A morte de Marcos Vinícius Mascena da Silva, 26 anos, dentro da Rodoviária Nova de São José dos Campos, na madrugada do último sábado (18), foi o estopim de uma situação complexa que se arrasta há anos na cidade: a ocupação do entorno da rodoviária por pessoas em situação de rua e usuários de drogas, transformando o local numa espécie de "cracolândia".
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Marcos foi cercado, agredido e arrastado por dois homens dentro da rodoviária, para depois ser morto por espancamento. Natural da capital, Marcos vivia em situação de rua em São José, a mesma condição dos agressores, segundo a investigação. Um deles já foi preso e o outro segue foragido.
De acordo com taxistas, comerciantes e passageiros da rodoviária, o entorno do terminal é local de permanência de dezenas de andarilhos e usuários de drogas que, diariamente, trazem insegurança para as pessoas que ali trabalham e circulam.
“Já fui assaltada e ameaçada por andarilhos e usuários de drogas. Não ando mais sozinha ao redor do terminal”, disse uma comerciária que trabalha nas proximidades da rodoviária e frequenta o espaço diariamente. Ela pediu para não ser identificada.
TAXISTAS
Outro público que reclama da situação é o dos taxistas. Na rodoviária, segundo o sindicato do setor, cerca de 30 motoristas trabalham diariamente. O serviço é fornecido 24 horas, sete dias por semana. Eles também relatam problemas de convivência com andarilhos e dependentes químicos, com episódios de agressão e ameaça.
“Existe uma constante reclamação sobre o pessoal de situação de rua, que fica circulando por lá. Temos casos de agressão a taxistas”, disse Sidney Pirozzi, presidente do Sindicato dos Taxistas Autônomos de São José dos Campos.
“Temos feito reuniões para ver a melhor maneira de resolver o problema junto ao poder público. Mas há esse problema, sim. Há casos de agressão contra motorista de táxi e agressões entre eles.”
Pirozzi admite que a questão é complexa e envolve diversas áreas, desde o social até a saúde pública. Ele comentou que há um estudo por parte da Prefeitura de São José dos Campos para instalar, ao lado da rodoviária, uma unidade de segurança, que pode ser uma delegacia.
“É um problema complexo, social e de questões de saúde. Tivemos conversa com o prefeito [Anderson Farias] e tem projeto de ir um distrito policial para perto da rodoviária. Acho que assim acabaria esse problema ali. Ter um setor de segurança naquele local para atender as pessoas que chegam e saem da cidade”, afirmou o taxista.
“O terminal é como um cartão de visita da chegada da cidade. Lamentamos por ser um problema crônico e de saúde, mas é um cartão de chegada da cidade e precisa resolver”, completou.
OUTRO LADO
Responsável pela rodoviária, a Urbam disse que colabora com as investigações sobre a sobre o homicídio e que as informações necessárias serão prestadas somente à autoridade policial, responsável pelo esclarecimento do crime.
“Inclusive, as imagens das câmeras de segurança já ajudaram a prender um dos suspeitos. No boletim de ocorrência está registrado todos os dados prestados à polícia”, informou.
Questionada sobre a segurança no terminal, a Urbam não comentou. O mesmo fez a empresa Sinart (Sociedade Nacional de Apoio Rodoviário e Turístico), responsável pela operação e manutenção da rodoviária, incluindo a segurança. O espaço segue aberto.
SITUAÇÃO DE RUA
Sobre as pessoas em situação de rua no entorno da rodoviária, a Secretaria de Apoio Social ao Cidadão respondeu que a cidade “possui um dos mais bem estruturados programas de acolhimento de pessoas em situação de rua, um problema social crescente que tem reflexos não apenas na região, como no país e no mundo”.
“Com 10 vans e três carros de suporte, a equipe de abordagem é qualificada e conta com agentes e educadores sociais que atuam 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados”, informou.
E continuou: “Os abrigos municipais estão preparados para receber todos que estão em situação de rua, com acomodações confortáveis, incluindo canis e gatis, e equipe multidisciplinar. A pessoa que aceita ajuda é levada ao Centro Pop, onde é feita a triagem e o encaminhamento para o local adequado”.
A pasta disse que a prefeitura também oferece oficinas e atividades de convívio e socialização com o objetivo de ajudar os ex-moradores em situação de rua a voltarem para o mercado de trabalho, resgatarem suas cidadanias e dignidades e escreverem novos projetos de vida.
“Para conscientizar a população, a Prefeitura realiza uma campanha permanente ‘Não dê esmola, dê cidadania’, onde o munícipe pode ligar no 153 e acionar as equipes sociais para acolher esses moradores, que muitas vezes precisam de um tratamento.”