Tetracampeão mundial de boxe e supercampeão mundial unificado, Acelino Popó Freitas, 48 anos, acha “muito difícil” surgir no Brasil um novo lutador como ele. Não por falta de qualidade técnica, mas em termos de longevidade no topo do esporte.
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“Para ter um novo Popó vai ser muito difícil. Não pela qualidade dos lutadores, mas para fazer o que eu fiz antes e para ser o que sou hoje”, disse ele a OVALE durante visita a Guaratinguetá. O ex-boxeador é convidado especial de um evento de luta na cidade, na noite deste sábado (29).
Após mais de duas décadas lutando profissionalmente, com um cartel de 41 vitórias em 43 lutas, sendo 34 delas por nocaute, Popó tem se dedicado a entrar no ringue para lutas de exibição, com o intuito de promover o esporte.
Ele já lutou com o humorista Whindersson Nunes e derrotou o ex-campeão do BBB 1, o Bambam, em menos de 1 minuto. Ele também disse que aceitou o desafio de lutar com o empresário e influenciador Pablo Marçal, pré-candidato a prefeito de São Paulo, mas descartou a luta contra Vitor Belfort, como ele explicou na conversa com OVALE. Confira os principais trechos.
Como foi o início da sua carreira?
Eu venho de uma família de boxe. Dois irmãos já lutavam boxe, meu pai lutou, uma família de cinco homens cascudos e, através dessa família de boxe, dei prosseguimento. Meu irmão foi meu treinador lá atrás, há 33 anos. A gente deixa esse legado bacana, não só de família, mas o legado também de títulos, conquistas, a maioria fora do país, porque é muito difícil ter estrutura no nosso país. Minha vida foi uma luta desde 12 anos. Minha família sempre me apoiou, mesmo minha mãe não gostando. Tive quatro títulos mundiais, supercampeão mundial por ter defendida 10 vezes o cinturão.
Foi mais difícil golpear os adversários ou as dificuldades da vida?
Eu não sei se foram as adversidades ou as lutas, porque são coisas duríssimas, mas eu acho que a diversidade me deixou forte para superar as lutas. Me fez pensar mais lá na frente, para fazer as coisas corretas e não voltar à diversidade.
Sou o filho mais novo de cinco homens e a gente dormiu numa casinha de 10 metros quadrados até meus 23 anos. Tudo o que eu fiz e prosperei foi justamente para não voltar lá para trás. E tem muitos atletas que conseguem voltar para uma situação até pior do que começou. Só que eu tive a felicidade de ter uma ex-mulher que foi uma superamiga, que é a minha amiga até hoje, depois de 12 anos separado, que conseguiu abrir meus olhos para os meus investimentos, para que hoje eu possa ter boas condições de viver e de dar condições para meus filhos. Tive essa sorte de ter uma pessoa do meu lado que acrescentou. Agradeço até hoje a minha ex-mulher.
Como é para você participar desses eventos de luta, como em Guará?
Estava em Belém do Pará e peguei o voo de madrugada para vir para Guaratinguetá. É como se eu estivesse ali e chegasse o Maguila, o Éder Jofre, eu estava sempre querendo ver as minhas referências no esporte. Lembro que um dia o Maguila lutou por um cinturão mundial e foi meu primeiro cinturão, por coincidência. Eu fui campeão mundial e me projetei, e realmente aconteceu.
O que você acha dessas lutas entre ex-boxeadores com personalidades? E há uma nova geração de boxeadores no país?
Para ter um novo Popó vai ser muito difícil. Não pela qualidade dos lutadores, mas para fazer o que eu fiz antes, para ser o que sou hoje. Depois que surgiu o Popó, a gente teve uma crescente muito grande no boxe brasileiro. Tivemos duas medalhas de ouro nas Olimpíadas, tivemos prata feminino, tivemos bronze feminino, tivemos uma prata com Esquiva Falcão e o Yamaguchi Falcão, os dois irmãos. Depois a gente teve a Rose Volante campeã mundial da Organização Mundial de Boxe, e outros lutadores. Teve uma crescente muito grande.
O que acontece é quando tinha uma divulgação tão grande na Fórmula 1 é porque tinha o Ayrton Senna. A gente tinha um tênis muito forte porque tinha o vencedor Guga. A gente teve o boxe também em alta porque teve o Popó. Então, quando você tem um atleta de ponta que consegue manter seus títulos durante muito tempo, o esporte fica em alta. Mas a maioria das pessoas que ganhou um mundial depois de mim passou só seis meses com o título e perdeu na primeira defesa. Então, o que dá autoridade ao lutador e ao atleta são seus resultados.
Em termos de grana, a defesa do título dá muito mais dinheiro do que a conquista do título mundial. As suas defesas mostram que você está gabaritado, que você está mantendo o seu título mundial. Eu defendi o meu 10 vezes e fui supercampeão mundial.
Então, o MMA ele estava em alta porque tinha quatro campeões brasileiros simultâneos como campeões mundiais do UFC. Na verdade, não era o boxe que estava em baixa, mas o MMA que estava em alta. A gente não tinha um campeão mundial naquela época. Hoje o esportista mais bem pago do mundo de esporte individual é um lutador de boxe, que sempre esteve em alta.
Qual foi a sua evolução desde a primeira luta e após quatro títulos mundiais?
Quando a gente começa nas primeiras lutas, a gente quer mostrar trabalho, quer derrubar e mostrar que está ali para mostrar que chegou. Mas quando vai para um título mundial, não é só mostrar que chegou. Você tem que ter muita inteligência, estratégia, porque é uma luta de 12 rounds e o boxe é um esporte muito inteligente. Você tem que apanhar, pensar e bater ao mesmo tempo.
É um esporte que você mexe com pensamentos muito rápidos, até porque os socos são muito rápidos. E hoje no boxe mundial prevalece quem tem uma boa mão, quem tem uma boa pegada, quem tem força e inteligência. Para ganhar e ser campeão não adianta você só ser técnico e não ter uma pegada.
Qual foi sua luta mais difícil e a mais fácil?
A mais difícil foi uma luta de 12 rounds contra o cubano chamado Joel Sotomayor (12 de janeiro de 2002), na qual unifiquei os cinturões. Foi a luta mais pesada. A mais fácil foi de 36 segundos com o Bambam [o campeão do BBB 1 foi derrotado por Popó em fevereiro deste ano].
Você pretende lutar até que idade, mesmo em lutas de exibição?
200, 250 anos (risos).
Você vai lutar contra o Pablo Marçal e o Vitor Belfort?
Com o Vitor Belfort estava até indo bonitinho, a gente se enquadrando e tudo, mas o Vitor Belfort queria lutar comigo com 25 kg a mais. Para vocês terem uma ideia, 50 gramas a mais de uma categoria você já perde até o título mundial na balança. Imagine o cara que vai lutar comigo com 25 kg a mais? Ainda inventando uma luva que é aberta e que ele poderia me agarrar com essa luva, que seria o posicionamento dele e ele queria me oferecer esse tipo de luta.
Eu falei que não, porque nunca lutei MMA. A minha luta sempre foi boxe, o que está dando engajamento é o boxe. E outra coisa: você está cheio de poeira e aí eu tô querendo abanar você para tirar essa poeira e você ainda quer tirar onda com a minha cara? Então bloqueei ele e não quero mais.
Eu não luto mais profissionalmente, não tenho mais nada para provar para ninguém. Vou fazer essa luta para divulgar o meu esporte nessa área digital. Nos Estados Unidos acontecem lutas diferentes, de ex-lutador desafiando o cara de MMA, cara que é digital influencer desafiando lutador.
É isso é bom, como o Whindersson Nunes fez comigo. E foi muito bom, a gente conseguiu reativar o boxe novo, conseguiu botar essa garotada do celular na mão para saber que é quem, saber um pouco da minha história, tudo isso.
E o Pablo Marçal?
Eu acho que ele vai [lutar com Popó]. Ele estava acho que dando uma palestra e mostrou que estava sem camisa, que está com físico, falou que vai ser difícil. Acho que tudo que ele desafia, porque foi ele que me desafiou, ele tem que encarar, porque para ser prefeito de São Paulo é um desafio grande, você sair da zona de conforto pra ser prefeito.
Pablo Marçal vai dar mais trabalho do que o Bambam?
Depende de mim. Acho que eu faço uma brincadeira com ele, como eu fiz com o Bambam, mas eu não sei se ele vai aguentar, mesmo fazendo uma brincadeira com ele. Tentei fazer uma harmonização facial nele, mas não aguentou. Ele não aguentaria se mantiver a mesma pegada.
Na semana passada eu estava no trânsito e um cara me fechou. Ele saiu do carro e passou na minha frente. Eu falei: ‘deve ser polícia, no mínimo’. Aí o outro amigo dele falou: ‘ele não é polícia não’, e disse que queria brigar comigo. Se você pagar eu brigo com você agora, mas só se você for pagar (risos). Não preciso provar mais nada para ninguém.