16 de outubro de 2024
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

S. José: suplente da Câmara é acusado de ameaçar e agredir esposa

Por Julio Codazzi | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 5 min
Montagem feita com fotos de arquivo pessoal
Ademir Pereira e a ex-esposa, em foto feita pela mulher após a agressão

Um suplente de vereador de São José dos Campos é acusado de ameaçar e agredir a esposa, com quem era casado há 20 anos.

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O caso, que teria ocorrido em dezembro de 2022 e foi denunciado à Polícia Civil em janeiro de 2023, veio à tona essa semana, quando o vídeo da ameaça e uma foto que mostra a mulher com ferimentos no rosto foram divulgados nas redes sociais.

O denunciado é Ademir Rodrigues Pereira, que é suplente de vereador pelo PRD e servidor da Prefeitura desde 1983. Ele nega as acusações (leia mais abaixo).

AS AMEAÇAS.
As ameaças foram feitas no dia 4 de dezembro de 2022, como mostra uma gravação feita por uma câmera que havia sido instalada na sala da casa em que Ademir morava com a então esposa, Ana Maria Braga, e com a filha, que à época tinha 16 anos (veja o vídeo abaixo).

No começo da gravação, que tem 8 minutos e 43 segundos, Ademir surge com voz pastosa e começa a discutir com a esposa por questões relacionadas aos carros do casal. Ana disse à reportagem que o marido estava embriagado - OVALE optou por reproduzir apenas um trecho do vídeo, para preservar a intimidade da mulher e da filha; e como a jovem é menor de idade, a imagem foi borrada nos momentos em que a menina aparece na gravação.

Em certo momento da conversa, Ademir fica exaltado e diz: "você está brincando com fogo, você não me conhece". A mulher pergunta então se ele iria bater nela, e Ademir responde: "vou dar um tiro na sua cara". Nesse momento, a filha do casal intervém.

Mais para a frente, após Ademir negar que tivesse dito que daria um tiro na cara da esposa, a mulher mostra que a câmera de segurança da sala teria gravado a conversa. Ademir, então, parece desferir um golpe em direção ao equipamento, que para de gravar. Segundo Ana, o marido também teria dito que iria "meter um machado na sua cabeça" e que iria "quebrar o seu pescoço".

A AGRESSÃO.
Já a agressão, segundo Ana, teria ocorrido no dia 22 de dezembro, quando o marido ouviu a esposa ligando para a empresa de segurança para solicitar as imagens da discussão do dia 4.

"Depois que ele quebrou a câmera [no dia 4], eu perdi a conexão com o aplicativo, perdi acesso às imagens. Então, para recuperar as imagens, liguei para a empresa. Ele me viu ligando e partiu para a agressão, e não tinha mais câmera para gravar", relatou Ana à reportagem.

"Eu estava sentada no sofá, e ele bateu com o cotovelo no meu rosto. E depois ele me derrubou no chão e começou a me esganar. Eu consegui correr para o quarto e me tranquei".

POLÍCIA.
No dia 4 de janeiro de 2023, Ana procurou a DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) de São José e registrou boletim de ocorrência contra Ademir por violência doméstica, ameaça e injúria. No boletim, o investigador que registrou a ocorrência escreveu que a mulher tinha "lesão visível". No dia seguinte, Ana passou por exame no IML (Instituto Médico Legal), que identificou hematomas no nariz, na região do olho esquerdo e no pescoço. A mulher solicitou medida protetiva contra o então marido, que foi concedida pela Justiça.

Ouvida pela reportagem nessa sexta-feira (24), Ana afirmou que, ao longo dos 20 anos de casamento, já havia sido vítima de ameaças e agressões por parte do marido em outras ocasiões. "Foram várias ameaças, quando ele bebia ficava muito agressivo. Já tinha me batido outras vezes".

Após a concessão da medida protetiva, Ademir saiu de casa. Segundo Ana, os dois já se divorciaram. "Depois que eu fiz o BO e o juiz deu a medida protetiva, ele saiu de casa".

HISTÓRICO.
Ademir é funcionário da Prefeitura desde 1983. Em março de 2023, ele foi punido com 29 dias de suspensão por envolvimento no caso em que houve cobrança indevida de valores a uma moradora que tentava regularizar uma obra na casa dela.

Além da suspensão, Ademir foi exonerado do cargo comissionado de supervisor e voltou para o cargo efetivo de comprador, na Secretaria de Manutenção da Cidade, no qual permanece até hoje. Apesar da recente infração administrativa, em janeiro de 2024 o servidor foi indicado pela Prefeitura para compor o Conselho Fiscal do IPSM (Instituto de Previdência do Servidor Municipal), como suplente, por um mandato de quatro anos.

Na eleição de 2020, Ademir recebeu 2.009 votos e ficou como segundo suplente do PTB, partido que no fim do ano passado fez fusão com o Patriota e deu origem ao PRD (Partido Renovação Democrática). Pelo PRD, Ademir é pré-candidato a vereador esse ano. O partido integra a base de apoio ao governo do prefeito Anderson Farias (PSD).

REPERCUSSÃO.
A SSP (Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública de São Paulo) afirmou que o caso "foi investigado na Delegacia de Defesa da Mulher" de São José, que a "medida protetiva à vítima" foi concedida e que "o inquérito policial foi relatado à Justiça em março deste ano". Por se tratar de um caso que envolve segredo de justiça, a reportagem não conseguiu identificar se já foi oferecida denúncia criminal contra Ademir.

A Prefeitura afirmou que "não foi oficialmente notificada pela Justiça sobre processo criminal envolvendo o servidor mencionado e, obedecendo o ordenamento jurídico, só pode se manifestar após a decisão final, observado o amplo direito de defesa até o trânsito em julgado". A Prefeitura acrescentou que "repudia qualquer tipo de violência contra a mulher" e que "confia no trabalho das instituições, reiterando que respeita e cumpre todas as decisões judiciais".

A Câmara afirmou que o suplente "não assumiu a vereança nesta legislatura (2021-2024)" e que, "caso fosse convocado, o fato de responder ao processo judicial não inviabilizaria a posse". O Legislativo ressaltou que, "de acordo com a Lei Orgânica do Município, perde o mandato o vereador que sofrer condenação criminal em sentença definitiva e irrecorrível".

Ademir é afilhado político do ex-vereador e ex-deputado estadual Alexandre da Farmácia, que é o presidente do diretório municipal do PRD. Procurado nessa sexta-feira, Alexandre não respondeu às mensagens enviadas pela reportagem e também não retornou as ligações.

OUTRO LADO.
Procurado nessa sexta-feira, Ademir Pereira emitiu uma curta nota para se posicionar. "Os fatos não refletem a realidade. O vídeo mencionado foi editado e é objeto de discussão em processo judicial que corre em segredo de justiça, e por esse motivo não posso me manifestar, mas no fim a realidade dos fatos virá à tona".

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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