Para a Polícia Militar, independe se ele está vindo faccionado de outro estado ou que seja daqui do nosso estado, nós vamos combater o marginal que afronta a polícia, que afronta a sociedade, que leva muitas vezes pânico para aquela localidade, então de forma muito forte nós vamos estar presentes e combatendo.

Eu prezo a falar da qualidade do nosso efetivo policial militar que combate, é combate contra o marginal, desta forma que ele tem que ser tratado. Ele está à margem da sociedade e leva pânico para a sociedade. Cabe a nós combater e, de novo, friso: independente se ele é de São Paulo, de Minas ou do Rio, aqui ele vai ter uma força combativa e o apoio do comandante para que o policial militar combata o crime. Combata o criminoso.

 

A região tem desde 2010 a maior taxa de vítimas de homicídio por 100 mil habitantes do estado. O que pensa dessa situação e como revertê-la?

Bom, primeiro que estamos num eixo importantíssimo do estado. Nós estamos num eixo da Rodovia Presidente Dutra que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. Estamos numa interligação muito importante na cidade de Lorena, que faz a interligação não só de São Paulo com o Rio, mas de São Paulo também com o sul de Minas. E nós temos uma faixa enorme litorânea, na divisa de São Sebastião com Bertioga até a divisa com Paraty. Nós temos uma área de Serra da Mantiqueira extremamente grande. Então esses são os desafios.

Primeiro a extensão territorial, segundo a quantidade de cidades que estão no comando do CPI-1, que são 39 cidades. E são cidades populosas que têm uma alta concentração populacional. Então tudo isso gera uma possibilidade da gente ter essa ocorrência aqui que para a gente é extremamente grave. O que tenho que fazer para combater isso? Planejamento. Operações, combate ao crime.

Mas posso garantir que tivemos aqui não só no nosso comando, mas precisamente falando do nosso comando: 1.403 condenados recapturados, tivemos agora 2.336 pessoas presas em flagrantes e o principal: 379 armas de fogo retiradas da rua de circulação [número de janeiro a junho de 2024]. Tudo para combater e fazer com que esse indicador cai. Se formos colocar julho esse número já está defasado, pois tivemos diversas outras operações.

Não adianta eu só mostrar o problema, mas o que estamos fazendo para combater. Mas é preciso frisar o seguinte: não é só a presença da polícia na rua, não é só o combate operacional na rua.

Mas muitas vezes alguns homicídios fogem do controle operacional do policial militar, do nosso comando. Parcela da sociedade está doente e precisa ser tratada, e não é um problema só de segurança pública, problema só de Polícia Militar. Como combater uma reunião familiar que se reúne para um churrasco e os familiares entram em briga e um irmão mata o outro irmão dentro da casa? Como combater uma mãe que, agredida pelo filho, ela contrata indivíduos para matar o próprio filho, que foi executado? Como combater um filho que, dentro da residência, espanca o pai até que ele entra em óbito?

Então assim, não é combate operacional da Polícia Militar. Todos ocorridos dentro de um ambiente familiar, dentro de uma residência, que foge totalmente do controle da Polícia Militar, mas infelizmente acaba entrando no cômputo da segurança pública como homicídio. Tivemos dois homicídios esse final de semana em Caraguatatuba e ambos dentro da residência.

O nosso trabalho operacional e planejamento estão sendo feitos. Nós mostramos isso em números, estamos combatendo muito, mas, infelizmente, como eu falei, uma parcela da sociedade precisa ser tratada não só com o olhar da segurança pública. Os problemas são muito mais além. A gente precisa tratar de uma forma global, de uma forma muito unida com outras áreas da sociedade. Acaba refletindo no número da segurança pública, mas pouco tem a ver com o trabalho operacional e a presença do policial na rua. São crimes que aconteceram, infelizmente, dentro da residência, e até ele acontecer pouco se tem a fazer pela ação da polícia na rua. E veja: foram crimes cometidos muitas vezes sem a utilização de uma arma de fogo.

O filho bateu no pai até a morte. Essa briga dentro da casa foi um homicídio utilizando meio fortuito, a quebra de uma garrafa. Então o problema vai muito além do que só a ação da Polícia Militar. A nossa parte nós estamos fazendo com afinco, com presença e com trabalho árduo do policial militar que, diga-se de passagem, é um herói.

 

O sr. aposta em operações especiais, pontuais e localizadas para reduzir a violência? Esse é um caminho que dá resultado?

Não só está sendo usado como vai continuar. Todos os batalhões. Vamos falar do 23º, com sede em Lorena, impactando todas as cidades do comando do 23º. O 5º com sede em Taubaté com todas as cidades com fortes operações, principalmente agora na Operação Inverno. Não tivemos um problema sequer durante a Operação Inverno. Na abertura da Operação Inverno conseguimos prender um traficante com 8,5 kg de maconha, uma arma e que ia utilizada para cometer crimes naquela localidade. No primeiro dia ele foi preso. O 20º com sede em Caraguatatuba e as demais regiões do Litoral Norte.

Aqui em São José temos dois batalhões: o 1º e o 46º, com trabalho bastante árduo. O 46º tem a principal concentração populacional na área. O 41º com sede em Jacareí e as demais cidades. Além disso, o nosso 3º Baep com essa força estratégica de maior impacto, para a utilização de acordo com as necessidades, todos de forma única e de forma muito unida com o comando, com o empenho e com números extremamente importantes na nossa região. Então, as ações operacionais, essas operações estão acontecendo e vão continuar.

 

A região registrou no primeiro trimestre deste ano um aumento de mortes em confronto com a polícia na comparação com o mesmo período do ano passado. Os óbitos passaram de seis para 12. Como lidar com essa questão da letalidade policial? E a segurança do policial militar?

Primeiro os números mostram a quantidade de infratores condenados e pessoas presas em flagrantes que foram extremamente altos. Confronto policial é uma opção do marginal. Nós vamos para prender, nós vamos para cumprir a lei e se houver o confronto o policial deve sim reagir. Não há explicação para que um policial meu sangre para que ele precise legitimar uma ocorrência. Então se a ocorrência for legítima, legal, dentro dos parâmetros legais, é uma opção do marginal [reagir]. Se ele se render, ele será preso. Se ele reagir, ele vai ter a pronta resposta do policial treinando e equipado para que ele mantenha não só a segurança do policial militar, a segurança da equipe, como da sociedade.

Então, de forma muito tranquila, se a ação for legítima, dentro dos parâmetros legais, ele terá o apoio deste comando. Nós não vamos admitir em hipótese alguma que nenhum marginal afronte o policial militar, afronte a Polícia Militar, afronte a sociedade. Se ele o fizer, terá a resposta a altura.

Tivemos dois casos na região do 23º durante a semana passada. Na quarta-feira (10), o sargento foi efetuar uma prisão de um traficante e alguns indivíduos marginais foram para cima da equipe, danificaram a viatura e lesionaram o policial militar. Ele conseguiu prender o indivíduo. No outro dia, nós implementamos uma força de resposta lá e conseguimos prender outro traficante, com uma arma apreendida e drogas, e depois o irmão deste traficante também se apresentou de forma voluntária como sendo o autor de um arremesso de pedra que danificou a viatura. Mostrando a pronta resposta, a força da Polícia Militar e prendendo este marginal.

Na sexta-feira (12), em Aparecida, tivemos uma ação também de um sargento. Na tentativa de abordar, acabou acontecendo uma reação do marginal. Lesionou o sargento com disparo de arma de fogo e, na sequência, uma equipe da Rota, na tentativa de prender o marginal, houve o confronto e esse marginal entrou em óbito. [Numa ocorrência] houve a entrega do marginal e ele foi preso. Na outra houve a reação e, infelizmente, ele entrou em óbito. Nós não queremos isso, mas se acontecer e estiver dentro dos parâmetros legais, há a possibilidade e nós vamos apoiar.

 

O que aconteceu com os dois sargentos lesionados?

Um sargento se feriu com uma lesão na mão. Em Aparecida, houve uma lesão mais grave, em que o sargento recebeu um disparo de arma de fogo e teve um ferimento no abdômen, mas os dois não correm risco. É importante frisar que esse sargento está com 31 anos de polícia, 31 anos de atividade policial militar ainda operacional, ainda combatendo o crime, ainda se colocando em risco. Como eu falei e é importante frisar isso: é um herói no combate ao crime, prestando serviço para a população.

 

O sr. acha que a Polícia Militar sofre algum tipo de preconceito?

Independente de minoria ou maioria [gostar da polícia], como eu falei o serviço policial militar vai ser cumprido. Nós temos um juramento que é servir e proteger, nós fazemos isso diariamente. E a avaliação, acredito eu, pela população é extremamente positiva com o trabalho da Polícia Militar. As ações nossas mostram isso. Como eu falei, é um trabalho conjunto que deve ser feito, levar essa imagem do policial militar como um profissional na área de segurança pública, que leva para a população a segurança, proteção e qualidade de vida.

E a gente conta com o apoio não só dos meios de comunicação, mas como as outras mídias, para que faça chegar essa imagem positiva do policial militar. E olha que eu falo isso também com muita tranquilidade. As ações positivas devem ser mostradas. Se houver alguma ação negativa que chegue ao nosso conhecimento, ela vai ser reprimida com muita tranquilidade também. Eu, como o policial militar, não sou um ente apartado da sociedade. Eu tenho família, filhos, parentes, que precisam do bom trabalho do policial militar. Então a gente crê nisso, a gente trabalha para isso. E trabalha para que a população também enxergue o policial militar com bons olhos, como sendo um herói, como aquele que está disposto.

Veja, é a única profissão que no seu juramento existe a possibilidade dele, em qualquer situação, perder a própria vida em benefício de outro. Não existe nenhuma profissão que faça esse juramento, até mesmo com sacrifício da própria vida. Então, acredito que isso deve ser valorizado, deve ser enaltecido, porque quando toca o telefone 190, quando é irradiada uma ocorrência via rede rádio, o policial não pergunta quem é, ele vai para salvar.

 

E se policiais agirem fora da legalidade numa situação de confronto? Como é a postura do sr.?

A postura é extremamente legalista. Nós temos meios de coibir. Se acontecer, nós temos mecanismos pra apurar. Veja, você e qualquer policial militar estão sujeitos a todas as normas legais previstas pela sociedade. Então você responde pelo código civil, e eu também. Você responde pelo código penal, eu também. Você responde pelo Código Tributário, eu também.

O policial militar, além disse, responde pelo Regulamento Disciplinar da Polícia Militar, pelo Código Penal Militar e responde pelo Código de Processo Penal Militar e tem um Tribunal de Justiça Militar para avaliar e responsabilizar, quando for o caso prender ou expulsar. Então, se houver alguma ação que ele tem uma atuação fora da lei, ele será responsabilizado dentro dos limites legais, porque se eu não fizer, eu também estou incorrendo em algo ilegal. Então, qualquer ato ou ação que esteja fora da lei, um ato criminoso, ele vai ser responsabilizado.

 

Os comandantes de Polícia Militar costumam falar da importância da integração, principalmente com a Polícia Civil. A gente vê que, no nível de comando, isso se dá muito bem. Mas nem sempre isso acontece no trabalho operacional, no ‘chão de fábrica’, por assim dizer. Ouve-se falar em certa animosidade entre policiais militares e civis. Como o sr. enxerga essa questão? Como fazer para que essa integração aconteça em todos os níveis?

Acredito que eu não tenha verificado isso no período que eu estou aqui, muito pelo contrário. Em cidades de menor porte ou até mesmo aqui em São José dos Campos, que é a nossa maior cidade da região, vejo uma integração muito forte com o efetivo operacional da Polícia Militar, da Polícia Civil e das outras forças de segurança, hoje coroada com um alto comando extremamente integrados.

A gente vê isso não só pelas operações que estamos fazendo, mas pelos planejamentos que estão sendo feitos. Então, de forma muito harmônica, essas forças de segurança vêm trabalhando de forma conjunta para mitigar o crime, prender o marginal e combater aquilo que está sendo ilegal, em benefício da sociedade.

Tem diversos relatos, em cidades de pequeno porte como nas maiores, desta boa integração das polícias. Acredito que isso muito de forma consciente foi construído ao longo dos anos. No atual comando será mantido. Como falei, as questão de chamar para as operações todas as forças seguranças, principalmente a nossa Polícia Civil, e para esta reunião de alto comando o nosso Deinter-1, que é o dr. Múcio [Mattos], por quem tenho um apreço enorme e de forma muito harmônica nós estamos trabalhando. Nos outros níveis também não detectei problema.

E se houver algum problema pontual, ele vai ser tratado para que a gente resolva e volte a trabalhar. É importante frisar que não existe policial militar, policial civil ou qualquer outra força de segurança que seja importado de um planeta distante da Terra. Nós somos fruto do mesmo local, nós viemos e estamos na sociedade. Então, é a gente fomentar esse bom relacionamento que todos ganham. É um círculo virtuoso e esse trabalho harmônico vai gerar para a gente melhor condição de trabalho, melhor combate ao crime e melhor combate ao criminoso, levando para a sociedade a tão sonhada e esperada percepção de segurança.

 

Qual é a importância da tecnologia para a segurança pública? E o que vem de novidade?

É fundamental a tecnologia hoje. Não se consegue falar em segurança pública hoje se não tiver o implemento, o investimento na área de tecnologia, seja ela embarcada na viatura, seja ela em centros operacionais de controle e monitoramento, seja ela só com o policial militar. A tecnologia hoje é fundamental. Não só para que a gente tenha a rápida e pronta resposta, para conseguiu identificar o problema e direcionar uma viatura, uma unidade de serviço mais rápido possível. Como também para que eu consiga diminuir o tempo do empenho do policial e colocá-lo de volta às ruas.

Então é fundamental para um futuro bem próximo mais implementações de câmeras inteligentes, através do [programa] Muralha Paulista, de reconhecimento facial, de monitoramento em tempo real de veículos que tenham interesse criminal, de ações criminosas. Para que a gente consiga ter uma resposta muito mais rápida e combater o marginal, combater o crime. É nós estamos, sim, pensando em outras situações. Temos uma reunião com todos os oficiais da nossa região e o pessoal do PIT (Parque de Inovação Tecnológica São José dos Campos), mostrando ideias para implementações no futuro e também olhar o que eles têm lá que a gente possa utilizar na área de segurança pública.

Por exemplo, hoje nós temos a possibilidade de colocar através da iluminação pública câmaras inteligentes, que possam, além de monitorar o local através da imagem, serem acionadas de acordo com determinado tipo de delito. Hoje eu já consigo colocar em câmeras que ela possa ser disparada a imagem e emitir um alarme se houver um som de disparo de arma de fogo. Essa rapidez na ação gera toda a diferença no combate ao crime

 É lógico que, para o futuro, a gente espera mais tecnologia, mais tecnologia não só nas cidades, mas com o policial militar e na própria viatura. Isso gera segurança do policial em fazer uma abordagem, a proteção dele física, ele sabe o que ele vai encontrar. O tempo resposta cai muito. E a sensação do marginal de que ele não está impune.

Então essa pronta resposta, esse combate ao marginal, ao crime, leva a uma cidade melhor, leva à mitigação dos indicadores e ao aumento da nossa produtividade e, principalmente, a percepção de segurança para a sociedade, que é tão importante e tão cara para nós. É como um círculo virtuoso e isso daí melhora todas as outras áreas de atuação em sociedade, melhora educação, comércio, indústria, a atração de investimento para aquela região. E a gente pensa numa sociedade mais justa, mais segura e mais próspera.

 

O sr. gostaria de deixar uma mensagem?

Que a Polícia Militar está muito atuante, muito presente, muito voltada para atender o cidadão e atender a sociedade. Os nossos números mostram isso. De janeiro a junho deste ano nós recuperamos 4.058 veículos, apreendemos 870 kg de drogas, prendemos com prisões efetuadas em flagrantes 2.138 ocorrências de flagrante, sendo 2.336 presos nessas ocorrências. Recapturamos 1.403 condenados que estavam foragidos e apreendemos 325 infratores em flagrantes, 379 armas de fogo aprendidas nesse período, ou seja, mais de duas armas por dia retiradas da rua. Trabalho árduo do policial militar para levar a segurança pública.

Em junho, nós reduzimos em 19,2% os homicídios na nossa região, uma queda percentual altíssima, até mesmo em relação ao estado de São Paulo. Nós reduzimos 7,3% o roubo, reduzimos 23,5% o furto de veículos, reduzimos 44,4% o roubo de cargas. Olha que interessante: uma redução de 78,6% de estupro e 100% de redução de latrocínio.

É lógico que isso não basta. Qualquer crime que aconteça é importante, não só para a sociedade, para aquela pessoa que foi vítima e para a Polícia Militar. Então assim nós não podemos achar que está bom. O trabalho deve ser árduo, diário, contínuo e presente para que a sociedade tenha a percepção de segurança e o marginal a certeza que ele será combatido. Este é o sonho do comandante.

E principalmente levando uma mensagem para o nosso efetivo. Ao término de cada serviço eu falo para minha tropa. Quero quatro coisas deles, que eles terminam o serviço bem fisicamente, bem mentalmente, bem espiritualmente e bem juridicamente. Se eu conseguir esse ciclo, tenho certeza de que no outro dia ele voltará melhor para combater o marginal, para combater o crime, pensando sempre em uma sociedade melhor, mais justa, que a gente possa viver em paz. Acho que é essa é a nossa mensagem.