21 de dezembro de 2024
IZAIAS SANTANA

Ética, quem pode ser exemplo na política?

Por Izaias Santana | doutor em direito constitucional pela USP, professor da UNIVAP e Prefeito em Jacareí.
| Tempo de leitura: 3 min
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As pessoas, em regra, moldam seu caráter em princípios e valores adquiridos, invariavelmente, nos exemplos que acumulam na existência. Pais, professores, líderes e ídolos vão deixando marcas em nossa memória e, involuntariamente, às vezes, nos pegamos sendo seus imitadores. É claroque a formação e a nossa própria vivência têm grande influência, mas é sobretudo o exemplo que ressaltamos e peloqual, sinceramente, somos gratos.

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Na política não é diferente.  Nunca deixarei de mencionar André Franco Montoro, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Geraldo Alckmin como políticos que marcaram, com seus exemplos, o modo de fazer política.Cada qual com suas características, mas todos marcaram a geração que fez política em São Paulo desde o enfretamento ao regime militar.

No Vale do Paraíba, três nomes marcaram e marcam essa geração e até hoje inspiram muitos, em diversos aspectos: Luiz Máximo, Emanuel Fernandes e Eduardo Cury.  É uma satisfação manter a amizade, a inspiração e a atuação no mesmo lado, pelos mesmos princípios e valores.

A literatura também está repleta de líderes que apontam suas referências e indicam de quem são imitadores e a quem buscam seguir. O exemplo maior, sem dúvida, é o do Apóstolo Paulo, que nos convida a sermos seus imitadores, assim como ele é de Cristo.

Na filosofia e na política, um exemplo que me marca profundamente é o de Marco Aurélio,  filho de adoção do Imperador Antonino Pio, morto em 161 D.C., ascendendo ao trono junto com Lúcio Vero, seu irmão de adoção.

Ao escrever suas meditações, Marco Aurélio dedica seu primeiro capítulo a agradecer aos exemplos que pôde seguir em vida. As linhas dedicadas à sua gratidão ao seu pai de criação, na sua vida política, são de forte inspiração e poderiam ser acolhidas como manual ético para uma vida política sustentável. Vejamos alguns itens:

(1)  fidelidade inabalável às decisões, uma vez tomadas; (2)  ouvir pessoas que possam contribuir para o bem comum; (3)  noção de quando exercer pressão e quando recuar; (4)  obstinação pela verdade, nunca se satisfazendo com as primeiras impressões nem interrompendo uma discussão prematuramente; (5)  constância com os amigos, nunca se cansando deles nem demonstrando favoritismo; (6)  sua atenção cuidadosa até com as menores coisas; (7)  sua disposição em assumir a responsabilidade e até a mesmo a culpa pelas coisas públicas; (8)  sua atitude para com os homens, sem demagogia, sem favoritismo e sem bajulação; (9)  sempre sóbrio, estável e nunca vulgar ou preso a modismos; (10)  ninguém jamais o chamou de  falastrão, desavergonhado, nem pedante; (11)  sua propensão a não sair pela  tangente nem fazer pressão em todas as direções, mas manter-se fiel  aos mesmos lugares e às  mesmas pessoas; (12)  o fato de que ele tinha tão poucos segredos, apenas segredos de Estado, na verdade, e não muitos; (13) a maneira de manter as ações públicas  dentro de limites razoáveis, porque olhava para o que precisava ser feito, mas não para o crédito que obteria ao fazê-lo.(AURÉLIO, Marcos. Imperador de Roma, meditações, Tradução HeciRegina  Candidani,  RJ, Sextante,2024, pg.71/73).

Sem dúvida, Marco Aurélio pôde espelhar-se no seu pai adotivo e líder político. Temos no Vale figuras que nos honram em seguir seus exemplos. Nós, ao final de um ciclo, acalentamos a ideia de, tal como Paulo, apontar corretamente exemplos a serem seguidos, assim como fiz.