Faz pouco mais de duas semanas, tive uma reunião emblemática com um cliente daqueles que despertam carinho em nós. A reunião era para tratar de um assunto dolorido, porém certo: a sua sucessão patrimonial.
Este senhor trouxe, muito bem-organizados em uma pasta, documentos detalhando todo seu patrimônio. Imóveis, investimentos, financiamentos (muito pequenos). Eu fiquei impressionado com a clareza que ele tem sobre tudo que possui.
A conversa se desenvolveu de uma maneira suave e tranquila. O entendimento dele acerca da inevitabilidade da transmissão de seu patrimônio permeou a reunião com uma paz de concorrer com monges budistas.
Pouco mais de 50 minutos adentro, resolvi que era hora de buscar mais um cafezinho para nós. Saí da sala por cerca de 3 minutos enquanto providenciava o café. Ao voltar, encontrei-o com os olhos marejados, tentando disfarçar a emoção.
Naqueles poucos minutos de silêncio, ele pôde desacelerar e compreender o que estávamos fazendo ali. O som dos carros e o constante ruído de aviões sobrevoando o prédio onde trabalho em uma famosa e movimentada avenida de São Paulo silenciaram e ele vislumbrou o futuro de seus amados, onde ele estaria ausente.
Percebi o que se passava em sua cabeça e busquei confortá-lo com um viés profissional:
- “Você está vendo os frutos de uma vida de muito trabalho e realizações. Nossa missão agora é deixá-lo tranquilo, aproveitando o que construiu e com a certeza de que, quando chegar a hora, seus amados poderão acessar o que lhes é de direito, sem o risco de que isso estacione nas mãos do Governo. Deixar o trabalho de uma vida à mercê do Governo seria um real desperdício.”.
- “É fato, você tem razão, Filipe. Obrigado.”.
A reunião se encerrou pouco depois do café que busquei. Ele deu uma aula de desprendimento material e entendimento da vida, mal sabe ele que fui eu quem aprendeu alguma coisa ali.