27 de julho de 2024
ARTIGO

Correio militar e a Revolução de 1932


| Tempo de leitura: 3 min

A distância ... o frio ... a saudade ... Tudo isso unia-se à violência vista por pessoas comuns que se alistaram para evitar o avanço das tropas federais para o interior do Estado de São Paulo. Oralmente existe a informação de que foram 100 mil voluntários que se envolveram com a Revolução Constitucionalista de 1932. Estes foram treinados por 10 mil homens da Força Pública do Estado de São Paulo. Era muita gente para uma insurreição armada. Não havia tempo hábil para confecção de fardamento, instruções militares ...

Acreditava-se que, com apoio de estados limítrofes a São Paulo, a Revolução seria rápida, como ocorreu em edições anteriores de revoluções brasileiras. Não foi. Foram três longos meses, numa guerra de trincheira cujo dever de casa foi conhecido na Primeira Guerra Mundial, onde o estabelecimento de batalhões impedia o avanço do inimigo. Não houve avanço das tropas paulistas para outros estados. Apenas a manutenção da geografia paulista.

Diante disso, membros de todos os setores da sociedade viram a necessidade de empunhar armas. De sentir frio. De conviver com trincheiras enlameadas. De prestar socorro às vítimas. De atirar contra irmãos. Isso tudo aliado à uma ajuda que nunca chegou de outros estados, com retaliação do governo federal para aqueles que ajudassem São Paulo.

No frio da noite de pleno inverno, enfrentando geadas, os voluntários paulistas tinham pouco acesso à comunicação. O telégrafo era o meio mais rápido. Mas era restrito. Esperava-se horas para enviar uma mensagem e horas para receber uma resposta. Telefones também. A comunicação intermunicipal era precária. O rádio ainda era uma tecnologia que engatinhava, sendo lançado dez anos antes, durante o centenário da Independência do Brasil. Nem todos os lares tinham aparelhos receptores pois seu custo era elevado.

Restava então, a tradicional carta em papel, normalmente manuscrita. Era acessível. Estas cartas, porém, demoravam para ser entregues, motivado por não se saber em qual cidade estava determinado voluntário. Estes, por sua vez, enviavam missivas à suas famílias que tinham endereço fixo, e, em alguns casos eram entregues aos jornais das cidades que as encaminhavam aos respectivos parentes.

Estas cartas eram lidas em reuniões realizadas em cinemas ou teatros, publicadas em jornais ou muitas vezes apenas guardadas pelos familiares. Talvez borradas por lágrimas...
Na Revista Paulistania, do Clube Piratininga, edição 81, 1977, página 56, houve este artigo aqui reproduzido:

O entusiasmo juvenil era tanto, que moças escreviam cartaz para os soldados "que não recebiam cartas". A distribuição era feita conforme a cidade destinada.

Neste caso, uma jovem de Mogi Mirim encaminhou cartão a um voluntário anônimo que atuava em Cachoeira, Setor Norte do estado de São Paulo.

"Você que ainda não recebeu cartas, na hora da entrega não fique triste, porque nessa mesma hora eu rezo e escrevo para você. Se você não tem família considere-me sua irmã, sim ? Nunca esqueça estas palavras: dos deveres do cidadão para com a pátria, o primeiro e mais nobre, é sem dúvida alguma, o de servi-la nas armas, prestigiando-lhe a fortuna e a intangibilidade das fronteiras.

Se você vier aqui, não deixe de aparecer na sua 'Casa do Soldado', para tomar um cafézinho bem gostoso servido por mim.

Não tenho medo do 'vovô' e quando ele ver você lute com maior ardor pois a victória é certa e mais certa a vitória do seu batalhão que para mim é um dos primeiros do Brasil.

Aceite lembranças de todas as mogianas e eu envio-te os meus sinceros votos de felicidade.

Até logo
Uma mogiana de fato.

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