26 de dezembro de 2024
POLÍTICA

Flávio Paradella: O Incerto futuro de Paolla Miguel

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 4 min
Divulgação/CMC
Paolla Miguel subiu à tribuna após a aprovação da Comissão Processante e fez um discurso muito emocionado.

A sessão foi tensa como se esperava com a votação de uma Comissão Processante contra uma parlamentar, ainda mais se tratando de qual vereadora. Justamente o principal nome do PT na Câmara de Campinas, Paolla Miguel. O motivo do pedido foi a tal “Festa da Bicuda”, evento apoiado pela vereadora que teve cenas de sexo e nudez em plena praça pública em Barão Geraldo.

Mesmo com toda a militância convocada para uma manifestação a favor de Paolla para a reunião ordinária desta quarta-feira, os colegas da vereadora entenderam que a situação configura, sim, a necessidade de abrir a CP, que pode levar à cassação de mandato.

E o recado passado pela votação foi extremamente duro, afinal eram necessários para abrir o processo uma maioria simples, porém foram 24 votos. São dois a mais do que é preciso para determinar a perda de mandato. Vai acontecer? Não é possível apontar, mas o atual momento é delicado para Paolla. Pode mudar em até 90 dias.

O alento para a vereadora é que os mesmos vereadores que partiram para cima na votação não quiseram integrar o grupo que vai investigar as responsabilidades de Paolla nos acontecimentos do “Show Pornô”, como a base denominou o evento, que teve apoio, divulgação, a presença e a destinação de recursos via emenda impositiva por parte da petista.

A CP terá a presidência de Guida Calixto (PT) e a relatoria de Gustavo Petta (PcdoB), integrantes da bancada de esquerda, e que estavam indignados com a proposta do procedimento. Petta não conseguiu esconder a animação quando o nome foi sorteado, após a escolha de Guida e a desistência sequencial de nomes da base. Edvaldo Cabelo, vereador que apoia o governo e do bolsonarista PL, é o terceiro membro da CP.

Os vereadores da situação não quiseram o “trabalho” de atuar na Comissão Processante, alguns até para não se tornar novamente vidraça, caso de Zé Carlos (PSB) quando foi sorteado, mas todos pela proximidade das eleições e ter que “perder tempo” com a elaboração de cronograma, ouvir depoimentos e escrever relatórios em um processo que pode levar até 90 dias. Três meses com esforços voltados para um assunto interno e não para a campanha eleitoral.

Coube então para a bancada de esquerda o comando de um processo em que eles já se dizem contra. Porém, com a celebração dos manifestantes pela CP ter ficado com maioria de esquerda, uma concisa fala de Jorge Schneider (PL), parlamentar de discursos conservadores e um dos mais experientes do legislativo, deu o tom um tanto ameaçador: “o Plenário vai ter que votar o relatório”.

Defendeu atacando

Paolla Miguel subiu à tribuna após a aprovação da Comissão Processante e fez um discurso muito emocionado e chorando. Na fala, a vereadora lembrou das pautas que defende com o mandato (movimento negro, LGBTQIA+, os trabalhadores e periferia) e cravou que a abertura do processo se deve ao racismo, intolerância e o incômodo que ela provoca nos colegas de casa.

"Não tenho dúvida se fosse qualquer mandato de um homem branco, com mais de 40 anos, a Comissão Processante sequer seria apresentada, muito menos votada. Não vamos abaixar a cabeça para essas mentiras que estão sendo colocadas. Não vamos tolerar que a Cultura seja criminalizada", declarou a parlamentar.

Substituição

Achou que parou por aí? Nada disso. Após a Comissão Processante, os vereadores passaram a discutir um projeto do prefeito Dário Saadi (Republicanos) que altera a “prestação de hora complementar pelos servidores” da área da saúde. Estamos falando da hora-extra realizada pelo funcionalismo.

Com isso, saíram os manifestantes por Paolla Miguel e entraram os contrários aprovação da proposta, grupo composto por funcionários públicos e membros do sindicato da categoria.

Para a entidade e os vereadores da oposição, o quê o Quarto Andar quer com a adequação é seguir com a hora-extra, mas acabar com a remuneração. A base governista afirma não ser nada disso e que a oposição “não sabe ler”. Discursos exaltados e longo de ambos os lados, mas no fim o projeto foi aprovado em segunda votação.

Com quatro horas de reunião, por volta das 22h vereadores abandonaram o plenário e a sessão foi encerrada por falta de quórum, mesmo com outros itens na pauta.

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Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br