A Editora Mostarda repudiou a retirada do livro “Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas”, da juíza Flávia Martins de Carvalho, das salas de leitura da rede municipal de São José dos Campos e disse que obras que promovem o pensamento crítico e o exercício da cidadania devem permanecer nas escolas, “sem quaisquer impedimentos de ordem autoritária”.
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A nota foi uma resposta à medida tomada pela Prefeitura de São José dos Campos de mandar recolher o livro após um pedido do vereador Thomaz Henrique (PL), que apontou suposta “apologia ao aborto” e criticou mulheres retratadas na obra, como a vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro em março de 2018, e a antropóloga Débora Diniz.
Classificado como infanto-juvenil, o livro “Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas” foi publicado pela Mostarda e conta a história de 20 pesquisadoras que alcançaram posições de destaque. Assim como a autora, a maioria das mulheres mencionadas são negras e brasileiras.
“Escrito em versos e contendo ilustrações, o livro apresenta as histórias de grandes mulheres, cientistas de diversas áreas, a exemplo de Sueli Carneiro, Lélia Gonzalez, Dorina Nowill, Débora Diniz e Marielle Franco, entre outras, cujas origens e formações diversas contribuíram para a difusão do conhecimento e a defesa dos direitos humanos”, informou a Editora Mostarda na nota, que foi publicada nas redes sociais na noite desta sexta-feira (14).
A editora disse que tem como diretrizes a “educação antirracista, a diversidade, a igualdade entre os gêneros e o respeito à ciência”. “Nesse sentido, valorizamos o poder da democratização do conhecimento”.
“Acreditamos que criar pontes para o diálogo nos processos educativos é fundamental para a construção de uma sociedade mais consciente e tolerante. Assim, repudiamos qualquer tipo de censura e defendemos que obras que promovem o pensamento crítico e o exercício da cidadania devem permanecer nas escolas, sem quaisquer impedimentos de ordem autoritária”, completou a empresa.
Na postagem, a Editora Mostarda destacou as páginas do livro que falam de Marielle Franco e Débora Diniz, as duas retratadas criticadas pelo vereador de São José.
“O livro traz, além da figura da ex-vereadora Marielle Franco, em clara doutrinação ideológica, também a apologia ao aborto, ao retratar a sra. Débora Diniz, notadamente uma das maiores defensoras da legalização e descriminalização do aborto no Brasil”, diz trecho do ofício enviado por Thomaz Henrique à Prefeitura de São José.
O episódio também foi repudiado pela Academia Joseense de Letras, que classificou como “censura” a decisão da prefeitura. “A Academia Joseense de Letras expressa sua mais profunda consternação e veemente reprovação diante da recente decisão de censurar obras literárias nas instituições de ensino municipais”, diz a nota da entidade.
“Tal ação representa uma afronta direta aos princípios fundamentais de liberdade de expressão e ao direito à educação, pilares imprescindíveis para o desenvolvimento de uma sociedade justa e democrática.”
Professor, escritor e presidente da Academia, Fabrício Correia disse que o recolhimento dos livros é “profundamente preocupante”.
“Esta ação é um ataque direto à liberdade de expressão e ao direito à educação, uma tentativa deplorável de silenciar vozes essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva”, afirmou.
“A atitude do vereador Thomaz Henrique, ao questionar a presença do livro nas escolas e associar sua retirada a figuras públicas como Débora Diniz, revela uma compreensão superficial e preconceituosa sobre o papel da educação”, acrescentou Correia.