06 de outubro de 2024
POLITICANDO

Saud trucou. Ainda dá tempo para recuperação?

Por Julio Codazzi |
| Tempo de leitura: 2 min
Divulgação/CMT
Palácio do Bom Conselho, sede da Prefeitura de Taubaté

Na versão oficial, um choque de gestão, com "o objetivo de realinhar o governo com vistas a 2024". Nos bastidores, um ato de desespero, uma última tentativa afobada de recuperar a imagem de um prefeito desgastado que buscará uma improvável reeleição em outubro desse ano.

Na prática, essas duas leituras dizem a mesma coisa - mas com palavras diferentes - sobre a dança do secretariado promovida por José Saud. Desde dezembro, o prefeito de Taubaté substituiu titulares de oito pastas: de Educação, de Ação Social, de Governo, de Finanças, de Obras, de Serviços Públicos, de Desenvolvimento, Inovação e Turismo e de Saúde.

A coluna apurou que essa troca em massa foi sugerida por marqueteiros contratados por Saud como uma aposta para tentar reverter o fraco desempenho do prefeito nas pesquisas e sondagens para a eleição de 2024. Nas entrelinhas, a ideia é terceirizar aos antigos secretários a culpa pelos problemas acumulados desde o início do governo. Até a mudança do MDB para o PP faria parte dessa nova roupagem. Vai colar? Difícil.

Em primeiro lugar, as trocas em pastas não são novidade no governo Saud. Entre junho e julho de 2023, por exemplo, já haviam sido cinco mudanças. Além disso, das 19 secretarias que a Prefeitura teve ao longo dessa gestão (hoje são 18), apenas cinco mantêm os primeiros nomeados de 2021: Administração, Gabinete, Meio Ambiente, Planejamento e Segurança.

Para quem acompanha os bastidores do governo, o problema do secretariado seria outro. A origem estaria na Torre de Babel criada por Saud ao lotear as pastas ainda na eleição de 2020, em troca de apoio no segundo turno. Partidos e lideranças políticas herdaram secretarias 'de porteira fechada', e fazem o que bem entendem com elas. E aí residiria o principal entrave: não há uma coordenação entre as diversas áreas da Prefeitura.

Além disso, todas as pastas têm sofrido com um mesmo problema: a crise financeira provocada pelo inchaço na folha de pagamento, que passou a custar R$ 200 milhões a mais por ano após a reforma administrativa desencadeada pelo prefeito em 2021. Não tem como culpar os secretários por isso.

Para deixar ainda mais nebuloso o horizonte de Saud, esse desequilíbrio nas finanças prejudicou serviços que afetam diretamente a população, como o atendimento na saúde, a limpeza urbana e o programa municipal de transferência de renda.

Desde que a reeleição se tornou possível, os dois prefeitos que passaram pelo Palácio do Bom Conselho – Roberto Peixoto e Ortiz Junior - ficaram oito anos por lá. Se quiser um segundo mandato, Saud vai precisar fazer muito mais do que uma dança das cadeiras com o secretariado. Mas talvez a mudança de rumo tenha começado tarde demais.