Tenho respeito por Emanuel Fernandes, Eduardo Cury, Izaias Santana e Marco Soliva como políticos. Dito isso, o "Manifesto" lançado por eles em São José dos Campos, na semana passada, ficou muito aquém do esperado.
Falo isso com aperto no coração, pois assisti ao nascimento dele, nas "aulas" de política dadas por Emanuel na Praça do Sol, no coração da Vila Adyana. Frente aos partidos políticos transformados em guichês de negócio, à política S.A., discutir política na praça pública era como uma lufada de vento fresco em um cenário viciado. Mas o "Manifesto", como resultado disso tudo, é pífio.
O documento, batizado de "Política por gente que Vale", é uma carta de princípios bem "água com açúcar", que, em 10 tópicos, não avança além do óbvio. É importante ética na política? Claro. É importante valorizar o grupo? Claro. É importante boa gestão e bem-estar social? Claro. Ué, alguém discorda desse conjunto de ideias?
Mais do que isso, o documento, que se anuncia suprapartidário, não avança.
No texto, não há um diagnóstico claro do cenário atual. Afinal, se é para mudar, o que, de prático, não está bom? Não há tão pouco propostas práticas, cotidianas, para áreas cidadãs, como Saúde, Educação, Transportes, Habitação, Qualidade de Vida. Sem isso, o texto fica insosso, escrito com luvas de pelica, distante do dia a dia das pessoas. Na "fila do pão", que interesse ele tem? Hermético, o texto parece ter sido escrito para iniciados.
A palavra "manifesto" exige mais que mero blá-blá-blá, palavras, vírgulas e pontos alinhados em um papel. Do "Manifesto Antropofágico" de Oswald Andrade ao "Manifesto SCUM", do Movimento Feminista, a palavra "manifesto" remete a mudanças, novas ideias, novas fronteiras. "Manifesto" requer ousadia, tem que se direto e reto, exige atitude. Em 1845, Marx e Engles lançaram o "Manifesto Comunista" que, certo ou errado, reflete no mundo até hoje. Nele, Marx, a meu ver melhor frasista que teórico, cunhou máximas que resistem aos tempos. "Tudo o que é sólido desmancha no ar", é uma dela. Outra? "Trabalhadores do mundo, uni-vos!". Essa é repetida pela esquerda, até hoje, nos quatro cantos da Terra. Que frase fica do "Manifesto" de Emanuel e Cury? À minha mente vem uma frase que não está lá, mas, sim, no "Manifesto" de Marx e Engels, de 178 anos atrás: "A história se repete; a primeira vez como tragédia, e a segunda como farsa". Em 1992, Emanuel, Juana Blanco e um grupo de jovens neófitos na política se lançaram em uma jornada que mudaria São José dos Campos para melhor. Hoje, 32 anos depois, falta, a essa nova jornada, o frescor do desafio, o prumo de novas ideias.
Escrito com freio de mão puxado, o "Manifesto" de Emanuel e Cury não vai, na minha opinião, além de uma carta de navegação sem norte definido. Não é, mas soa como um chororô dos que ficaram de fora do baile. É uma pena, São José dos Campos merece um debate político melhor. Mas ainda não foi desta vez...