14 de maio de 2025
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PERSONAGEM

Icônica candidata do MasterChef, joseense dá volta por cima e faz bonito na gastronomia

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 6 min
Reprodução / Redes Sociais
Capa da Notícia
Caroline Martins na Inglaterra

Do plasma ao prato.

A trajetória de Caroline Martins, 37 anos, é digna de um filme de ficção. Ou melhor, de um ‘filé de ficção’, porque ela adora carnes e ama gastronomia.

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Nascida em São Paulo de uma família humilde, mas criada em Barretos, Caroline formou-se e fez mestrado em Física na Unesp de Rio Claro e doutorado no ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), tornando-se pesquisadora de energia nuclear do ITA e passando a morar em São José dos Campos, cidade que adotou no coração. Ela ainda fez um fez pós-doutorado na Universidade do Texas, nos Estados Unidos.

FÍSICA

Caroline passou mais de uma década trabalhando como física de plasma antes de desistir da carreira científica para perseguir o sonho de se tornar uma chef profissional. Trocou a chance de criar um verdadeiro ‘Homem de Ferro’ pelos temperos, quitutes e as bancadas e fogões.

“Sabe a coisa no peito do Homem de Ferro? Esse é o tipo de máquina com a qual eu estava trabalhando. Você coloca isótopos de hidrogênio lá e o aquece até 10 vezes mais quente do que o núcleo do Sol, e depois o converte em energia, fusão sólida e nuclear”, contou Caroline em entrevista ao site Confidentials Manchester.

“Eu estava comprando muita cerâmica, talheres, arrumando a mesa, e só pensei, quer saber? É isso que eu quero fazer para viver. Eu tinha quase 30 anos naquela época. Concentrei meus 20 anos em uma carreira acadêmica. Pensei: vou concentrar meus 30 anos em ser chef”, afirmou.

Enquanto estava em Austin, no Texas, como pesquisadora, Caroline percebeu que gostava mais de voltar para casa e cozinhar para os amigos do que dedicar-se à física de plasma.

“Eu planejava coisas saborosas para cozinhá-los. Depois de dois anos percebi que comida era o que eu realmente amava e que deveria seguir meus sonhos”, disse a chef para a revista inglesa Women in the Food Industry – Mulheres na Indústria de Alimentação, na tradução livre.

MASTERCHEF

De volta ao Brasil, ela ouviu de amigos durante um churrasco que deveria se candidatar ao programa ‘MasterChef Brasil’, da TV Band. O prêmio era o que ela mais almejava: uma bolsa de estudos na Le Cordon Bleu, a mais prestigiosa escola de gastronomia francesa do mundo.

Caroline gravou um vídeo fazendo receitas e foi convidada a participar do programa em 2017, mas acabou tendo uma experiência negativa com os jurados – Erick Jacquin, Paola Carosella e Henrique Fogaça.

Caroline manteve uma postura polêmica na competição, discutiu diversas vezes com os apresentadores e até sugeriu que o programa tivesse um roteiro combinado. Tornou-se uma das mais icônicas participantes do reality show e fez uma imensa base de fãs pelo país.

“Tudo o que eu acho que está gostoso, chega lá [na hora da avaliação] e está ruim. O único que eu achei que não estava bom era o lámen e, na hora da avaliação, os chefs acharam gostoso. Então, não sei. Ou eu não sei cozinhar ou eu não sei comer”, disse ela na época da desclassificação do programa.

Ela contou que ouviu de um dos jurados que o sonho de estudar na maior escola de gastronomia do mundo havia acabado. Ledo engano.

Caroline aproveitou a experiência, juntou as economias que tinha e se mudou para Londres, na Inglaterra, e pagou para estudar no Le Cordon Bleu britânico, um dos mais prestigiados e concorridos da Europa.

INTENSIVO

Ela fez o curso intensivo que condensa dois anos em seis meses. Aulas de segunda a sábado, das 7h às 23h. Os domingos eram reservados para a folga e as lições de casa.

“Minha vida era apenas estar na escola, mas eu adorava”, contou Caroline, que dividiu um dormitório com 10 pessoas e apenas um banheiro. “Eu tinha que acordar às cinco horas só para tomar banho”.

A brasileira contou que o período na Le Cordon Bleu foi de intenso aprendizado, com os alunos sendo rigorosamente analisados pelos chefs professores, que demonstravam, todas as manhãs, um prato que deveria ser recriado pelos alunos.

Os candidatos a chef eram julgados pela higiene, trabalho em equipe, sabor e apresentação. O rigor faz com que muita gente fique pelo caminho, com desistências e reprovações.

“No início foi um choque, mas a intensidade me ajudou a ficar bem preparada para o mundo da cozinha profissional”, afirmou.

Depois do curso, Caroline foi para a Itália adquirir experiência em uma cozinha com estrela Michelin (nível de excelência culinária) e aprimorar seu terceiro idioma, o italiano. Enviou um email a todos os restaurantes Michelin na Itália oferecendo-se para trabalhar por seis meses com alojamento e alimentação. Trabalhou num renomado restaurante em um hotel na fronteira com a Áustria.

COMIDA BRASILEIRA

De volta a Londres, ela passou algum tempo em vários restaurantes com estrelas Michelin, como Kitchen Table e Galvin La Chapelle. Também percebeu uma lacuna no mercado: não havia restaurantes brasileiros em Londres, com exceção de churrascarias.

“Pensei em fazer pop-ups [restaurantes momentâneos] com minha ideia do que é comida brasileira e transformá-la em uma experiência gastronômica requintada para meu convidado”, contou.

A ideia seria um sucesso, mas não em Londres. Aconselhada por amigos ingleses, ela resolveu levar o projeto para Manchester, cidade na região noroeste da Inglaterra.

Mudou-se no começo de 2020 bem quando a pandemia obrigou o fechamento de restaurantes. Então, ela trabalhou como chef particular para várias figuras públicas, incluindo jogadores de futebol. Em 2022 e 2023, Caroline apareceu no Great British Menu da BBC, uma das mais famosas competições de gastronomia da Inglaterra.

Entre janeiro e outubro de 2022, Caroline levou seu projeto ‘São Paulo’ para residência no Blossom Street Social, no badalado bairro de Ancoats, em Manchester. O cardápio da brasileira fez sucesso por lá e ela continua oferecendo seus dotes culinários no espaço.

Recebendo críticas favoráveis dos clientes e da mídia, o ‘São Paulo’ de Caroline foi nomeado como ‘PopUp do Ano’ pelo prestigiado Manchester Food and Drink Festival Awards. Ela também foi indicada como ‘Chef do Ano’, ao lado dos melhores chefs da cidade.

SAMPA

Com o crescimento da demanda pela fusão da culinária brasileira com a britânica, Caroline criou o Sampa, que foca em pratos pensados para serem compartilhados. Ela agora projeta abrir em 2023 o seu restaurante ‘São Paulo by Caroline Martins’,que será um pequeno restaurante fino, com menu degustação e cardápio de petiscos.

Caroline apresentará ingredientes e técnicas exóticas brasileiras e dará um toque moderno aos pratos encontrados nos 26 estados do Brasil, além de misturá-los a ingredientes utilizados no Reino Unido.

Para quem superou os desafios científicos do ITA – uma das escolas mais disputadas do Brasil –, foi quase ‘expulsa’ do MasterChef, venceu o rigor da Le Cordon Bleu e tornou-se chef de referência na Inglaterra, abrir o próprio bistrô é realizar o maior sonho da vida. Tão quente quanto o plasma do Sol.