23 de dezembro de 2025
FESTA NO CEMITÉRIO

VÍDEO: Samba e seresta no cemitério: evento cultural agita Guará

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
Xandu Alves / OVALE
Ritmistas da escola de samba Bonecos Cobiçados tocam dentro do cemitério

As almas estão felizes, e dançantes.

Para quebrar o estigma de tristeza e desolação dos cemitérios, músicos, cantores e sambistas se encontraram com o público em Guaratinguetá para celebrar a vida em uma festa dentro do Cemitério dos Passos, o principal da cidade.

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Na tarde desta quarta-feira (15), às 16h, aconteceu a tradicional serenata no cemitério do Festival Dona Eta, que chega à 29ª edição com eventos em Guaratinguetá e São José dos Campos.

A bateria-show da escola de samba Bonecos Cobiçados foi um dos destaques do evento, além do Coral da FEG-Unesp (Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá) e do Grupo Musicarte, especializado em serestas.

HOMENAGEM

O festival homenageia Risoleta Antunes Marcondes, a Dona Eta, que completaria 117 anos nesta quinta-feira (16). Ela morreu em 1995, aos 88 anos, e ganhou dos familiares um insólito show anual de talentos ao redor da sua sepultura.

“Cemitério não era um lugar de tristeza para a minha mãe. Ela pediu para ser enterrada com música e dança, além de uma roupa toda rosa. Ela deve estar muito feliz com essa festa”, disse um dos filhos da homenageada, Diógenes Antunes, 82 anos, executivo aposentado, professor e organizador do evento.

“Até hoje nenhum morador aqui do cemitério reclamou da festa. E acho que muitos estão felizes e dançando por aí entre os túmulos”, brincou.

Dona Eta foi casada por 69 anos e criou três filhos. Além dos afazeres domésticos, ela fez da caridade seu trabalho rotineiro. Era espírita, como o pai, e fundou maternidade, creche, casa de criança, albergue noturno e colaborou na criação do centro espírita ‘Amor e Luz’, que existe até hoje em Guará.

Antunes conta que não conseguiu realizar o desejo da mãe de ser enterrada com música, porque morava na Europa quando ela faleceu e só chegou em cima da hora para o sepultamento.

FESTIVAL

Da frustração nasceu um evento que começou dois meses após o falecimento de Dona Eta e se perpetua até hoje, reunindo artistas da região e de todo o país no que se transformou num grande festival de arte no Vale do Paraíba.

“Começou com alguns amigos e convidados e depois foi crescendo ano a ano, com muitos artistas querendo participar”, disse Antunes.

A partir de 2001, o encontro incluiu a inusitada serenata no Cemitério dos Passos, que se tornou tradicional e um dos destaques da festa. “Torceram o nariz no início, mas a serenata se tornou tradição, com até 150 pessoas no cemitério”, disse a jornalista Sila Antunes, 68 anos, nora de Dona Eta.

Nesta quarta, o evento reuniu cerca de 100 pessoas no Cemitério dos Passos. Eles acompanharam as músicas do coral dentro da capela e depois a apresentação do grupo de seresta e o encerramento com ritmistas da escola de samba, na frente dos túmulos. O clima foi de celebração.

“É uma honra estar aqui. Já toquei em velórios e a festa da Dona Eta é especial porque tem muita cultura ‘enterrada’ aqui no cemitério. É uma satisfação estar rodeado com tanta história e arte”, disse Dunga do Cavaco, músico do Grupo Musicarte.

Há quem diga que viu o espírito de Dona Eta dançando pelo cemitério, com seu vestido rosa, enquanto a banda tocava. Não seria surpresa. Para quem viveu como ela, a alegria que contagia é eterna.

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