A diferença de temperatura de superfície em São José dos Campos pode chegar a 12ºC, em um mesmo momento do dia, dependendo das características construtivas do espaço urbano, que influencia o balanço de energia nas superfícies e determina o clima na escala local e microclimática.
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É o que revela pesquisa da arquiteta e urbanista Fabiana Lourenço, que tem mestrado em Engenharia Civil e defendeu sua tese de doutorado em Ciências do Sistema Terrestre no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em 2020.
A pesquisa serviu para “produzir diagnósticos em diferentes escalas urbanas”, considerando a “distribuição da temperatura das superfícies e os padrões da paisagem”. E também “fornecer informações para o desenvolvimento de políticas urbanas de adaptação e resiliência ao calor”.
Fabiana utilizou imagens de satélite para mapear a temperatura das superfícies urbanas e características construtivas, com base no conceito de ZCLs (Zonas Climáticas Locais), no qual porções homogêneas da cidade são classificadas a partir de padrões construtivos e da paisagem.
Os dados mapeados serviram de base para identificar as áreas mais quentes da cidade, através da localização dos “pontos quentes”, que amplificam a intensidade das “ilhas de calor”, e as áreas mais frias ou sumidouros de calor, que auxiliam na redução do calor intraurbano.
BAIRROS
Segundo a pesquisa, realizada na macrozona de consolidação urbana do município, o setor censitário Morumbi e Campo dos Alemães, na zona sul, é apontado como prioritário para elaboração de políticas públicas de adaptação e resiliência ao calor.
Não à toa, os bairros estão nas zonas vermelha e laranja do mapa de cobertura arbórea em vias públicas da Prefeitura de São José dos Campos, tendo de 4% a 18% de árvores.
O setor socioeconômico Morumbi, com 16.884 domicílios, tem cerca de 60% da área com pontos quentes e 10% de sumidouros de calor. O Campo dos Alemães (cerca de 16.420 residências) tem quase 40% da superfície como ponto quente e é carente de áreas verdes, com nenhum sumidouro de calor.
A Vila Industrial (leste) tem mais pontos quentes (42%) do que áreas para mitigar o calor (22%). O Jardim Paulista (central) tem 5% de sumidouros de calor e 15% de pontos quentes. Santana (norte) tem mais sumidouros de calor (42%) do que áreas quentes (1%).
Esplanada (central) não tem pontos quentes e conta com 15% de áreas que refrescam a temperatura. O mesmo com a Vila Adyana, com 9% de sumidouros de calor.
Segundo Fabiana, um dado surpreendente foi observado no Aquarius (oeste), que é bastante verticalizado. Na parte mais antiga do bairro, onde os prédios são circundados por vias e vielas arborizadas, foram identificados sumidouros de calor em função do sombreamento promovido pelos prédios e pela vegetação, que ocupa área permeável e absorve parte da energia solar refletida pelos edifícios.
“Há um efeito de retroalimentação negativa do clima local, na qual parte da radiação solar que incide nas edificações é absorvida pela vegetação ao redor”, disse a pesquisadora.
Fabiana lembra que reduzir o calor e adaptar a cidade, de modo a torná-la mais resiliente ao calor, são medidas urgentes, em razão do aquecimento global, uma “questão bem crítica”, na avaliação dela.
A pesquisadora considera que a solução está em utilizar soluções baseadas na natureza e sistemas construtivos que possam ampliar a eficiência energética das edificações e promover o resfriamento das áreas urbanas.
Fabiana e outros quatro pesquisadores publicaram, em 2021, um artigo em inglês na revista científica Urban Climate que trata de como identificar áreas urbanas vulneráveis ao calor.
ÁRVORES
Para reduzir as ilhas de calor na cidade, a Prefeitura de São José planeja plantar mais de 50 mil árvores até 2028, especialmente em bairros das regiões sul e leste.
O município conta atualmente com 14 bairros em ilhas de calor, classificados nas zonas vermelha e laranja do mapa de cobertura arbórea em vias públicas e que abrigam mais de 104 mil pessoas.
Há sete bairros da região sul (Campo dos Alemães, Dom Pedro, Jardins, Chácaras Reunidas, Morumbi, Colonial e Jardim América), três da zona leste (Motorama, Campos de São José o distrito de e Eugênio de Melo), dois da oeste (Aquarius e Colinas), um da norte (Vargem Grande) e um da sudeste (Putim).
A meta do PMAU (Plano Municipal de Arborização Urbana) foi lançada em 2016 e previa o plantio de 56,5 mil árvores em todas as regiões da cidade em 12 anos.
No entanto, em sete anos, apenas 6.157 árvores foram plantadas, equivalente a 10,8% da meta. A prefeitura terá que plantar 89% da proposta nos próximos cinco anos. Ou seja, vai ter que plantar até 11,5 vezes mais árvores por ano do que plantou até o momento.