16 de julho de 2024
ARTIGO

Quantas estações espaciais existem?


| Tempo de leitura: 8 min
Créditos: Nasa

Você sabia que existem seres humanos vivendo fora do planeta Terra? Pois saibam que desde a década de 80 existem seres humanos vivendo fora do planeta Terra nas estações espaciais. Mas afinal, quantas estações espaciais existem? Para que foram feitas?

Depois do final da missão Apollo XVII que levou o homem à Lua pela quinta vez, os países que almejavam o domínio do espaço iniciaram outra grande aventura, a criação de uma moradia permanente para o ser humano no espaço. No entanto, ir e voltar da Lua envolviam recursos elevados e muita tecnologia precisaria avançar para que isso se tornasse de fato viável. Dessa forma, a criação de uma base intermediária que serviria de porta para o espaço, que ficasse aqui mais próximo da Terra, que pudesse ser acessada com uma frequência maior e ao mesmo tempo oferecer a possibilidade de desenvolver estudos em ambiente de microgravidade passou a ser de interesse mundial.

Apesar de colocar o primeiro satélite artificial, o Sputnik, e o primeiro homem no espaço, Yuri Gagarin, a União Soviética havia perdido a batalha na chegada do homem a Lua. Sem medir esforços, eles iniciaram a primeira construção do que seria hoje conhecido como estação espacial. Mas o que seria uma estação espacial?

Estação espacial é o nome dado para uma estrutura artificial colocada em órbita que tenha capacidade de manter condições adequadas para atividade humana por um período estendido. As estações espaciais possuem suprimentos de energia e controles ambientais que garantem a sobrevivência de um ser humano no espaço. Geralmente possuem capacidade de coleta de energia solar e armazenamento dessa energia, controle de temperatura, pressão e gases como oxigênio e remoção de gás carbônico, armazenamento de água, redução de riscos de exposição a radiação solar e cósmica entre outros requisitos importantes para a vida. A propósito, as estações são lançadas vazias e somente depois a tripulação que vai habitá-la segue em voo para assim adentrar seu interior.

A primeira estação espacial a ser criada pela União Soviética foi a Salyut-1. Essa estação foi lançada em 19 de abril de 1971 e ficou em operação até 11 de outubro desse mesmo ano. Apesar desse tempo todo no espaço, ela foi habitada por apenas 23 dias. O veículo espacial da missão é o famoso Soyuz desenvolvido na União Soviética. A estação estava adaptada para acoplar com esse veículo e foi um sucesso por esse período. Nessa estação foram colocados experimentos científicos e militares soviéticos.  Infelizmente, os três tripulantes dessa missão não sobreviveram no retorno a Terra devido a um problema no projeto dos trajes espaciais que não contavam com suporte respiratório independente. Após isso, a estação ficou abandonada. Ainda assim a União Soviética tentou colocar uma nova estação espacial no espaço logo no ano seguinte de 1972, a Salyut-2, que explodiu em órbita nunca tendo sido habitada. O projeto Cosmos-557, de uma estação espacial puramente científica também foi frustrado apresentando mal funcionamento assim que atingiu a órbita.

Em paralelo, na mesma época, os Estados Unidos fizeram a primeira estação espacial que recebeu o nome de Skylab. A Skylab permaneceu ativa por um longo período sendo utilizada principalmente para realizar experimentos relacionado ao Sol e estudos que envolviam biomedicina visando identificar os efeitos potenciais da microgravidade. Durante esse período ela foi habitada por 171 dias e recebeu 3 missões tripuladas.

Após isso, mais 3 estações nomeadas Salyut-3(1974), Salyut-4(1974) e Salyut-5(1976) foram colocadas em órbita sendo duas delas militares e uma com objetivos apenas científicos. Em especial a Salyut-4 que tinha objetivos científicos permaneceu ocupada por 93 dias recebendo duas missões tripuladas. Todas as estações espaciais acima, após inutilizadas sofreram reentrada na atmosfera.

A estação espacial Salyut-6 foi lançada em Setembro de 1977 pela União Soviética e marcou uma nova etapa na corrida espacial. O início de cooperação internacional garantiu que ela recebesse visitantes de diferentes nações e experimentos científicos foram realizados ao longo de seis missões tripuladas em cerca de 684 dias no espaço. O maior avanço nessa missão foi o designer que permitiu o acoplamento de mais que um veículo, facilitando assim o reabastecimento mesmo quando a tripulação ainda estivesse alocada nela. A Salyut-7 foi para o espaço em 1982, porém ela apresentou diversos problemas. Uma missão impressionante de resgate foi elaborada após uma pane na comunicação entre a estação e a operação em solo. Ela esteve no espaço por 815 dias encerrando assim a geração Salyut e dando início a um novo molde de estação espacial modular.

Em 1986, no período que antecedeu a dissolução da União Soviética a MIR foi colocada em órbita e permaneceu ativa mesmo durante a consolidação da Rússia como sua proprietária. Durante esse período a MIR, que foi elaborada a partir do aprendizado obtido com as Salyut, veio com o conceito de ser modular, ou seja, vários módulos seriam acoplados a ela aumentando assim aos poucos suas funções. Primeiramente o módulo de habitação da tripulação seguido por telescópios espaciais, aumento da capacidade de armazenamento de ar, laboratório de processamento de materiais em microgravidade, módulos para receber pesquisas da NASA e sensores espaciais apontados para a Terra.  A MIR recebeu mais do que 100 pessoas de 12 países diferentes durante todo seu tempo de vida. Em 2001 depois de cumprir sua missão, ela reentrou na atmosfera terrestre completando mais tempo do que o previsto no espaço. Por ter grande dimensão, sua reentrada foi controlada para que objetos que não fossem queimados na atmosfera caíssem em área segura no Oceano Pacífico.

E desde então, um consórcio entre os Estados Unidos e a Rússia trouxe a vida a famosa Estação Espacial Internacional, ou ISS (sigla inglesa para International Space Station). O conceito modular foi mantido e aos poucos vários módulos foram acoplados trazendo uma variedade enorme de experimentos possíveis de serem realizados no espaço. Desde Novembro de 2000 ela sempre esteve ocupada. Cerca de sete pessoas vivem na estação espacial, trabalhando e garantindo seu funcionamento. Ao longo do tempo, a tripulação vai trocando, mas nunca sem deixar a estação vazia. Os módulos principais foram montados em pelo menos 42 viagens feitas tanto pelos Estados Unidos quanto pela Rússia. Hoje em dia a parceria foi estendida para mais do que 15 países e diversos astronautas já visitaram essa estação sendo, inclusive, um deles o brasileiro Marcos Pontes.

Quatro veículos espaciais vem sendo responsáveis por entregar suprimentos e equipamentos ao longo do tempo. Sua trajetória está em baixa órbita garantindo que realize 16 voltas em torno da Terra em 24 horas, o que faz com que seus tripulantes tenham, nesse período, 16 nascer e pôr do sol. O tempo que levamos, a partir da Terra, para chegar na estação espacial é de 4 horas e saindo da estação poderíamos ir a voltar da Lua em apenas um dia. Possui um sistema robótico do tipo braço que serve de apoio ao lançamento de experimentos científicos, caminhadas espaciais e a movimentação de módulos. Milhares de pesquisas já foram realizadas e pelo menos 20 experimentos são conduzidos simultaneamente do lado de fora dessa estação. Para garantir seu funcionamento, cerca de 350 mil sensores estão espalhados em cerca de 109 metros de extensão total da estação. Em outro artigo podemos detalhar mais a estação espacial e seus experimentos.

Outro país a desenvolver uma estação espacial foi a China. A Tiangong-1, nome dado a primeira estação espacial chinesa, colocada no espaço em 20 de setembro de 2011. A sua capacidade era limitada quanto ao número de tripulantes possíveis e ao tempo de permanência. Ela deixou de funcionar em 2016 e permaneceu em órbita baixa até 2 de Abril de 2018 quando sofreu a reentrada na atmosfera.

Ainda em 2016 a China colocou em órbita a Tiangong-2, sua segunda estação espacial que ainda também sofreu reentrada em 2019. Ambos os projetos serviram para a construção do projeto permanente da Tiangong que agora está oficialmente habitada de forma permanente sempre por, pelo menos, 3 taiconautas (astronautas chineses). Ela foi lançada em 29 de abril de 2021 e posteriormente foram acoplados novos módulos em 24 de julho de 2022 e 31 de outubro de 2022. Os nomes escolhidos para a missão (Tiagong significa Palácio Espacial) fazem parte do projeto chines de envolver a nação em uma espécie de orgulho nacional. Cada módulo projetado visa associar um sentimento coletivo da nação chinesa. Esse foi o caso do veículo de transporte de cargas Tianzhou, que significa Navio Celestial, assim como dos módulos Tianhe, Wentian e Mengtian que significam Harmonia dos Céus, Busca pelo Céus e Sonhando com os Céus, respectivamente. É esperado ainda o acoplamento de mais um módulo com um telescópio espacial em 2024 que chamará Xuntian, cujo significado é Viajando pelos Céus.

Como vimos, existiram e existem mais estações espaciais do que estamos acostumados a ouvir falar. Espero que tenha despertado em vocês a curiosidade para investigar mais sobre essas maravilhas modernas da exploração espacial e aos poucos podemos detalhar algumas delas caso seja de nosso interesse.

Como sugestão de filme tem o “Salyut-7” disponível no Youtube entre outras plataformas. Esse filme adaptado do caso real e fala sobre a recuperação da estação após a pane na comunicação. Sugiro também o documentário “De Volta ao Espaço” que está na Netflix apresentado sobre o ponto de vista do empresário Elon Musk e seus engenheiros da Space-X que se tornaram um veículo oficial de transporte para a estação espacial.

Quer saber mais sobre o assunto acima? Visite o canal MaisQueRaios no Youtube e @maisqueraios no Instagram. Um agradecimento especial ao jornal O Vale por nos apoiar para que esse conteúdo chegue a mais pessoas.