01 de dezembro de 2024
REFLEXÕES

'Temos nosso próprio tempo'; Leia artigo de Rodrigo Casagrande

Por Rodrigo Casagrande | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
Divulgação
Rodrigo Casagrande

Caetano já dizia que o Tempo é um dos deuses mais lindos. É também o mais presente se observarmos. A relação do homem com o tempo é tão antiga quanto a contínua busca das respostas da origem do universo. Na mitologia Grega surge em duas versões, Cronos e Kaíros, representando, respectivamente, o tempo absoluto e o relativo.

Quando criança, na zona rural, eu me relacionava com o tempo ao modo de Manoel de Barros, com muita poesia. Media-o pela estação das frutas: em dezembro, manga; em março, goiaba; em junho, limão. Torcia para que chovesse para que o pé de manga ficasse coberto de flores, torcia para não chovesse para que não as derrubasse, garantindo assim boas horas lá nos galhos mais altos colhendo as mais maduras. Era uma forma também de enxergar o mundo de um outro lugar. Adolescente, visitando supermercados, ficava intrigado com a quantidade de mangas o ano inteiro, pensava no tamanho do freezer para armazenar tudo aquilo, tolo, na cidade, não dá para esperar, o desejo tem que ser atendido na hora que nos afeta, e o capital sabe disso.

Nas relações afetuosas, o pedido de tempo é comum quando há um desgaste, o excesso de convívio coloca esse mecanismo à disposição dos mais dispostos. Abre-se o espaço para falta, e é nela que pode-se ter a oportunidade para elaborar e sentir, decifrar e encontrar novos caminhos para o relacionamento.

Pesquisas mostram que estamos vivendo mais, na década de 40 a expectativa de vida que girava em torno de 45 anos, hoje, passa dos 80 e continua exponencial. Com mais tempo de vida, surgem novas possibilidades em esforço de pesquisa e estudos em relação à longevidade. Essas métricas também são as utilizadas para as tão polêmicas e conflituosas reformas da previdência, como se o tempo, as condições de trabalho, renda e a vida das pessoas tivessem a igualdade como norteador.

O mundo contemporâneo nos acumula de atividades e atribuições, é preciso fazer uma boa gestão, não do tempo, esse continua o mesmo desde que foi percebido, mas sim das atividades, entender que nem sempre será possível fazer tudo o que o livro com as 100 dicas de vida e sucesso sugere. Deixar de lado leituras assim já é um bom começo.

E quando o passado é um tempo bom que não volta nunca mais, estandarte dos nostálgicos e saudosistas, também o futuro surge lindo e belo como uma bela hipótese de lugar onde podemos fantasiar ou como dizemos na psicanálise, desejar.

Há em algumas pautas, ainda, esperado fim dos tempos.

Com tudo isso, como saber, sem se utilizar das listas e da lógica, entre tantos encontros e desencontros, estudos e esquecimentos, afetos e desafetos, aquilo que realmente nos toca? A filosofia nos ajuda dizendo que, quando estiver fazendo algo, quando estiver com alguém ou em algum lugar e você não sentir o tempo passar, perceber que ele parou, que três horas se passaram como em dez minutos, e o que fica é o desejo que aconteça tudo de novo, você viveu o que é eterno. E esse é o tempo do homem em seu estado de conexão com a vida, a natureza e meio em que vive. Você experienciou uma hipótese do que é viver em sua essência. Torço para que nessa leitura você tenha sentido e percebido isso. Bons tempos para nós.